O presente artigo trata do debate acerca da construção de um discurso sobre o sertanejo no Ceará no início do século XX através dos textos de Ildefonso Albano, que por meio de sua escrita engajada ora como literato ora ocupando cargos públicos, promoveu uma discussão em torno do homem do sertão e de suas necessidades. Ildefonso Albano era um dentre o grupo de intelectuais que ansiavam por inserir o Ceará na ordem moderna, tomando para si a missão de conduzir tal processo de modernização, o que fazia utilizando, principalmente, sua influência política. Assim sendo, seu discurso enquanto representante político do Ceará a respeito da problemática das secas marcaria profundamente a escrita do intelectual quando da elaboração de sua obra Jeca Tatu e Mané Xiquexique (1919) onde Ildefonso Albano criaria um personagem que, mais do que forjar a imagem do sertanejo como sujeito dotado de força e coragem, agregaria todas as características idealizadas do bom cidadão republicano. Como governador do Ceará no início da década de 1920, Ildefonso esteve envolvido também com as principais ideias que circulavam a respeito do progresso cearense, o que incluía principalmente o campo educacional. Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizamos as reflexões de Ângela de Castro Gomes e Jean François Sirinelli em torno do conceito de intelectual, considerando este enquanto produtor e disseminador de ideias e valores que nos permitem compreender de que modo a história intelectual está vinculada a uma história política, pois se pretende desenvolver uma abordagem política do letrado, sua capacidade de influência sobre a comunidade nacional e de que modo isso ocorre. A fim de dar corpo a esse debate será buscado aqui o diálogo com fontes que incluem os textos de Ildefonso Albano, relatórios de presidentes do Ceará, periódicos como a Revista da Academia Cearense de Letras e a pesquisa bibliográfica.