SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UM PACIENTE COM LÚPUS: UM RELATO DE
Maynara Joyce Torres de Andrade¹, Naftale Alves dos Santos², Mirian Moraes Feitosa¹, Amanda Teodózio Ribeiro¹.
1. Universidade Estadual do Ceará - Fortaleza
2. Universidade estadual do Ceará - Fortaleza
Maynara.joyce@hotmail.com
EIXO:II Saberes e práticas da enfermagem em diferentes contextos locais, nacionais e internacionais.
Introdução
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune sistêmica caracterizada pela produção de autoanticorpos, formação e deposição de imunocomplexos, inflamação em diversos órgãos e dano tecidual. O Lúpus talvez seja a mais distinta das doenças autoimunes, sendo riquíssima em achados clínicos e ainda pouco compreendida. As características clínicas são polimórficas, e a evolução costuma ser crônica, com períodos de atividade e remissão. As manifestações clínicas mais frequentes são lesões de pele denominadas lesões de vespertílio, ou asa de borboleta, em maçãs do rosto e dorso do nariz e as lesões discoides que são bem delimitadas e profundas; dores nas articulações e edema, principalmente nas articulações das mãos; inflamação de pleura ou pericárdio; inflamação do rim; alterações sanguíneas como diminuição dos glóbulos vermelhos (anemia), glóbulos brancos (leucopenia), linfócitos (linfopenia) ou plaquetas (plaquetopenia); inflamação de pequenos vasos (vasculites) podem causar lesões eritematosas e dolorosas em palmas da mão, planta dos pés, no palato ou nos membros; queixas de febre na ausência da infecção, emagrecimento e fraqueza são comuns quando a doença está ativa. Outras manifestações como oculares, aumento do fígado, baço e gânglios também podem ocorrer em fase ativa da doença (BRASIL, 2011). O tratamento da pessoa com LES depende do tipo de manifestação apresentada e deve, portanto, ser individualizado. Dessa forma a pessoa com LES pode necessitar de um, dois ou mais medicamentos em uma fase (ativa da doença) e, pouco ou nenhum medicamento em outras fases (não ativas ou em remissão). Além do tratamento com remédios, as pessoas com LES devem ter cuidado especiais com a saúde incluindo atenção com a alimentação, repouso adequado, evitar condições que provoquem estresse e atenção rigorosa com medidas de higiene (pelo risco potencial de infecções) (BRASIL, 2011). Logo, o tratamento é o campo onde é passível da atuação do enfermeiro mediante a Sistematização da Assistência de Enfermagem, tendo sua importância tanto no cuidado ao tratamento medicamentoso quanto no não medicamentoso, identificando as necessidades dos pacientes, as diagnosticando e intervindo de forma a compor um tratamento de qualidade. Assim, percebe-se a gravidade fisiopatológica do LES e que os enfermeiros podem exercer importante influência a partir da execução da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), garantindo que o paciente seja melhor assistido pela equipe de saúde. Este estudo tem como objetivo relatar a experiência da aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem em um paciente com Lúpus.
Metodologia
Trata-se de um relato de experiência a cerca da aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem em um paciente com Lúpus Eritematoso Sistêmico realizado na clínica médica de um hospital de grande porte no município de Fortaleza-CE. A experiência foi vivenciada por três acadêmicas de enfermagem e a professora da disciplina Semiologia, Semiotécnica e o Processo de Cuidar do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará durante os estágios curriculares durante o mês de fevereiro de 2016. Para a execução da SAE utilizou-se as terminologias de enfermagem NANDA, NIC e NOC, bem como consulta ao prontuário e exame físico.
