II SIEPS XX ENFERMAIO I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM
Fortaleza - CE 23 a 25 de Maio de 2016 |
DIARREIA INFANTIL: CONDIÇÕES SOCIAIS E CONDUTAS MATERNAS NO INTERIOR DO CEARÁ-BRASIL
Francisca Mayra de Sousa Melo1, Brena Shellem Bessa de Oliveira2, Rhaiany Kelly Lopes de Oliveira3, Jallyne Colares Bezerra4, Emanuella Silva Joventino5.
[1]Enfermeira. Mestranda em enfermagem pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção,Ce.
2Acadêmica de Enfermagem da UNILAB. Bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP. Redenção.
3 Acadêmica de Enfermagem da UNILAB. Bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas - CNPq. Redenção.
4 Acadêmica de Enfermagem da UNILAB. Bolsista do CNPq. Redenção.
5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da UNILAB. Redenção.
mayra.melo@aluno.unilab.edu.br
EIXO II. SABERES E PRÁTICAS DA ENFERMAGEM EM DIFERENTES CONTEXTOS LOCAIS, NACIONAIS E INTERNACIONAIS
Introdução
A diarreia, disenteria e gastroenterites comumente conhecidas como doenças diarréicas agudas (DDAs) configuram-se como um problema de saúde pública. Apesar do decréscimo nos casos de diarreia no Brasil, esta continua sendo uma das principais causas de morbimortalidade em crianças menores de cinco anos, inclusive no referido país (JOVENTINO et al,2013). Essa afecção pode estar associada a variáveis biológicas, ambientais, comportamentais, econômicas e socioculturais. Dessa maneira, percebe-se que a prevenção da diarreia infantil está intimamente relacionada com ações executadas pelos cuidadores das crianças, sobretudo pelas mães, principais cuidadoras desta população.Com base na influência dos cuidados maternos prestados às crianças, admite-se o seu protagonismo na redução dos índices de diarreia infantil. OBJETIVOS: Analisar a incidência de diarreia entre as crianças das famílias investigadas e descrever as condutas maternas no manejo dessa patologia.
Metodologia
Estudo descritivo, exploratório, transversal, quantitativo realizado com 385 mães de crianças menores de cinco anos residentes em uma cidade do interior do Ceará. A coleta de dados foi realizada em 2015, oito Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) distribuídas nas zonas urbana ou rural do município.Utilizou-se um instrumento abordando variáveis sociosanitárias, sobre diarreia infantil, sobre o manejo e prevenção deste agravo.Os dados foram organizados e analisados por meio do programa StatisticalPackage for the Social Sciences-SPSS (versão 20.0). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB), conforme parecer 1.140.095.
Resultados e Discussão
As doenças diarréicas ainda exercem papel importante entre os agravos da saúde da criança. Estudo realizado por Bürlen et al(2014) mostra que o grupo mais vulnerável às diarreias no Brasil é formado por crianças menores de cinco anos de idade. Por conseguinte, essa faixa etária torna-se mais vulnerável às infecções, hospitalizações e óbitos. Neste estudo foram identificadas algumas características relevantes sobre a respectiva temática. Em relação a ocorrência de casos de diarreia, cerca de 52,7% das crianças estudadas haviam tido diarreia, tendo sido verificado que 67,5% das mães (N=133) procuraram um serviço de saúde para esses casos. Quanto ao histórico de episódios anteriores de diarreia ficou constatado que 52,7% (N=202) das crianças tiveram algum episódio diarréico anterior com média de duração de 3,5 dias (DP=±1,7).Já os sintomas apresentados pelas crianças durante os episódios diarréicos foram:febre (N=77; 39,1%), vômito (N=59; 29,9%), muco nas fezes (N=59; 29,9%), sangue (N=11; 5,6%); contudo, apenas 67,5% das mães (N=133) procurou um serviço de saúde.A identificação da sintomatologia é relevante para fazer um reconhecimento precoce de complicações. A maioria das crianças investigadas não teve internação anterior por diarreia (N=173; 86,9%), mas 64,3% (N=128) fizeram uso de medicamentos receitados por profissionais de saúde para tratar tal afecção. Esses dados ratificam o estudo realizado por Mendes et al(2013) ao afirmar que houve uma lenta redução