ST 04 - A TV E A “CORROSÃO DOS VALORES”: A CENSURA DAS TELENOVELAS NA DÉCADA DE 1970.

THIAGO DE SALES SILVA

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

A presente pesquisa se propõe a investigar a ditadura militar brasileira sob o viés da censura à televisão, analisando os processos de censura de telenovelas produzidas na década de 1970. É nesse período em que o Estado passa a investir acentuadamente na construção e solidificação da indústria cultural do país, apostando no processo de integração nacional através, dentre outras coisas, da popularização dos veículos televisivos. Por outro lado, a constituição do aparato censório integra o conjunto de ações repressivas que deram sustentação ao funcionamento do regime, tornando as programações da TV objetos privilegiados de intervenção. Nessa medida, entender o papel da televisão ao longo dos anos do regime, bem como seu alcance ao público e as novas formas de difusão da informação que ela instituiu foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho. Discutimos, portanto, a natureza conservadora desta modernização através da censura às telenovelas, programa que se torna uma das produções mais lucrativas e renomadas da TV desde então. Com narrativas centradas no cotidiano do brasileiro de diferentes classes sociais, as telenovelas se caracterizam por seu aspecto realista, tocando em temas facilmente assimiláveis por suas audiências, tais como crises familiares, a vida nas grandes cidades, as desigualdades sociais etc. Dialogando com seu próprio tempo, essas produções podem ser encaradas como formas de interpretação do país, acompanhando suas transformações em âmbitos diversos. Desse modo, procuraremos compreender, a partir dos documentos produzidos pelo órgão de censura da ditadura, a Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP), como o gênero passa a ser objeto de constante vigilância, controle, delimitação, normalização e regulação por parte do regime militar. Mais do que simplesmente inventariar vetos ou cenas e diálogos que passaram pelo crivo do órgão, pretendemos entender como o poder se exercia efetivamente sobre o gênero, entendido aqui como o conjunto de condutas, gestos e comportamentos ligados à expressão sempre fluida de identidades performativamente constituídas. Para este trabalho, foram analisados quatro processos específicos, referentes a distintas produções, tais como "Selva de Pedra" (1972), "O Rebu" (1974), "Gabriela Cravo e Canela" (1975) e "Roque Santeiro" (1975). Nesse sentido, buscamos compreender de que modo se delineiam, no âmbito censório, determinadas representações sociais em torno das relações de gênero, reiteradamente consideradas subversivas e problemáticas para o projeto político de poder instalado pós-64.