O presente artigo aborda de que maneira e para quais finalidades, foram criados os heróis fundadores da historiografia do Sertão Central cearense, especificamente nas cidades de Quixadá e Quixeramobim. Analisou-se dois livros de dois memorialistas bastante difundidos nas cidades: "Retalhos da história de Quixadá" (2002), de João Eudes Costa, e "Quixeramobim recompondo a história" (1996), de Marum Simão. Foi possível observar que a fabricação dos heróis ditos "fundadores" e "pioneiros" nos dois municípios, esteve intimamente ligada à tradição historiográfica do Instituto Histórico do Ceará, o qual prezava pelas grandes narrativas épicas e os grandes homens. Adotando um discurso em que o europeu seria o "desbravador cristão" que trazia a civilização à uma terra bárbara, esses intelectuais produziram uma historiografia que reclama bases europeias para si, deixando os nativos de lado enquanto sujeitos historicamente ativos. Antes, foram vistos como empecilhos ao "progresso" e ao avanço do heróis europeu. A instituição de ditas "famílias pioneiras" também esteve ligada à interesses de legitimação da parte daqueles que escreveram a história, tendo em vista serem os escritores membros desses núcleos familiares. Atrelado à isso, a produção desses discursos também teve forte motivação identitária, onde foi possível perceber o apelo do que seria a identidade quixeramobiense e quixadaense a partir do que já se descreveu acima.