ATIVIDADE COM POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

LARISSA CORDEIRO GRANGEIRO

Co-autores: , RAFAELA DE OLIVEIRA MOTA, THAIS LIMA VIEIRA DE SOUZA, STEFANNY CORRÊA DOS SANTOS, SOFIA JALES DE PAULA e PAULA SACHA FROTA NOGUEIRA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

ATIVIDADE COM POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Larissa Cordeiro Grangeiro¹, Rafaela de Oliveira Mota¹, Thais Lima Vieira de Souza¹, Stefanny Corrêa dos Santos¹, Sofia Jales de Paula², Paula Sacha Frota Nogueira³.

 

1. Acadêmicas de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

2. Enfermeira pela Universidade Federal do Ceará.

3. Enfermeira. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Orientadora da Liga Acadêmica em Doenças Estigmatizantes.

larissa_grangeiro@hotmail.com

EIXO III. ENFERMAGEM, SAÚDE E SOCIEDADE: ENCONTRO NOS TERRITÓRIOS.


Introdução

A Tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis. A transmissão ocorre através da inalação de núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos pela tosse, fala ou espirro de um indivíduo contaminado. A principal forma de manifestação da doença é a forma pulmonar, podendo ser encontrados casos de formas extrapulmonares (BRASIL, 2011). A propagação da bactéria está relacionada às condições de vida da população. A proliferação da doença se dá, principalmente, em áreas de grande concentração humana e com precários serviços de infraestrutura urbana. Por isso, a sua incidência é maior nas periferias das grandes cidades (BRASIL, 2008). Para que um número maior de casos seja detectado, é realizada a busca ativa de sintomáticos respiratórios que consiste em identificar precocemente pessoas com tosse por três semanas ou mais. A busca ativa deve ser uma estratégia priorizada e realizada fixamente por todos os serviços de saúde, com ênfase na atenção básica, pois é fundamental para a detecção dos casos bacilíferos, interrompendo, assim, a cadeia de transmissão da doença (BRASIL, 2011). A tuberculose deve ser investigada em qualquer indivíduo que apresente qualquer sintoma da doença. Entretanto, é necessário que se tenha uma atenção redobrada para as populações consideradas especiais: população privada de liberdade, em situação de rua, indígenas e profissionais de saúde. Segundo Ferreira (2005), população em situação de rua é caracterizada como "grupo populacional heterogêneo constituído por pessoas que possuem em comum a garantia da sobrevivência por meio de atividades produtivas desenvolvidas nas ruas, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados, e a não referência de moradia regular". Estudos realizados no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre demonstraram incidências de tuberculose entre 1.576 e 2.750/100.000 habitantes e mortalidade pela doença de 17.800/100.000 habitantes nessa população (SELIG et al, 2009). O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) considera a prevalência 67x maior de tuberculose que na população em geral (ADORNO, VARANDA, 2004). Os profissionais de saúde tem um potencial para se tornarem educadores. Eles podem contribuir para a troca de saberes técnico-científicos e populares. Assim, profissionais e população podem construir, de forma compartilhada, um saber em saúde que proporciona mudanças de hábitos e comportamentos, utilizando-se de técnicas educativas que promovam a reflexão e a crítica (SÁ et al, 2013).


Objetivo

Relatar a experiência de membros da Liga Acadêmica em Doenças Estigmatizantes (LADES) em uma ação de educação em saúde com moradores de rua desenvolvida pela Associação de Amparo aos Pacientes com Tuberculose (APTU) na cidade de Fortaleza, Ceará.


Metodologia

A atividade foi desenvolvida por cinco integrantes da LADES em parceria com os membros da APTU em uma praça localizada no centro do município de Fortaleza, Ceará. A LADES é vinculada ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará e dentre seus objetivos está o de realizar ações de promoção de saúde e parcerias com entidades de saúde visando potencializar os benefícios da Liga para a sociedade, bem como, contribuir para a formação dos acadêmicos membros desta. A APTU é uma Organização Não Governamental que desenvolve atividades de educação em saúde e busca ativa de sintomáticos respiratórios para a população em situação de rua, ofertando, também, alguns serviços como a realização de curativos e a distribuição de medicamentos para os que necessitam.


Resultados e Discussão

A ação dividiu-se em quatro momentos. No primeiro momento, realizou-se uma breve atividade de educação em saúde por meio de uma roda de conversa, com aproximadamente 37 moradores de rua, em que as integrantes da LADES explicaram sobre os principais pontos relacionados à tuberculose, dentre eles: forma de transmissão, sinais e sintomas e tratamento. Após a educação em saúde, um dos membros da APTU ficou responsável por coletar as amostras de escarro dos sintomáticos respiratórios. No segundo momento, foi ofertado aos participantes da roda de conversa o café da manhã, o qual é utilizado para atrair os moradores para participar das ações desenvolvidas pela Associação. No terceiro momento, após a refeição e como forma de agradecimento, um dos membros da APTU conduziu uma oração coletiva. No último momento, foram realizados os curativos necessários. Durante e após a breve atividade de educação em saúde, verificou-se a participação de alguns moradores de rua por meio do compartilhamento de situações vividas e questionamentos. No período, foram realizados três curativos e duas coletas de amostra de escarro. Quando se trata de população em situação de rua, a abordagem e o acolhimento são de fundamental importância para o cuidado, tendo em vista que esse grupo é historicamente marcado por um processo de exclusão dos serviços de saúde, onde sua presença produz um forte incômodo tanto para os profissionais de saúde quanto para os demais usuários, ficando quase sempre renegado o seu direito à atenção integral à saúde. Devido à dificuldade de se obter dados sobre essa população, não é possível traçar um perfil de adoecimento. Entretanto, por meio dos estudos realizados, estima-se que a tuberculose seja um grave problema de saúde com alta taxa de incidência e de abandono do tratamento (BRASIL, 2012).


Conclusão

É importante que as atividades de educação e de promoção da saúde continuem sendo desenvolvidas com a população em situação de rua, visto que esse grupo enfrenta maiores dificuldades de acesso ao sistema de saúde devido ao preconceito e às condições socioeconômicas em que estão inseridos. A participação de acadêmicos da área da saúde nessas atividades é imprescindível para o processo de formação destes, já que possibilita a interação com os diferentes tipos de população e a aplicação dos conhecimentos adquiridos na universidade.


Referências

ADORNO, R. C. F.; VARANDA, W. Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da população de rua e o desafio para políticas de saúde. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 23-45, 2004.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua. Brasília: Ministério da Saúde, 2012, 98 p.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Vigilância em Saúde: Dengue, Esquistossomose, Hanseníase, Malária, Tracoma e Tuberculose. Brasília: Ministério da Saúde, 2008, 195 p.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2011, 284 p.

FERREIRA, F. P. M. População em situação de rua, vidas privadas em espaços públicos: o caso de Belo Horizonte 1998-2005. Belo Horizonte, 2005.

SÁ, L. D.; GOMES, A. L. C.; CARMO, J. B.; SOUZA, K. M. J.; PALHA, P. F.; ALVES, R. S.; ANDRADE, S. L. E. Educação em saúde no controle da tuberculose: perspectiva de profissionais da estratégia Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem. v. 15, n. 1, p. 103-11, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5216/ree.v15i1.15246> Acesso em: 29 abr 2016.

SELIG L. et al. Uses of tuberculosis mortality surveillance to identify programme errors and improve database reporting. The International Journal of Tuberculosis and Lung Disease, Paris, v. 13, n. 8, p. 982-988, 2009.