Resultados e Discussão
A escolha desse paciente deu-se principalmente pelo vínculo criado entre o paciente, a sua família e as acadêmicas, além do interesse em seu quadro patológico, que se mostrava com uma gama de informações a serem colhidas e estudadas. Inicialmente houve uma grande dificuldade durante a execução da SAE, visto que era a primeira vez que a mesma estava sendo executada pelas acadêmicas gerando dúvidas em saber como executar aquilo que foi aprendido em sala de aula, além do nervosismo e ansiedade gerados pelo primeiro momento de estágio. A SAE consiste na organização da prática de enfermagem abrangendo também o processo de enfermagem com seus passos: o histórico, ou seja, colher informações sobre o paciente mediante o exame físico e anamnese, o diagnóstico de enfermagem onde foi utilizada como literatura base a NANDA, o planejamento, em que o enfermeiro irá julgar o procedimento mais adequado considerando a particularidade de cada cliente, os resultados, que iremos traçar metas ao que foi planejado utilizando a NOC, a intervenção em que colocaremos em prática o planejamento utilizando a NIC e por fim a evolução, em que se avalia e registra o estado geral do paciente. Para composição dos resultados foram selecionados quatro diagnósticos com seus respectivos resultados e intervenções de enfermagem, baseados na anamnese. O primeiro diagnóstico de enfermagem elencado foi o Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado à disfunção renal, visto que o paciente apresentava nefropatia como resultado da complicação do Lúpus e realizava diálise, como resultado foi o equilíbrio eletrolítico e ácido-base que deveria ser obtido por meio do controle de eletrólitos sendo realizada a monitoração da ocorrência de manifestações de desequilíbrio eletrolítico, manter registro preciso da ingestão e da eliminação e preparar o paciente para diálise. O segundo diagnóstico foi Padrão respiratório ineficaz relacionado à dor caracterizado por alterações na profundidade respiratória. O resultado obtido foi estado respiratório de ventilação sendo obtida pela monitoração respiratória, através da verificação da frequência, ritmo, profundidade e esforço nas respirações, registro dos movimentos torácicos observando a existência de simetria, uso de músculos acessórios e retrações de músculos supraclaviculares e intercostais. Outro diagnóstico identificado foi Risco de infecção relacionado a aumento da exposição ambiental a patógenos, defesas secundárias inadequadas e procedimentos invasivos, pois o próprio ambiente hospitalar é um local que abrigam patógenos que aliando-se ao quadro imunossuprimido do paciente e certos procedimentos realizados dentro desse ambiente pode levar a graves infecções. Como resultado teve-se o conhecimento através do controle de infecção, por meio da execução de medidas de proteção contra infecção como limpar adequadamente o ambiente após o uso de cada paciente, utilizar técnica asséptica, manter técnicas de isolamento e monitorar sinais e sintomas sistêmicos e locais de infecção e a vulnerabilidade a infecções e lavar as mãos. Por último, foi identificado o Risco de integridade da pele prejudicada relacionado a estado nutricional desequilibrado e circulação prejudicada, pois o paciente já estava há um longo período hospitalizado e fazia uso de cateter para hemodiálise, além disso, no discurso do paciente foi observado que ele não ingeria todas as refeições do hospital. Como resultado esperado temos acesso para hemodiálise e integridade tissular. As intervenções executadas consistiram na supervisão da pele/prevenção de úlceras por pressão, sendo realizada por examinar a pele e mucosas quanto a vermelhidão, calor exagerado, edema e drenagem, observar a extremidades quanto a cor, calor, inchaço, pulsos, textura, edema e ulcerações, remover umidade excessiva da pele, monitorar fontes de pressão e atrito e usar camas e colchões especiais. Ao final do período da experiência, o paciente já evidenciava melhora no seu quadro clínico, sob aviso de alta hospitalar, já não se queixava de dor torácica ao respirar, ainda realizava a diálise e iria continuar após sua alta hospitalar sendo orientado pelas acadêmicas sobre a importância da adesão ao tratamento e continuidade do autocuidado extra-hospitalar.
Conclusão
Por meio desse relato de experiência, foi notável a importância da assistência de Enfermagem realizada de forma organizada, planejada e eficiente para a promoção da saúde e tratamento do paciente diagnosticado com LES. Como descrito, a doença pode atingir muitos órgãos e sistemas, então o conhecimento técnico-científico da equipe de enfermagem é imprescindível para o cuidado ao paciente com esta patologia. Além disso, tal experiência trouxe as acadêmicas o primeiro contato com o paciente e com o ambiente hospitalar, colocando em prática o que os conhecimentos adquiridos desde o início da graduação em enfermagem até aquele momento do estágio. Os sentimentos de nervosismo e timidez vivenciados foram superados com as práticas de enfermagem que ajudou a compreensão da execução do processo de enfermagem no ambiente hospitalar, bem como o contato e comunicação com o paciente que favoreceu maior conforto às acadêmicas. Por fim, destaca-se a importância aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem com o uso das terminologias NANDA, NIC e NOC nos primeiros contatos entre acadêmicos de enfermagem e paciente, pois proporciona a execução de ações organizadas e o treinamento do raciocínio clínico indispensável ao cuidado de enfermagem de qualidade.
Referências
BRASIL. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Cartilha Lúpus Eritematoso Sistêmico. 2011
BULECHEK, G.M.; BUTCHER, H.K.; DOCHTERMAN, J.M. Classificação das intervenções de enfermagem (NIC). 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010
Diagnósticos da enfermagem da NANDA: Definições e classificação 2012-2014. Porto Alegre: Artmed,2013.
MOORHEAD, S. et al. Classificação dos resultados de enfermagem (NOC). 4ed. Rio de Janeiro:Elsevier,2010