anual da taxa de internações por diarreia em menores de um ano e discreto aumento entre um e quatro anos mostrando, dessa forma, que as hospitalizações mantiveram-se praticamente estáveis.Já para Boccolini et al (2012) os dados de internações hospitalares por diarréia diminuíram quase pela metade entre 1999 e 2008 entre menores de um ano de idade. Durante o manejo e tratamento da criança com diarreia, 64,6% (N=128) das mães referiram ter utilizado receitas caseiras, como: chá da casca de laranjeira (N=32;25,4%) e chá do olho da goiabeira (N=27;21,4%). Uma pesquisa realizada em um hospital universitário no Rio Grande do Norte com o objetivo de identificar os conhecimentos das mães acerca da diarreia demonstrou que o uso das receitas caseiras ainda se destacam como forma de tratamento (REGO et al, 2014). Em relação ao soro utilizado, constatou-se que a maioria das mães não utilizava o soro caseiro (N=290;75,9%), todavia faziam uso do soro de reidratação oral-SRO (N=246;64,9%). O uso do soro de reidratação oral- SRO é indicado pelo Ministério da Saúde para os casos em que as crianças apresentem desidratação leve a moderada para restabelecimento hidroeletrolítico (BRASIL, 2009). No que se refere à alimentação oferecida aos filhos durante a ocorrência dos episódios diarréicos das crianças, 65% (N=217) das mães referiram buscar melhorar a alimentação de seus filhos; 21,6% (N=72) continuaram oferecendo a mesma alimentação, enquanto 13,5%(N=45) suspendiam-na. É importante ressaltar que apesar da diarréia a criança deve continuar recebendo o aleitamento materno. Motta (2013) afirma que durante o episódio diarréico a nutrição previne déficits nutricionais, otimiza a recuperação do peso e não causa piora dos sintomas da diarreia. Logo, o reinício da alimentação habitual da criança e a manutenção do aleitamento materno são altamente recomendados após a reidratação oral.
Conclusão
Apesar do número de internações estarem diminuindo percebeu-se que a diarreia ainda é uma realidade muito presente durante a infância, por estar relacionada a diversas variáveis que se constituem em fatores de risco. Ações de promoção da saúde focada nesse público fornecendo informações quanto ao reconhecimento da sintomatologia da diarreia, o preparo do soro de reidratação e alimentação são variáveis que podem contribuir para diminuição da vulnerabilidade dessas crianças. É nesse contexto que foi constatado que as habilidades maternas são primordiais para a garantia do bem estar das crianças, sendo importante que sejam instruídas e encorajadas a realizarem os cuidados necessários na prevenção e tratamento da diarreia. Dessa forma, o enfermeiro vem desempenhar um papel de educador em saúde, contribuindo com ações que busquem atingir à atenção integral a saúde da criança.
Referência
BOCCOLINI, C. S; BOCCOLINI, P. M. M; CARVALHO, M. L; OLIVEIRA, M. I. C. Padrões de aleitamento materno exclusivo e internação por diarreia entre 1999 e 2008 em capitais brasileiras. Ciência & Saúde Coletiva. v.17, n. 7, p. 1857- 63, 2012.
BÜRHLER, HF; IGNOTTI, E; NEVES, S. M. A. S; HACON,S.S. Análise espacial de indicadores de saúde e ambiente para morbimortalidade por diarreia infantil no Brasil, 2010. Caderno de Saúde Pública.set, v.30, n. 9, p. 1921-27, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. Série A. Normas e Manuais técnicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
JOVENTINO, E. S; FREITAS, L.V; VIEIRA, N. F.C; AQUINO, O. S; PINHEIRO, A. K. B. XIMENES, L. B. Habilidades maternas para prevenção e manejo da diarreia infantil. Ciencia y enfermaria. v.19, n. 2, p. 67-76, 2013.
MENDES, P.S.A; JUNIOR, H.C.R; MENDES, C.M.C. Temporal trends of overall mortality and hospital morbidity due to diarrheal disease in Brazilian children younger than 5 years from 2000 to 2010. Jornal da Pediatria. V. 89, n. 3, p. 315- 25, 2013.
REGO, A. P; LIMA, S. P; COSTA, M. C. M. D. R; SANTOS, L. M. C; MEDEIROS, W. R; CAVALCANTE, E. S. Conhecimentos das mães de crianças internadas em um hospital universitário acerca da diarreia. Revista Rene. v. 15, n. 1, p. 29-36, 2014.