Jorge Luiz Ferreira Lima
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A memória do jornalista Vicente Loyola é o objeto da investigação que motivou a elaboração deste trabalho. Para tanto, iniciamos a discussão a partir da atribuição de seu nome a uma rua da cidade de Sobral/CE, chamando a atenção para a localização da mesma distante dos logradouros centrais cujos nomes pertenceram a contemporâneos do jornalista, inclusive do também jornalista Deolindo Barreto Lima. Comparando as trajetórias dos dois jornalistas, percebemos semelhanças e certo afinamento quanto às posições políticas. Levantamos a hipótese de que a diferenciação no tratamento por parte da memória estabeleceu-se a partir das circunstâncias de suas mortes: Vicente faleceu em 1919 em consequência de uma doença que o acompanhou por grande parte da vida, enquanto Deolindo teve morte espetacular - assassinado em um dia de eleição no ano de 1924, no interior do edifício da Câmara Municipal de Sobral. Após tais eventos, as memórias dos dois jornalistas passaram a ser objeto de uma batalha de discursos. Deolindo Barreto Lima passou a ser objeto de um discurso hagiográfico, sendo-lhe atribuído um estatuto em muito semelhante ao martírio em prol da imprensa. Quanto a Vicente Loyola, dois discursos passaram a disputar a hegemonia de sua memória: de um lado, o discurso de seus adversários, no qual predomina a imagem do homem doente, endividado, incapaz de sustentar dignamente sua família graças à sua teimosia em fazer do jornalismo de oposição um meio de vida; de outro, seus simpatizantes enfatizavam a figura do lutador, do homem que, apesar de seu estado de enfermidade persistente, ousou enfrentar os poderosos de seu tempo e lugar. Servem-nos de fontes as séries dos jornais "O Rebate", de Vicente Loyola, e "A Lucta", de Deolindo Barreto Lima, além do jornal "O Debate", de José Cordeiro de Andrade, todos disponíveis na página de Biblioteca Nacional na internet.