AVALIAÇÃO E ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA SITUAÇÃO E COMPORTAMENTO DA SÍFILIS CONGÊNITA EM FORTALEZA

RAYLLA ARAÚJO BEZERRA

Co-autores: , SÂMUA KELEN MENDES DE LIMA, BRENA LUIZA GOMES DE CASTRO, JÉSSICA LOURENÇO CARNEIRO, LYDIA VIEIRA FREITAS DOS SANTOS e ANA KELVE DE CASTRO DAMASCENO
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Introdução A Sífilis Congênita constitui uma doença de fácil diagnóstico e que pode ser prevenida, caso seja realizado o tratamento adequado da gestante e do seu parceiro. O tratamento é eficaz e está disponível a toda a população através da atenção primária de saúde. Entretanto, a SC ainda constitui um problema de saúde pública, e o seus agravos têm influenciado nos indicadores de mortalidade materna e perinatal. A evolução da doença é crônica e, quando não tratada ou tratada de forma inadequada, ocasiona manifestações clínicas à nível de pele, osso, sistema cardiovascular e nervoso. No cenário mundial, observa-se o recrudescimento da doença (BRASIL, 2007). No Brasil, em 2011, foram notificados 9.374 novos casos de sífilis congênita em menores de um ano de idade, desses, 3.188 (34,0%) casos ocorreram na Região Nordeste, superada apenas pela Região Sudeste com 4.083 (43,6%). Com relação à taxa de incidência em 2011, ocorreram 3,3 casos por 1.000 nascidos vivos, enquanto as taxas do Rio de Janeiro (9,8) e do Ceará (6,8) foram as maiores e superaram a do País (BRASIL, 2012a).No País, a maior incidência dos casos se deu em crianças, cujas mães realizaram o pré-natal, foram diagnosticadas, porém, não realizaram o tratamento dos parceiros (BRASIL, 2012b). Um dos indicadores da qualidade do pré-natal é o rastreamento da sífilis gestacional (BRASIL, 2012c). Dessa forma, percebe-se que, apesar de o rastreamento ser realizado, as taxas de SC permanecem elevadas, o que aponta para falhas na realização do tratamento. Diante desse cenário de elevado casos de sífilis congênita, o Brasil estabeleceu como meta, a eliminação da transmissão vertical da sífilis para menos de 0,5 casos por 1000 nascidos vivos até 2015 (BRASIL, 2002).Algumas iniciativas do Governo com a finalidade de eliminar a sífilis congênita foram: o Projeto Nascer-Maternidades, instituído em 2002, com o objetivo principal de capacitar os profissionais para acolhimento, aconselhamento, utilização de testes rápidos de HIV e sífilis (BRASIL, 2011); a Rede Cegonha, que tem como um de seus objetivos, ampliar a cobertura de testagem para HIV e sífilis em gestantes (BRASIL, 2011); e a Portaria nº 77/GM/MS, de 12 de janeiro de 2012, que dispõe sobre a realização de testes rápidos, na atenção básica, para a detecção de HIV e sífilis, no âmbito da atenção pré-natal para gestantes e seus parceiros (BRASIL, 2012d).É possível notar que, mesmo com os avanços já existentes no País, com esse elevado número de notificações, a realidade está ainda muito distante da almejada eliminação da doença; e inferir sobre o quanto o País e, principalmente o Estado do Ceará, ainda precisa melhorar, inclusive, com relação à assistência de pré-natal. Diante do exposto, objetivou-se avaliar a situação epidemiológica da sífilis congênita no município de Fortaleza-CE, no ano de 2012; analisar o comportamento da doença em uma série histórica dos últimos 11 anos no município de Fortaleza e verificar a influência entre a Secretaria Executiva Regional (SER) com a média da taxa de notificação de sífilis congênita. Tal investigação fornecerá subsídios para o desenvolvimento de futuras políticas e estratégias educativas que promovam a melhoria da assistência de enfermagem às gestantes com sífilis e consequentemente a redução do número de casos de sífilis congênita.Metodologia Trata-se de um estudo do tipo epidemiológico, observacional, transversal, documental e descritivo, realizado no período de agosto a dezembro de 2013, na Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde do Município de Fortaleza, que por sua vez é responsável pelo armazenamento e processamento de dados no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN). Os dados contidos neste estudo são oriundos de uma pesquisa maior que visou analisar os conhecimentos, a atitudes e a práticas de enfermeiros no controle da sífilis na gestação.A população do estudo compõe-se por todos os casos de sífilis congênita notificados no SINAN, no período de 2002 a 2012 (N=3541) no município de Fortaleza, considerando o banco municipal, contendo informações relativas a todas as seis secretarias executivas regionais (SER) do mesmo.Fortaleza, capital do Estado do Ceará, se encontra dividida geograficamente em seis Secretarias Executivas Regionais (SER), estes territórios estão delimitados administrativamente visando proporcionar a melhoria das condições