INTRODUÇÃO
Quando estudante do Curso de Graduação em Enfermagem ocorreu o primeiro contato com a Fenomenologia como estratégia de pesquisa que contribui para o cuidado de enfermagem, por favorecer a compreensão dos fenômenos existenciais das pessoas cuidadas. Tal perspectiva instigou a busca por mais conhecer este caminho de investigação, suscitando vários questionamentos acerca de sua aplicabilidade no cotidiano do cuidado de enfermagem. De princípio, o conteúdo teórico parece denso e leva à necessidade de repetição de leituras, talvez devido à frágil formação quanto à filosofia.
A fenomenologia envolve questões abrangentes da realidade, buscando a compreensão das experiências humanas. É uma teoria na qual busca entender a essência do fenômeno ocorrido. Esse tipo de movimento teórico metodológico é adequado para aprofundamento dos complexos fatos e processos experimentados pelo indivíduo (ROSSI, 2015).
Portanto, diante da instigação provocada, paulatinamente, leituras e apoio de estudo em grupo, passou a viabilizar a aplicabilidade desta filosofia no campo de atuação da Enfermagem, mas especificamente a partir do pensamento fenomenológico de Martin Heidegger, onde agora me debruçarei na minha nova trajetória de pesquisa na Pós Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde.
OBJETIVO
Relatar a experiência de uma enfermeira com o estudo da fenomenologia de Martin Heidegger e sua contribuição para o cuidado clínico em Enfermagem.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caráter qualitativo, do tipo relato de experiência que descreve aspectos vivenciados na construção do caminho de pesquisa em enfermagem levando à reflexão sobre a implicação da filosofia no campo do cuidado de enfermagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fenomenologia surge no século XX, como uma corrente filosófica na Alemanha com Edmund Husserl. Essa ótica teórica estuda as essências e é uma filosofia do conhecimento e um método de investigação. Entre seus autores, destaca-se Martin Heidegger, filósofo alemão, doutor em filosofia, cuja principal obra é o livro Ser e tempo.
O pensamento heideggeriano é a filosofia do Ser, denominada de ontologia existencial (HEIDEGGER, 2012). Para o filósofo, existir é estar em relação consigo, com os outros e com as coisas no mundo. Para Heidegger (2011), o mundo do homem não se restringe ao espaço geográfico, mas à construção humana vivida junto com outros em uma rede de relações significativas. Ser-com-os-outros é uma constituição fundamental do existir.
No âmbito da Enfermagem, o estudo da fenomenologia heideggeriana possibilita desvelar questões suscitadas pelo ser e, com isso, compreender os sentidos e significados que o homem dá ao fenômeno apresentado. Assim, a fenomenologia torna-se um caminho para vislumbrar a construção de um cuidado clínico para além da técnica.
Para Amorim et al (2015), considerar as facetas que o indivíduo traz em seu discurso no encontro profissional/paciente, torna o momento do cuidado único, existencial e permeado de subjetividade, promovendo saúde. Com isso, o enfermeiro viabiliza a autenticidade do ser-com-os-outros na sua própria terapêutica, reconhecendo o protagonismo do indivíduo e dando a ele a oportunidade de escolha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O enfermeiro tem a oportunidade de cuidar de pessoas em vários momentos em sua vida. De forma sistematizada, busca modos de cuidado. Compreender o ser humano sob a ótica da fenomenologia existencial amplia as dimensões do cuidado de enfermagem nos diversos cenários. É desafiador aplicar a filosofia fenomenológica no campo de atuação da Enfermagem, entretanto é reconhecida importância no contexto da compreensão do vivido pelo homem para o cuidado. Tal filosofia pode orientar o enfermeiro a compreender o humano, considerar sua subjetividade, valorizando e considerando os seus modos de cuidar.
REFERÊNCIAS
AMORIM T.V. et al. Temporalidade da mulher após cirurgia cardíaca: contribuições para o cuidado de enfermagem. Rev Bras Enferm. Nov-dez;68(6):105; 2015
HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcanti Schuback. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco; 2011.
HEIDEGGER, M. Ontologia: hermenêutica da facticidade. Tradução de Renato Kirchner. Petrópolis, RJ: Vozes; 2012.
ROSSI, A. C. Razões e desrazões do coração: visões e significados acerca do transplante do coração a partir de narrativas orais de uma equipe interdisciplinar de saúde. 2015. 177 f. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2015.