O Cangaço foi uma modalidade peculiar de banditismo social atuante na região do Nordeste brasileiro principalmente entre meados do século XIX e início do século XX. Mesmo após a desestruturação dos cangaceiros podemos constatar a atualidade da memória do fenômeno social - há diversos bens e expressões culturais relacionadas à temática. A memória do cangaço vem se materializando em monumentos, festas, tradições, cordéis, encenações, artesanatos e costumes da região nordestina. Além disso, o historiador Durval Muniz de Albuquerque, em "A invenção do Nordeste" nos elucida que a região nordestina seria uma construção imagética-discursiva onde seus vetores sociais, históricos e culturais foram marcados por discursos estereotipados que contribuíram para formação de um ideário de Nordeste. Nessa lógica, o cangaço teria marcado o nordestino com o valor da macheza, violência e valentia. Há então, um verdadeiro campo de representações e discursos em torno do cangaço que se relacionam a uma identidade regional nordestina. É diante disso que procuramos problematizar e questionar em que medida as representações do cangaço contribuem ou não para um ideal formador da identidade cearense. Nossa metodologia analisa uma possível transformação do cangaço, com a agregação de novos sentidos e valores ao movimento. Mais do que novas interpretações, estas percepções diferenciadas são acompanhadas de novas práticas e suas apropriações se dão em diversos âmbitos. Por exemplo, a recorrente imagem do cangaço sendo retratada em artesanatos e demais suvenires presentes em diversos centros turísticos da região Nordestina. Uma das formas de compreensão dessa ressignificação da memória sobre o cangaço é analisando as práticas letradas dos estudos folclóricos de Leonardo Mota e Câmara Cascudo que, a partir de novos lugares de compreensão percebem o cangaço de uma maneira peculiar. A temática deixa de ser vista, apenas, como caso de polícia e passa a integrar assuntos da cultura popular. O estudo desses autores é essencial para o desenvolvimento da pesquisa, onde analisaremos a memória social sobre o tema percebendo impressões, apropriações e ressignificações pelo artesanato, literatura de cordel, imprensa e lugares de memória destinados à cultura popular cearense entre os anos de 1970 e 2000. Entendemos essas relações como vertentes culturais produtoras de representações por introduzirem valores, significados e ideais a um Ceará historicamente construído.