PERFIL GINECOLÓGICO E OBSTÉTRICO DE USUÁRIAS DE ANTICONCEPCIONAIS INJETÁVEIS

RAYLLA ARAÚJO BEZERRA

Co-autores: , ANA GESSELENA DA SILVA FARIAS, MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS OLIVEIRA CUNHA, RAQUEL FERREIRA GOMES BRASIL, LYDIA FREITAS VIEIRA DOS SANTOS e ESCOLÁSTICA REJANE FERREIRA MOURA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

Introdução


Os anticoncepcionais hormonais são os métodos anticoncepcionais reversíveis mais utilizados no Brasil. Dentre eles, destacam-se: a pílula (oral), injetáveis, implantes, anéis vaginais, Dispositivos Intrauterinos (DIUs) com progestágeno e adesivos cutâneos (POLI et al., 2009). Pesquisa realizada no Estado do Ceará, envolvendo 233 usuárias de serviços de planejamento familiar oferecidos na Estratégia Saúde da Família, constatou que 4,3% das participantes eram usuárias de injetáveis (MOURA et al., 2011). Os Anticoncepcionais Hormonais Injetáveis (AHI's) mensais (combinados) contêm um éster de um estrogênio natural, o estradiol, e um proges­tágeno sintético, sendo oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) gratuitamente, na apresentação de 50 mg de enantato de noretisterona + 5 mg de valerato de estradiol (BRASIL, 2013). Os AHIs trimestrais (exclusivos de progestágeno) possuem em sua apresentação o acetato de medroxiprogesterona de depósito (AMP-D) 150 mg, um hormônio semelhante ao produzido pelo organis­mo feminino, sendo liberado lentamente na circulação sanguínea. Esses são também disponibilizados na rede SUS de forma gratuita (BRASIL, 2013). O uso desse método é indicado em situações nas quais há contraindicação do hormônio estrogênio, como na presença de doenças cardiovasculares, tabagismo associado a idade acima dos 35 anos, amamentação exclusiva e obesidade (SINGHAL et al., 2014). Este estudo teve como objetivo descrever o perfil ginecológico e obstétrico das usuárias de usuárias de AHI's.

Metodologia


A presente pesquisa é descritiva e exploratória com abordagem quantitativa. O estudo foi realizado no Centro de Desenvolvimento Familiar (Cedefam), também conhecido como Casa de Parto Natural Lígia Barros Costa. Esta se localiza em um bairro periférico do município de Fortaleza, Ceará, e faz parte da Secretaria Executiva Regional (SER) III do Sistema Municipal de Saúde. A população deste estudo foi composta por 43 usuárias de injetáveis (N= 43). O instrumento de coleta de dados foi um formulário estruturado elaborado pelas autoras, composto por perguntas fechadas abordando os aspectos ginecológicos e obstétricos dos sujeitos. A coleta dos dados teve início após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, conforme protocolo CAAE: 36668314.3.0000.5054, número do parecer: 851.453. As entrevistas foram realizadas em ambiente privativo, previamente selecionado para esta finalidade. Tiveram uma duração média de 5 minutos e ocorreram nos meses de novembro/2014 a abril/2015.

Resultados e Discussão


Os resultados foram distribuídos em forma de tabela e estão apresentados a seguir.

Tabela 1 - Distribuição do número de usuárias de hormonais injetáveis segundo variáveis ginecológicas e obstétricas. Centro de Desenvolvimento Familiar (Cedefam). Fortaleza-CE, nov.-abr. 2014/2015.

                                  

Variáveis (n=43)

AIC (n=30)

AIEP (n=13)

 

Nº.

%

Nº.

%

Idade (ano completo) Md=23,00

 

 

 

 

16 a 19

9

30,0

4

30,8

20 a 34

19

63,3

6

46,2

35 a 41

2

6,7

3

23,0

Número de partos Md=1,00

 

 

 

 

1-4

21

70,0

12

92,3

Nenhum

9

30,0

1

7,7

Número de abortos

 

 

 

 

Nenhum

25

83,3

13

100,0

1-2

5

16,7

---

---

Realização do exame de Papanicolau (ano) Md=2,00

 

 

 

 

Realizou há menos de 1

14

46,6

7

53,8

Realizou entre 1 e 3

8

26,7

4

30,8

Nunca realizou

5

16,7

2

15,4

Realizou entre 3 e 5

2

6,7

---

---

Realizou há mais de 5

1

3,3

---

---

 

Anticoncepcional Injetável Combinado (AIC); Anticoncepcional Injetável Exclusivo de Progestágeno (AIEP).

 

