A história do tempo presente permite incluir no conflito gerador do golpe de Estado, dimensões singulares das elites políticas brasileiras: o acesso ao ensino superior e o trabalho doméstico, cuja intromissão do Estado (e da gestora pública), causou ódio racial e ódio de classe, que se verbalizaram nas principais cidades brasileiras no primeiro semestre de 2016: "Dilma jogou o mérito no lixo" e "Dilma invadiu a minha casa". Afinal, aprendemos com as teorias feministas que o privado é público e o pessoal é político. As questões que inspiram esse trabalho são devedoras dessas leituras e buscam explicitar os epifenômenos do golpe: o racismo de classe, a misoginia e o desprezo aos direitos humanos. As coisas aconteciam num frenesi temporal que o tempo presente forçava um olhar pelo retrovisor, adensado nas culturas políticas de longa duração. Desviar-se dos fatos para que possam ser observados é perspectiva analítica e, nesse caso, os dois fatos jurídico-políticos ainda não foram suficientemente valorizados pelos analistas do golpe. Então, a opção metodológica foi considerar a narrativa dos golpistas para situá-la na violência simbólica da luta de classes.