O trabalho aqui em resumo, reside na proposta da minha monografia de graduação e versa sobre os casos de defloramento que "garimpei" no Arquivo Público do Ceará entre os anos de 1935-1940. A segunda metade do século XIX para a cidade de Fortaleza representa o início de um longo, contínuo e lento processo de modernização. É nesse momento que as mulheres começam a legitimar - com mais intensidade - sua presença no espaço público, influenciadas por novas idéias e conceitos de modernidade provenientes da Europa, alterando, muitas vezes, seus comportamentos perante a sociedade. Ao analisar os casos de defloramento presentes nos processos criminais do período supracitado, nota-se que a denunciante - moça deflorada - inicialmente, cobra de seus pais certa liberdade, apoiada nos conceitos de modernidade em voga. Assim, exigia uma maior autonomia, como por exemplo, passear com seu namorado, sem que ninguém os acompanhasse.Nesses momentos de liberdade, muitas vezes, sob promessa de casamento, a moça tinha sua primeira relação sexual, que nos autos dos processos criminais e segundo a linguagem da época correspondia ao seu defloramento.Contudo, ao que parece, quando as promessas de casamento não eram cumpridas, seu discurso mudava. Agora, ela apresentava-se diante de autoridades judiciais como donzela tradicional ou moça ingenuamente seduzida e que precisava da justiça para recuperar sua honra ultrajada. Diante deste quadro, perceptível nos processos examinados, surgem alguns questionamentos: Teria mesmo, a queixosa, deixado levar-se pela sedução do rapaz e acreditando indubitavelmente em todas as suas promessas? Ou a relação foi consentida por ela levada por sentimentos amorosos e/ou ate mesmo por atração sexual? Por curiosidade ? Será que a partir das ideias ditas modernas, as mulheres 'ávidas por liberdade' perdiam sua virgindade para assim inaugurarem uma nova fase em sua vida? Se assim era, porque exigiam o casamento após o ato? Pressões familiares? Pressão da sociedade? Neste sentido, esta pesquisa analisa o perfil feminino nos atos de defloramento, não seguindo a historiografia tradicional que trata o defloramento como um crime violento contra a mulher indefesa e vítima das ações masculinas. Pretende-se compreender até que ponto não foram elas cúmplices dessas ações em muitos momentos, tentando analisar, também, o discurso masculino e das pessoas que contribuíam para a produção do processo criminal.