A primeira metade dos anos 1960 foi marcada na história da população rural nordestina pelo advento das ligas camponesas, movimento social que reivindicava direitos sociais, culturais, civis e políticos para os trabalhadores e as trabalhadoras do mundo rural. O objetivo desse texto foi discutir como, em meio aos conflitos entre camponeses e latifundiários, ideias, valores, instituições e práticas democráticas e autoritárias estavam sendo barganhadas, as quais corroboraram na construção de parte do cenário civil no qual o golpe de 1964 se ancorou. Com essa finalidade, foram perscrutados folhetos, periódicos, livros de memória e relatos orais. A pesquisa se ancorou no conceito de experiência, discutido por Edward Palmer Thompson (2011[1963]), mas também nas lutas de representação, na forma como conceituou Roger Chartier (2005[1985]). Ao termo dessa pesquisa, foi possível flagrar a constituição de um movimento civil autoritário entre os latifundiários da várzea açucareira, o qual compôs o cenário de mudanças que conferiu espaço político para o golpe de 1964.