A faixa etária das participantes variou de 16 a 41 anos, com a mediana de 23,00 anos, predominando a faixa dos 20 aos 34 anos, correspondendo a 25 (58,1%) do total das entrevistadas, seguindo-se com 13 (30,2%) com idade entre 16 a 19 anos e 5 (11,6%) com idade entre 35 a 41 anos. A mediana da menarca no grupo pesquisado foi de 13,00 anos, em que 30 (69,7%) mulheres tiveram a menarca entre 12 e 14 anos, seguida por 9 (20,9%) cuja menarca ocorreu entre 10 e 11 anos e 4 (9,3%) teve a menarca entre 15 e 16 anos. Teles et al. (2010) ressaltam que a menarca precoce expõe a adolescente à gravidez precoce, uma vez que ocorre a antecipação da fertilidade. Dessa forma, a idade da menarca serve como parâmetro para recrutar esse público ao serviço de Planejamento Familiar (PF). A mediana do número de partos foi de 1,00 parto, com predomínio de mulheres com 1 a 4 partos (33-76,7%), seguido por 10 (23,2%) que nunca pariram. Esse aspecto corrobora a tendência de queda na taxa de fecundidade total, que no país passou de 2,39 filhos por mulher, em 2000, para 1,77, em 2013, representando uma queda de 26% neste indicador (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2014). Dentre as usuárias de AIC, 5 (11,6%) referiram aborto. Apesar de a tabela não mostrar o tipo de aborto, obteve-se que 1 (2,3%) participante teve dois abortos espontâneos, 1 (2,3%) teve um aborto espontâneo e 3 (6,9%) sofreram cada uma, um aborto provocado. O aborto provocado é consequência do baixo conhecimento acerca dos métodos e de uma prática contraceptiva inadequada, aspecto que necessita ser enfrentado com as mulheres, uma vez que representa sério risco à vida materna além de ocasionar repercussões negativas na saúde mental feminina. Quanto à realização do exame de Papanicolau constatou-se uma mediana do tempo de realização de 2,00 anos, em que a maioria das entrevistadas, ou seja, 21 (48,8%) realizou o exame há menos de 1 ano, seguindo-se por 12 (27,9%) que realizou entre 1 e 3 anos. Porém, chamou a atenção o fato de 7 (16,2%) participantes nunca ter realizado o exame e outras 3 (6,9%) por permanecer sem realizá-lo por mais de três anos.  No serviço de PF onde foi realizada a pesquisa, as enfermeiras e acadêmicas de Enfermagem sempre orientam as mulheres quanto à importância da realização do referido exame, o qual é oferecido no Cedefam. Essa realidade pode ter influenciado esse resultado, em que a maioria realizou o exame no último ano e até três anos.

Conclusão


A maioria das participantes teve a menarca entre 12 e 14 anos, o que mostra a importância da participação de adolescentes no serviço de PF, para evitar uma gravidez indesejada e não planejada. A maior parte das entrevistadas possuía de 1 a 4 filhos, 3 mulheres sofreram cada uma, um aborto provocado, o que indica o baixo conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais e uma prática contraceptiva inadequada. Sobre a realização do exame Papanicolau constatou-se que a maioria das entrevistadas realizou o exame há menos de 1 ano. A realização do exame é importante para a detecção do câncer de colo uterino. Conhecer o perfil das usuárias de anticoncepcionais é importante para a realização de estratégias educativas e elaboração de políticas públicas voltadas ao serviço de PF.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva. Brasília, DF, 2013.

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Informação Demográfica e Socioeconômica. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2014. Rio de Janeiro: IBGE, n. 29, 2014.

 

MOURA, E. R. F.; GOMES, A. M. A.; SILVA, R. M.; ALMEIDA, P. C.; SOUSA, C. B. J. Avaliação da Assistência prestada em planejamento familiar no contexto do Programa saúde da Família do Ceará - Brasil. In: CEARÁ. Secretaria de Saúde do Estado. Pesquisa para o SUS Ceará - Coletânea de artigos dos PPSUS2, 2011. p. 18-35.

 

POLI, M. E.  H.; MELLO, C. R.; MACHADO, R. B.; NETO, J. S. P.; SPINOLA, P. G.; TOMAS, G.; SILVEIRA, M. M.; FILHO, J. F. N. F.; FERRARI, A. E. M.; GIORDANO, M. V.; ALDRIGHI, J. M.; GIRIBELA, A. H. G.; ARAÚJO, F. F.; MAGALHÃES, J.; BOSSEMEYE, R. P. Manual de anticoncepção da FEBRASGO. Femina, v. 37, n. 9, p. 459-492, setembro 2009. Disponível em: <http://www.febrasgo.org.br/site/wp-content/uploads/2013/05/Femina-v37n9_Editorial.pdf>. Acesso em: 01 jul. 2014.

 

SINGHAL, S.; SARDA, N.; GUPTA, S.; GOEL, S. Impact of injectable progestogen contraception in early puerperium on lactation and infant health. J. Clin. Diagn. Res., India, v. 8, n. 3, p. 69-72, mar. 2014. Disponível em: <http://www.jcdr.net/article_fulltext.asp?issn=0973-709x&year=2014&volume=8&issue=3&page=69&issn=0973-709x&id=4110>. Acesso em: 30 de jun. 2014.

 

TELES, L.M.R.; SILVA, S.S.; EDUARDO, K.GT.; MOURA, E.R.F.; DAMASCENO, A.K.D. Atenção em anticoncepção oferecida por equipe de PSF em São Gonçalo do Amarante - CE. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. v. 12, n. 4, p. 711-8, 2010. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n4/v12n4a17.htm>. Acesso em: 21 mai. 2015.

 

URBAN, M.; BANKS, E.; EGGER, S.; CANFELL, K.; CONNEL, O. D.; BERAL, V. SITAS, F. Injectable and oral contraceptive use and cancers of the breast, cervix, ovary, and endometrium in black south african women: case-control study. PLOS Medicine, v. 9, n. 3, p. 1-11, mar. 2012. Disponível em: <http://www.plosmedicine.org/article/fetchObject.action?uri=info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pmed.1001182&representation=PDF>. Acesso em: 01 de jul.2014.