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Marighella, o candidato preferido pelos eleitores ou o candidato preferencial do PCB na Bahia?
É prática recorrente da maioria dos partidos políticos de esquerda a escolha de candidatos preferenciais para as disputas eleitorais. É para estes candidatos que o partido incentiva seus militantes a fazer campanha, contribuir financeiramente e votar, além de investir boa parte da propaganda para que estes candidatos sejam conhecido do grande público. Em geral, o processo de escolha dos candidatos preferenciais pelos dirigentes do partido tem como critério a viabilidade eleitoral e na maioria das vezes se enquadram nesse perfil os principais quadros políticos do partido, com predomínio de lideranças sindicais ou dos próprios dirigentes. Após a escolha destes candidatos, os partidos disponibilizam maior espaço nos programas de rádio e TV aos candidatos que os dirigentes acreditam ter maior possibilidade de serem eleitos.
É plausível pensar que tenha sido o Partido Comunista do Brasil (PCB) nas eleições de 1945 que tenha inaugurado e/ou disseminado esta prática no Brasil. O partido criado em 1922 esteve até 1945, com raros meses de exceção, na ilegalidade e até então não havia disputado abertamente nenhuma eleição. O PCB teve até 1945, no máximo, alguns dos seus militantes disputando eleições por outras legendas. Com o processo de abertura política iniciado no começo daquele ano e que culminou nas eleições para deputados e senadores, além de presidente, o PCB enfim pode disputar com outras legendas a preferência do eleitorado.
Ao final do pleito, o PCB elegeu em todo território nacional quatorze deputados e um senador, além do seu candidato a presidente, Yedo Fiuza, ter alcançado aproximadamente 10% dos votos. Na Bahia, o deputado eleito pelo PCB foi Carlos Marighella, membro do Comitê Nacional do partido e um dos candidatos preferenciais. Marighella saiu da Bahia em 1935 para realizar atividades do partido entre o Rio de Janeiro e São Paulo, permanecendo dez anos longe do seu estado natal e tendo ficado durante este período aproximadamente sete anos encarcerado. Nesta perspectiva é que pretendemos discutir quais os caminhos de Marighella durante a campanha eleitoral e a prática do partido na escolha dos seus candidatos preferenciais, e com isso perceber a interferência do partido frente aos seus eleitores. Para nossa análise utilizaremos prioritariamente documentos do partido que tratam do tema; o jornal comunista baiano O Momento; entrevistas realizadas pelo autor com militantes do PCB em 1945; além da bibliografia publicada sobre o PCB e Marighella.