de vida da população. Cada SER possui entre 15 e 29 bairros.Utilizou-se os dados contidos na Ficha de Notificação da Sífilis Congênita, como SER de residência da mãe, idade, raça, escolaridade, ocupação, diagnóstico da sífilis materna, realização do pré-natal, esquema de tratamento da mãe e tratamento do parceiro do ano de 2012. Além disso, utilizou-se também a distribuição do número de nascidos vivos e casos de sífilis congênita ano a ano e por secretaria executiva regional do Município do período de 2002 a 2012, tendo como banco de dados o SINAN e o DATASUS, com isso, calculou-se a taxa de incidência da sífilis congênita no município.Os dados encontrados foram organizados em tabelas no Microsoft Excel 2010, os quais foram expressos em frequências absolutas e relativas e submetidos a uma análise estatística através do programa R versão 3.0.1 no qual foi realizado o teste qui-quadrado para verificar a influência da SER e do ano com a taxa de notificação de sífilis congênita no Município.O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) da Universidade Federal do Ceará, sendo aprovado sob o protocolo nº 81/12. Foram respeitados todos os preceitos éticos e legais de pesquisas envolvendo seres humanos presentes na Resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde - CNS.Resultados e Discussão Em Fortaleza, no ano de 2012, foram notificados 566 casos de Sífilis Congênita. Com essa alta incidência, torna-se relevante destacar o perfil sociodemográfico das mães de filhos diagnosticados com sífilis congênita no período de 2012.A idade das mulheres variou de 10 a 49 anos, com a predominância de 360 (63,6%) mães na faixa etária dos 20 aos 34 anos. Entretanto, salienta-se a ocorrência de casos em extremos de idade, tais como na faixa entre 35 e 49 anos, em que foram notificadas 55 (9,7%) casos, e na adolescência com 139 (24,5%). Vale ainda ressaltar, que desses últimos, 7 (1,2%) casos eram de mães com idade entre 10 e 14 anos. Em relação à raça da mãe, no presente estudo, houve predominância da parda, 488 (86,2%). Quanto à escolaridade, 357 (63%) tinham até 8 anos de estudo e 115 (20,3%) mais de oito anos de estudo. Constatou-se que 347 (61,3%) eram donas de casa, prevalecendo uma ocupação não remunerada. Uma porcentagem significativa das mães, 357 (63,1%), realizou o pré-natal, sendo diagnosticadas 197 (34,8%), das quais somente 10 (1,7%) receberam o tratamento adequado, o que permite inferir que a oportunidade de diagnosticá-las e tratá-las nesse período foi desperdiçada, uma vez que, também a maioria, 293 (51,8%), foi diagnosticada apenas no momento do parto/curetagem. Quanto ao tratamento concomitante do parceiro, o estudo mostrou que somente 38 (6,7%) receberam o tratamento, o que possibilita a reinfecção da gestante, descaracterizando o tratamento de forma adequada. Contudo, foi possível identificar também que existe ainda uma porcentagem significativa de subregistro da Ficha de Notificação/ Investigação de Sífilis Congênita, pois ao pesquisar no SINAN, segundo ocupação, o número de notificações sofre uma redução de 566 para 480, evidenciando 88 (15,5%) casos subnotificados. Além disso, sabe-se que esse número total é inferior ao estimado. Com relação à taxa de incidência da doença em Fortaleza, foram notificados 566 casos de sífilis congênita e um total de 37.120 nascidos vivos de mães residentes do referido município. Assim, a taxa de incidência da doença foi de 15,2 por 1000 nascidos vivos. Durante os anos de 2002 a 2012 percebeu-se uma tendência do aumento da taxa de notificação anual passando de 1,0 a 15,2 a cada 1.000 habitantes .Dessa forma, observou-se um valor p (<0,0001) menor que o nível de significância 0,05, ou seja, existem evidencias de que o tempo influenciou no número de notificações. Essa tendência do aumento da taxa de notificação foi observada também nas seis Secretarias Regionais Executivas da Cidade.No período estudado, as maiores taxas de incidência foram nas SER I,V e VI, com taxa média de 9,2; 9,1 e 10,7  por 1000 nascidos vivos nessa série anual de 2002 a 2012, respectivamente. Entretanto, ao calcular, através do qui-quadrado, a possível influência entre a região de residência da mãe com a média da taxa de notificação de sífilis congênita, verificou-se um valor de p (0,8869) maior que o nível de significância 0,05, ou seja, não foi encontrada relação entre a SER e a média da taxa de incidência dos anos estudados.Vale ressaltar que a avaliação desses dados por secretaria executiva regional, identificou que o número de notificações, que não especificaram a SER de residência da mãe, ou seja, subnotificaram tal informação, foi de 55 (9,7%) casos no ano de 2012, estando presente em todo o período estudado, porém antes em menor quantidade. 
