INTRODUÇÃO: A placenta humana é considerada um órgão fetomaterno, pois se desenvolve apenas durante a gestação num trabalho conjunto entre mãe e bebê e é expulsa após o nascimento. Tem função mediadora entre o corpo materno e o corpo fetal, responsável pela transferência de gases para o feto, papel desempenhado pelos pulmões ao nascimento. Atua também, realizando a excreção, o balanço hídrico e a manutenção fisiológica do pH fetal. Tem função endócrina, secretando os hormônios proteicos como a gonadotrofina coriônica (hCG) e esteroides como a progesterona, estradiol, estrona e estriol (CHAVES, et al., 2009). A placenta se compõe por uma porção materna e uma porção fetal, a parte fetal é coberta pelo córion e pelo âmnio, os mesmos tecidos que compõem a membrana aminiótica, e é de onde se ramificam os vasos do cordão umbilical que ligam o feto e a porção materna que fica conectada ao útero (WILLIAMS, 2011). É notório que a placenta exerce diversas funções fisiológicas durante a gestação, mas o que é unânime entre as culturas é o seu valor simbólico e os mistérios que permeiam esse órgão (GENNEP, 2011). Em citações ao longo da história e em diversas culturas a placenta é mencionada como "Árvore da vida", "pão da mãe" e "irmã ou irmão do recém-nascido", inclusive, acreditava-se que parte da alma da criança permanece ligada à placenta após o nascimento. Dessa forma, o design único de cada placenta pode ser registrado no papel, o carimbo da placenta, criando uma linda memória em forma de arte e eternizando aquela que é considerada pelos nossos ancestrais como o fio condutor, a conexão física entre mãe e bebê durante toda a gestação. OBJETIVO: Relatar a experiência de residentes de enfermagem obstétrica acerca da confecção do carimbo da placenta em uma maternidade de alto risco. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência realizado por seis residentes, do primeiro ano de enfermagem obstétrica do programa de residência uniprofissional da Universidade Federal do Ceará. Experiência realizada durante os meses de janeiro a março de 2019 no centro obstétrico de uma maternidade escola de Fortaleza-Ce, referência em atendimento de gestantes de alto risco e reconhecida como instituição participante da iniciativa hospital amigo da criança, que visa realizar assistência, ensino e pesquisa para o cuidado com excelência à saúde da mulher e do recém-nascido. Para realização do carimbo da placenta as residentes de enfermagem obstétrica dispõem dos seguintes materiais: gazes, tinta guache, pincel, papel ofício A4. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para realização do carimbo da placenta inicialmente é orientado a mãe e a família sobre o que se trata, como é realizado e o seu significado simbólico, após o consentimento é solicitado a mãe que escolha as cores de sua preferência para realização da pintura. Na primeira etapa a placenta é disposta na bancada com sua face fetal voltada para cima e é retirado o excesso de sangue com gazes, em seguida era realizado a pintura do cordão umbilical e dos vasos e com outra cor é realizado a pintura de toda a parte fetal. Na etapa posterior o papel ofício é posicionado sobre a placenta pintada e feito uma leve pressão no papel ofício contra a placenta. Aguarda-se um minuto para sua retirada, com cuidado para não manchar as outras partes do papel. Posteriormente a secagem da pintura as residentes deixavam mensagens de carinho e dados relacionados ao nascimento do bebê. Um estudo qualitativo realizado no Rio Grande do Sul evidenciou que para algumas famílias, a placenta demonstrou não ter um significado especial, enquanto para outras houve interesse em desenvolver rituais específicos, como por exemplo o carimbo da placenta (PRATES, et al., 2018). CONCLUSÃO: Esta foi uma experiência impar para as residentes de enfermagem, por meio dessa experiência foi possível compreender, que apesar de atuarmos em um ambiente intrahospitalar e por diversas vezes a placenta ser considerada como lixo hospitalar, os profissionais de saúde precisam entender e respeitar que segundo a Organização Mundial de Saúde para o nascimento a placenta pertence as mulheres e elas têm o direito de dar o destino que desejarem para a mesma.
REFERÊNCIAS
CHAVES, L.F.M; CHAVES, I.M.M; BONIN, H.B; GOMES, T.V. Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto. Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S15-S23
GENNEP, A.V. Os ritos de passagem. 2. ed., Trad. Mariano Ferreira. Petrópolis: Vozes, 2011.
PRATES, L.A; TIMM, M.S; WILHELM, L.A; CREMONESE, L; OLIVEIRA, G; SCHIMITH, M.D; et al. Natural nascer em casa: rituais de cuidado para o parto domiciliar. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018;71(suppl 3):1324-34
GINECOLOGIA DE WILLIAMS. Porto Alegre: Mc Graw Hill, Artmed, 2011.