Estética e Política no filme histórico Edvard Munch (1974), de Peter Watkins
Antonio André de Morais Neto
Email: andreoasis@gmail.com
Simpósio Temático 1 - História Política, História das Ideias e Meios de Comunicação
O trabalho trata de questões pertinentes ao filme feito para televisão norueguesa Edvard Munch (1974) do diretor britânico Peter Watkins, cuja produção em geral transita entre os gêneros documentário e ficção, filmes distópicos e históricos, com produção e circulação nos meios televisivos e cinematográficos. O diretor tem uma trajetória marcada por censuras, auto-exílios e dificuldades de ter seus filmes postos em circulação.
Este filme narra dez anos da trajetória do pintor norueguês Edvard Munch, dando a ver as diversas relações que o fizeram enquanto sujeito: sua família autoritária e religiosa, os cícrulos boêmios de inspiração anarquista que frequentou, suas relações com os pintores realistas e as vanguardas modernas, suas relações com as mulheres, sua relação com seu passado traumático através da memória, seus momentos íntimos de criação.
O filme transita entre o documentário e a ficção. É filmado na forma documentária, mas há nele diversos dispositivos de "estranhamento" cujo objetivo é levar o expectador à pensar o filme como uma construção, e não como um reflexo da realidade. São eles as "falsas entrevistas", que consistem em entrevistar personagens do filme com uma câmera de vídeo, algo obviamente inexistente no século XIX. Também são utilizados closes persistentes em que os atores olham fixamente a câmera como se a reconhecem, quebrando o ritmo do filme junto com os cortes secos entre as sequências e os flashbacks do passado rememorado.
Interessa perceber as articulações entre o estético e o político através dos quais P. W. cria o filme sobre o pintor vanguardista, mostrando como uma parcela considerável do ímpeto modernista de renovação formal tinha como objetivo uma transformação cultural e social, e não apenas a arte pela arte.
A escolha de Edvard Munch por Peter Warkins é profundamente autobiográfica. O diretor já declarou que esse é o seu filme mais pessoal. Há uma convergência entre o Munch do filme e Watkins. Munch está envolvido com círculos de questionamento social e têm uma profunda sensibilidade socialista. Watkins através dos seus "filmes-protesto" carrega uma crítica contra os meios de comunicação de massa e a qualquer forma de fascismo e autoritarismo. Munch busca questionar o status quo através das suas pinturas, gravuras e xilogravuras, enquanto Watkins o fazia através de filmes que brechtianamente se apresentavam como filmes e não como uma realidade transparente. Ambos possuíam uma prática artística que consideravam profundamente política.