A linguagem dos dias atuais requer novas perspectivas de letramento devido a um maior número de textos visuais e não-verbais a que o leitor/aprendiz está exposto. Acostumamo-nos à existência do texto com múltiplas modalidades. Entretanto, seriamos capazes de interpretar e compreender os aspectos visuais do texto criticamente? Como esses aspectos visuais, junto aos verbais auxiliam no aprendizado de língua estrangeira? Como utilizá-los de forma eficiente em favor dessa aprendizagem?
Pesquisas recentes em multimodalidade mostram que tanto na Web como nos materiais impressos, o texto tem apresentado diferentes aspectos além da escrita, devendo ser considerado sob novas perspectivas de leitura, assim também ocorre no material didático de língua inglesa. Os livros de inglês adotados nas escolas, incluindo os de nível do Ensino Médio, tentam ser atraentes aos olhos adolescentes tão acostumados aos websites, blogs, TV, outdoors, filmes, etc., fazendo-nos perguntar como os professores devem se preparar para essa nova e recente questão a cerca do letramento, o visual; e como preparar os alunos para este contexto tão imediatista e inconstante, mas de maneira responsável e construtiva em sala de aula.
Este trabalho objetiva analisar textos multimodais da publicação didática de inglês para Ensino Médio Globetrekker Expedition, livro do aluno, volume um, de Marcelo Baccarin Costa (2010) discutindo as relações entre os elementos representados no material e as atividades propostas para o aprendizado do aluno, além de demonstrar as estruturas de Representação Narrativas e Conceituais dentro da Metafunção Representacional da Gramática do Design Visual (GDV) desenvolvida por Kress e van Leeuwen (2006), uma teoria que propõe um padrão para a leitura de imagens. Para os autores, "assim como as estruturas linguísticas, as estruturas visuais apontam para certas interpretações de experiência e formas de interação social" (Kress e van Leeuwen 1996, minha tradução). Ambos discutem que os significados são culturalmente e historicamente específicos, alguns podem ser ditos tanto verbalmente quanto visualmente, outros apenas por um dos meios. E ainda que o texto apresente diferentes modos semióticos, os significados (verbais e visuais) podem ser os mesmos, porém são "realizados" de forma diferente.
Almeida (2009) argumenta que teoria da GDV "ajuda a desmitificar uma percepção generalizada das imagens enquanto meios de entretenimento desprovidos de significados ideológicos, ao propor investigá-las a partir da perspectiva crítico-social [...]". Como um todo, a GDV analisa as imagens em suas representações, suas relações de interação e como os elementos se posicionam como um todo e na maneira que são enfatizados dentro da composição da imagem. Este conjunto de análises se divide em três metafunções, a representacional, a interacional e a composicional; a primeira, utilizada para esta pesquisa, apresenta é estruturada em processos que podemos chamar de narrativos e conceituais. Estes conceitos são importantes para analisar as estruturas de representação das imagens e saber perceber as diferentes formas de representar o mundo (Petermann, 2005).
As representações narrativas apresentam seus participantes em processos de: ação, reação, verbal ou mental, representados por um vetor imaginário e são classificadas como transacionais (presença de Ator/Reator e Meta/Fenômeno) e não-transacionais (presença somente do ator). Já nas conceituais não se percebe ação, mas os participantes se apresentam em forma de classificação, estrutura ou significação, respectivamente, nos processos classificacional, analítico e simbólico. Estes processos, assim como seus participantes, serão melhor apresentados no decorrer da análise e usando a mesma tradução da nomenclatura de Kress e van Leeuwen encontrada em Almeida (2009).
O foco da pesquisa é demonstrar as estruturas de Representação Narrativas e Conceituais dentro da Metafunção Representacional. Assim, tem-se uma amostra de como as representações de mundo são construídas para a sala de aula do Ensino Médio. Por conseguinte, contribuímos para a formação dos profissionais docentes de inglês, para que ofereçam mais espaço ao letramento visual e interpretação de textos multimodais em língua estrangeira na sala de aula. O principal objetivo é discutir uma possível utilização de textos multimodais apresentados no livro didático de língua inglesa, enfocando possíveis abordagens em sala de aula.
A escolha dos textos multimodais considerou os seguintes critérios:
1. Os textos multimodais ou visuais devem estar ligados diretamente a uma das atividades do livro, seja de discussão sobre o tema da unidade, ou estar relacionado a um texto verbal, entre outros.
2. Ser um demonstrativo das estruturas de representações narrativas e/ou conceituais da Metafunção Representacional descrita na GDV.
As estruturas de representações disponíveis nos livros didáticos podem ser construídas para diferentes propósitos no ensino de línguas estrangeiras e como pode ser verificado no presente trabalho, é realizado em diferentes modos semióticos.
Globetrekker Expedition é um exemplar de materiais do nível Médio que apresentam textos com os modos verbal e visual de forma integrada, ou seja, as representações visuais são ligadas às atividades propostas de forma verbal. Apesar disso, dentro desta análise, notou-se uma tendência do modo visual estar subordinado ao verbal, seja ilustrando o texto escrito ou dando suporte ao vocabulário.
As estruturas de representações disponíveis no livro didático podem ser construídas para diferentes propósitos no ensino de línguas estrangeiras e é realizado em diferentes modos semióticos. Através da análise da metafunção Representacional da GDV é discutida a relação entre as representações visuais presentes no material e as atividades que este propõe para o aprendizado do aluno.