O trabalho procura analisar o processo de redemocratização política brasileira do final do século XX, atentando-se para a tonificação do direito à memória, com intenção de problematizar relações entre memórias do cangaço e identidades nordestinas; exame oriundo de pesquisa mais extensa, cujo objeto de estudo são as comemorações ao centenário de nascimento de Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, ocorridas na década de 1990. Considerando que comemorações possuem historicidade própria, optamos pela expansão do recorte temporal de estudo entre os anos de 1988 e 2008, período balizado pelas comemorações de morte ao cangaceiro - cinquentenário em 1988, sexagenário em 1998 e septuagenário em 2008. A proposição convém porque permite que, além de analisarmos as efemérides em atividade, compreendamos as condições que a ocasionaram, assim como as marcas que deixaram. Portanto, pretende-se mais particularmente ampliar tentativas de compreensão da conjuntura social-histórica que consubstancia tais efemérides. Para depreender a proposta, com base nos procedimentos da história da memória, analisamos ações e representações mnemônicas engendradas por diferentes sujeitos que vivenciaram as comemorações - artistas populares, cineastas, ex-cangaceiros, familiares, intelectuais, jornalistas, memorialistas e vítimas - percebendo reivindicações de fluxos temporais de rupturas e/ou permanências em sintonia com as dinâmicas do lembrar, esquecer e silenciar.