Conclusão Frente aos achados do presente estudo, verificou-se que Fortaleza apresenta uma alta taxa de notificação da doença, o que aponta a necessidade de ações mais efetivas no seu controle. Verificou-se a predominância das mães da raça parda, com ensino fundamental incompleto, a idade entre 20 e 34 anos e donas de casa. Além disso, muitas delas realizaram o pré-natal, porem a maioria só foi diagnosticada no momento do parto. Das gestantes que foram diagnosticadas no pré-natal, a maioria não realizou o tratamento adequado nem o parceiro foi tratado.Dessa forma, mostrou-se que oportunidades como a captação das gestantes para realizar o pré-natal, o diagnóstico e tratamento da mesma antes do parto e o tratamento do parceiro, estão sendo desperdiçadas, contribuindo para o insucesso do controle da doença. Além disso, foi observado que existem muitos dados subnotificados, pois no momento da pesquisa no SINAN, ao selecionar os dados segundo por exemplo ocupação, tratamento realizado, o número de casos reduzia consideravelmente. Tal fato sugere a implantação de treinamentos para os profissionais quanto à ficha de notificação, reforçando a importância disso para a Vigilância Epidemiológica no controle desse agravo, facilitando e tornando mais precisos os resultados das pesquisas. Reforça-se também a importância da capacitação e sensibilização dos profissionais acerca da educação em saúde, pois o conhecimento dos enfermeiros sobre a importância da orientação ao paciente irá refletir em suas ações e práticas.E, por se tratar de uma doença sexualmente transmissível, há uma dificuldade na abordagem que requer do profissional da saúde habilidades e conhecimentos sobre essa temática, de forma que consiga construir um conhecimento e obter mudanças de comportamento, favorecendo a prevenção da doença e dos danos que ela pode causar a saúde da mulher e bebê.Sabe-se que educação em saúde é uma ferramenta fundamental para promoção e prevenção da saúde, dessa forma, questiona-se a realização desta com a população e como se dá esse processo, haja vista a baixa escolaridade da população aqui estudada e a falta de conhecimento sobre a doença observada em outros estudos. Então, dificuldades como o tratamento do parceiro, tratamento adequado das gestantes, prevenção de reinfecção e controle da cadeia de transmissão da doença poderiam ser discutidas com a paciente através de atividades educativas e até mesmo durante a consulta, sendo esclarecidos os principais aspectos da doença, a fim de sensibilizar a gestante quanto aos cuidados necessários para prevenir a ocorrência da transmissão vertical, salientando as consequências para o bebê e para a família.Dessa forma, por meio da formação continuada e da educação em saúde, almeja-se um pré-natal com maior qualidade, onde a gestante será sensibilizada, através de informações eficazes, tornando-se uma paciente com maior autonomia em suas decisões. 
Referências ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis. Brasília, 2007. ______. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. Sífilis. Ano I - nº 1. ISSN: 1517-1159. Brasília, 2012a.______. Ministério da Saúde. Atenção ao pré-natal de baixo risco. ISBN 978-85-334-1936-0. 318 p. Brasília 2012b.
______. Ministério da Saúde. Plano de Qualificação das Linhas de Cuidados da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis nos Estados do Semiárido e Amazônia Legal. 2012c.______. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde.  Brasília, 2002.______. Ministério da Saúde. Portaria Nº 1.459/GM/MS, de 24 de  junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha. Brasília, 2011. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011.html______. Ministério da Saúde. Portaria nº 77/GM/MS, de 12 de janeiro de 2012d. Dispõe sobre a realização de testes rápidos, na atenção básica, para a detecção de HIV e sífilis, assim como testes rápidos para outros agravos, no âmbito da atenção prénatal para gestantes e suas parcerias sexuais. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0077_12_01_2012.html______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012. Institui proteção devida aos participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília (DF); 13 jun 2013; Seção 1:59.