AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE GESTANTES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA

PAULA RENATA AMORIM LESSA SOARES

Co-autores: , SAMILA GOMES RIBEIRO, PRISCILA DE SOUZA AQUINO e ANA KARINA BEZERRA PINHEIRO
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

 

II SIEPS

                                                                        XX ENFERMAIO

              I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM

 

                                       Fortaleza - CE

                               23 a 25 de Maio de 2016

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE GESTANTES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA

Paula Renata Amorim Lessa Soares1, Samila Gomes Ribeiro2, Priscila de Souza Aquino3, Ana Karina Bezerra Pinheiro3


1.       Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFCE - Aracati

2.       Universidade Federal do Piauí- UFPI - Teresina

3.       Universidade Federal do Ceará - UFC - Fortaleza.

paularenatal@yahoo.com.br

 

EIXO II: SABERES E PRÁTICAS DA ENFERMAGEM EM DIFERENTES CONTEXTOS LOCAIS, NACIONAIS E INTERNACIONAIS.

Pesquisas abrangendo o cuidado de enfermagem e o estudo das doenças emergentes e/ou negligenciadas.           


Introdução


As mulheres gestantes são consideradas uma população vulnerável, tanto expostas a riscos físicos quanto psicossociais, uma vez que seu papel na família e sociedade sofrem intensas transformações no período gravídico. Dentre essas modificações, uma das grandes mudanças que pode afetar os domínios físico, emocional, pessoal e social que ocorrem durante a gestação e podem perdurar até o puerpério estão relacionadas às disfunções do assoalho pélvico (DAP), principalmente à Incontinência Urinária (IU). Segundo a Sociedade Internacional de Continência, é definida como a perda involuntária de urina que pode se manifestar de diferentes formas. Por sua vez, o período gestacional caracteriza-se como predisponente para o desenvolvimento de sintomas do trato urinário inferior. Sabe-se que gestantes nulíparas apresentam IUE com uma prevalência variando entre 33,6% e 45,5%. Tais sintomas podem regredir gradualmente no período pós-parto, retornando ao estado pré-gestacional, com restauração, parcial ou completa, do mecanismo de continência urinária (MONTENEGRO; REZENDE FILHO, 2011).  Ademais, com o crescimento do útero e a compressão exercida pelo feto, ocorre diminuição da capacidade vesical, que pode ser responsável pelo maior número de micções no último trimestre. Todas essas alterações fisiológicas podem evoluir para um estado patológico provocado pelo enfraquecimento dos MAP. Nessa conjuntura, vários são os aspectos que podem comprometer a qualidade de vida (QV) das mulheres no período gestacional, particularmente a IU. Essa está, geralmente, interligada às perturbações de ordem social e moral, despertando sentimentos de constrangimento, isolamento social e depressão (BEZERRA et al., 2013). Tal comprometimento associado ao período de intensas mudanças que ocorrem na gestação são potenciais para a diminuição da QV. Oliveira et al., (2013) tiveram como objetivo verificar a ocorrência de IU em gestantes brasileiras e sua relação com as variáveis sócio demográficas e a QV. Como resultado, os autores encontraram que 71% (352) das mulheres relataram ter tido IU durante as últimas quatro semanas de gravidez, bem como houve associação significativamente estatística entre a presença de IU com o nível de educação (p <0,0001), raça (p = 0,005), paridade (p <0,001), tipo de nascimento (p <0,001) e peso (p <0,001). O estudo ainda revelou, por meio do ICIQ-SF, que gestantes incontinentes tiveram um severo impacto na QV com uma média (± DP) de 12,11 (± 4,04), implicando um efeito negativo sobre a vida diária de mulheres brasileiras (OLIVEIRA et al., 2013). Por isso, frente às diversas repercussões na vida da gestante, medidas de avaliação da QV relacionadas com a IU são significativamente recomendadas. OBJETIVO: Dessa forma, o presente estudo tem o objetivo de avaliar a qualidade de vida de mulheres com IU.

 

Metodologia


Trata-se de um estudo transversal, quantitativo realizada em quatro locais distintos no município de Fortaleza, Ceará, seguintes: 1) O Centro de Desenvolvimento Familiar/ Centro de Parto Natural (CPN) Lígia Barros da Costa (CEDEFAM/CPN) localiza-se no Planalto Pici, 2) Centro de Saúde da Família (CSF) César Cals, 3) CSF Ocelo Pinheiro e 4) Clínica FEMINIIMAGEM- Clínica Médica da Mulher. Ressalta-se que os três primeiros cenários pertencem a rede pública de saúde e a clínica atende gestantes do serviço privado. A população do estudo foi composta por gestantes de baixo risco. Os critérios de inclusão das participantes foram gestantes em acompanhamento pré-natal de baixo risco e alfabetizadas. Como critérios de exclusão ainda se definiram: realização de cirurgias pélvicas prévias e mulheres com déficit motor neurológico de membros inferiores, uma vez que tais fatores podem agravar o quadro de IU. O tamanho da amostra foi calculado a partir da fórmula para populações finitas, totalizando 261 gestantes, sendo 120 coletados no serviço privado e 141 no serviço público. Para avaliar a QV de gestantes com IU foi  utilizado o instrumento o instrumento King´s Health Questionnaire. O KHQ é composto de 21 questões e possui nove domínios seguintes: "Percepção geral de saúde" (um item), "Impacto da incontinência urinária" (um item), "Limitações de atividades diárias" (dois itens), "Limitações físicas" (dois itens), "Limitações sociais" (dois itens), "Relacionamento pessoal" (três itens), "Emoções" (três itens), "Sono/disposição" (dois itens), "Medidas de gravidade" (5 itens). Os dados foram coletados nos meses de setembro a dezembro de 2014, compilados e analisados por meio do programa estatístico SPSS, versão 20.0. O estudo foi avaliado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da MEAC/UFC, sendo aprovado com o parecer número 770.902.

