A alimentação na esfera da cultura material destaca-se como elemento essencial na estrutura da vida cotidiana. Os prazeres proporcionados pela comida e bebida compreendem vários aspectos que vão da gastronomia às peculiaridades dos gourmets, gourmands e glutões, ou ainda, revela-se em comportamentos compulsivos manifestados através da gula, do canibalismo, em suma, nos excessos. Investigamos neste artigo como a gula é apresentada no filme Estômago (2007), do diretor Marcos Jorge. Repleto de simbologias gustativas, identificamos as metáforas presentes no filme que tratam da gula associada a várias formas de desejo: a intensidade do corpo ávido por comida, o desejo do paladar, do poder, do sexo, cuja satisfação não obedece apenas ao curto trajeto que vai do prato à boca, mas se materializam em hábitos, costumes, rituais e etiquetas. Assim, o filme confirma através de fortes imagens, que a alimentação "além de uma necessidade biológica, compreende também os campos do imaginário e do simbólico, constituindo um complexo sistema de significados sociais, sexuais, éticos, estéticos, dentre outros".