Resultados e Discussão


A avaliação da QV de mulheres que relataram IU por meio do instrumento KHQ indica que que quanto maior a pontuação obtida, pior é a QVRS relacionada àquele domínio. Assim, obteve-se os seguintes resultados iniciando pelo domínio que obteve maior média, e portanto, o domínio mais afetado para o que obteve menor média: "Percepção Geral da Saúde" com média e desvio-padrão de 24,2 ± 21,0; Impacto da incontinência, 18,4 ± 27,0; Limitação das atividades diárias, 13,8 ± 24,7; Limitações físicas, 10,7 ± 25,5; Sono 10,5 ± 24,3; Medida de gravidade 8,6 ± 18,4; Emoções, 7,0 ± 18,8; Limitações sociais, 5,7 ± 16,4; Relações pessoais 3,5 ± 14,2. Os resultados evidenciaram que o domínio mais afetado pelas mulheres com IU foi o de "Percepção geral da saúde" e o domínio "Impacto da incontinência", seguido da "Limitação das atividades diárias". Os valores de p relativos ao teste de Conover para comparações múltiplas evidenciaram que a média do domínio "Percepção geral da saúde" e "Impacto da incontinência" diferiu de todos os demais (p<0,001). Já o domínio "Limitação das atividades diárias" diferiu de "Limitações sociais" (p<0,0006), "Relações pessoais" (p<0,0001), e "Emoções" (p<0,004). DISCUSSÃO: A propedêutica da investigação clínica da IU deve se iniciar de forma obrigatória por meio de uma apurada anamnese, pois muitas mulheres não relatam esse desconforto para os profissionais de saúde, pois acreditam que essa condição é própria da gestação, além da vergonha e o constrangimento associado a essa queixa. Dessa forma, por meio do instrumento KHQ, identificou-se que os domínios mais afetados foram: "Percepção geral da saúde", "Impacto da incontinência" e "Limitação das atividades diárias", respectivamente. Pesquisa realizada com 492 gestantes com 34 semanas, na Irlanda do Norte, apresentou resultados semelhantes aos da presente pesquisa, com o domínio "Percepção geral da saúde" tendo média 25,0, com "Impacto da incontinência" de 16,7 para gestantes com urge-incontinência e 16,7 também para o domínio "Limitação das atividades diárias" (DOLAN et al., 2004). Apesar desses números, de forma geral, percebe-se que as mulheres apresentaram pouco impacto em sua QV na gestação relacionada à IU. No entanto, a investigação prévia da IU na gestação deve fazer parte da rotina da consulta de enfermagem de pré-natal a fim de diminuir ainda mais esse impacto, e principalmente, atuar na perspectiva da prevenção desse agravo. Por outro lado, Leroy e Lopes (2012) encontraram em seu estudo desenvolvido com 344 puérperas (77 casos e 267 controles) com até 90 dias de pós-parto as seguintes médias para os respectivos domínios: "Percepção geral da saúde" (31,2), "Impacto da incontinência" (73,6) e "Limitação das atividades diárias" (59,1). Comparando com os dados desse estudo, percebe-se que não houve um aumento substancial no domínio "Percepção geral da saúde". Entretanto o "Impacto da incontinência" e a "Limitação das atividades diárias" tiveram aumentos significativos. Assim, tais informações reforçam a grande importância que o enfermeiro assume na prevenção e na orientação acerca dessa condição durante o pré-natal, uma vez que as mulheres caracterizavam-se como um pré-natal de baixo risco, acompanhadas provavelmente por enfermeiros no setor público. Além disso, a investigação partindo do enfermeiro, já no pré-natal, pode contribuir para o encorajamento das mulheres a procurarem o tratamento para IU, caso sejam acometidas por essa problemática no puerpério, pois sabe-se que sentimentos como vergonha e constrangimento acompanham essa disfunção.

Conclusão


A análise da QVRS de gestantes incontinentes mostrou que a IU causa pouco impacto nas atividades físicas, nas relações sociais, pessoais, emoções e no sono. As gestantes incontinentes sentiram-se mais afetadas quanto ao desempenho das atividades diárias, impacto da incontinência e percepção geral de saúde indicando que esse sintoma interfere na QV de gestantes, devendo ser investigada de forma rotineira pelos enfermeiros nas consultas de pré-natal.       

Referências


BEZERRA, L. R. P. S.; NETO, J. A. V.; VASCONCELOS, C. T. M.; AUGUSTO, K. L.; KARBAGE, S. A. L.; FROTA, I. P. R. Temas em Uriginecologia. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2013.

 

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MONTENEGRO, C. A. B; REZENDE FILHO, J. R. Obstetrícia fundamental. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 724 p.

 

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