ESPIRITUALIDADE E ENFERMAGEM: UMA REFLEXÃO TEÓRICA.

IGOR DE FREITAS

Co-autores: ALLANA CHRISTIE COUTINHO GUIMARÃES, LAURO INÁCIO DE MOURA NETO e MICHELL ÂNGELO MARQUES ARAÚJO
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

Introdução


A espiritualidade constitui-se como uma experiência multidimensional complexa e inata do ser humano, sendo composta por aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais (ANANDARAJAH, 2001). Os aspectos cognitivos revelam a busca por propósito de vida e a formação de crenças e valores que irão influenciar os indivíduos em grande parte de suas escolhas. Além disso, a forma como se estabelece a relação com o meio em que se vive - aspecto emocional-  e os variados modos de expressar a espiritualidade - aspecto comportamental-  demonstram a necessidade latente de integração entre corpo, mente e espírito. Explorar a espiritualidade em seus aspectos básicos é primordial para compreender a integralidade do ser humano e alcançá-lo de forma efetiva. No âmbito da saúde, perceber o indivíduo como um ser multidimensional e individual é de extrema importância para a prestação de um cuidado holístico e direcionado para as demandas específicas de cada um. Deve-se abandonar as concepções unicamente biologicistas e buscar abranger também o cuidado espiritual e emocional, ao contrário não será possível prestar uma assistência integral. Vale ressaltar que a espiritualidade afeta as decisões de saúde dos indivíduos, podendo favorecer ou complicar seu estado (STEWART et al., 2012). É muito comum que se confunda espiritualidade e religião, o que pode acabar dificultando a definição precisa de cada conceito. A religião é entendida como um sistema organizado de crenças, práticas e símbolos projetados para facilitar a proximidade com o transcendente (KOENIG, 2012), estando intimamente ligada à cultura e funciona como uma das formas de expressar a espiritualidade e promover saúde. Outra forma de se alcançar e vivenciar a espiritualidade dá-se por meio da arte, que propicia a expressão de sentimentos e emoções que podem capacitar o indivíduo para pensar, suportar e querer mudar sua situação. Sendo assim, se favorece o entendimento do processo saúde-doença e se permite o protagonismo do cliente em seu tratamento e na progressão de sua qualidade de vida.  Da mesma forma, ao não se permitir a reflexão sobre os conflitos e expressão das demandas espirituais, pode-se dificultar o processo de recuperação e cura.   

 

Objetivo


Refletir acerca da espiritualidade, de sua relação com a saúde e da atuação do enfermeiro como profissional promotor do cuidado espiritual em saúde.

 

Metodologia


Esta reflexão teórica parte de estudo de revisão bibliográfica a respeito dos temas "espiritualidade", "religião" e "enfermagem". A mesma envolveu a leitura, análise e interpretação de artigos que deram suporte às fases construtivas. Foram consultadas as bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e SciVerseScopus (SCOPUS). Para complementaridade foram consideradas experiências acadêmico-profissionais dos autores, referentes aos trabalhos da Liga Acadêmica de Cuidado Espiritual em Saúde (LACES), da Universidade Federal do Ceará.

 

Resultados e Discussão


Desde a graduação os enfermeiros são formados com ênfase no tratamento clínico, destacando o aperfeiçoamento na realização de técnicas para o cuidado físico da saúde, entretanto é crescente o reconhecimento da necessidade de promoção do cuidado espiritual e a quantidade de interessados pela temática.  A literatura aborda a importância de preparar os enfermeiros para lidar com as demandas espirituais de seus clientes, contudo ainda há dificuldades de abordar como o fazer de forma efetiva (ISAAC et al., 2016). É essencial ressaltar que nessa busca pela compreensão espiritual, o profissional não é responsável por oferecer respostas, mas sim por propiciar o levantamento de questões que gerem reflexão e possam ser respondidas pelo próprio cliente, baseado em suas experiências e naquilo que acredita. Para isso o profissional deve saber interagir, de forma que os ajude inclusive a buscar um sentido para suas vidas (ARAÚJO et al., 2008). Há várias formas de promover o cuidado espiritual em saúde, ter criatividade e saber improvisar são ações importantes para enfermeiro ao planejar suas ações.  Seja por meio de atividades grupais ou individuais - respeitando as preferências de cada paciente-  é possível realizar o cuidado espiritual. Pode-se usar a arte, o relacionamento terapêutico, a religião, dentre outros, sempre objetivando ajudar na reflexão sobre si e sobre o ambiente no qual se está inserido e no insight da situação vivida. Na grande maioria das vezes, o cuidado espiritual não requer arsenal tecnológico ou materiais de difícil acesso para sua execução, sendo esta uma das maiores vantagens para a equipe de saúde. Entretanto, uma dificuldade para a promoção do cuidado espiritual pode ser o desconhecimento do enfermeiro quanto às suas próprias demandas. Nessa perspectiva, é fundamental que o profissional também busque autoconhecimento e uma compreensão ampla de suas demandas espirituais, psicológicas e emocionais, para que consiga lidar com o sofrimento do outro. A percepção do profissional de enfermagem que transcende conhecimentos puramente biologicistas tende a proporcionar um cuidado prestado de maneira efetivo e integral, o que favorece a terapêutica e cura.

 

Conclusão


Portanto, destaca-se a importância de conhecer a espiritualidade como uma experiência humana frequente e relevante. Também se entende como primordial perceber o valor da espiritualidade na prestação de um cuidado completo e eficaz, responsável por melhorar e promover a saúde. Igualmente, é fundamental que se discuta como pode ser feita a aproximação com o cuidado espiritual desde a graduação, para que os enfermeiros não deixem de conhecê-lo e executá-lo. Sem o atendimento das demandas espirituais, jamais será possível alcançar o conceito mais abrangente de saúde englobando todos os âmbitos do bem-estar, perpassando pelo físico, emocional e espiritual.

 

Referências

ANANDARAJAH, Growri; HIGHT, Ellen. Spirituality and medical practice: using the hope questions as a practical tool for spiritual assessment. American Family Physician, Providence, v. 63, n. 1, p. 81-88, jan. 2001.

 

STEWART, William C. et al. Review of Clinical Medicine and Religious Practice. Journal Of Religion And Health, [s.l.], v. 52, n. 1, p.91-106, 7 mar. 2012. Springer Science + Business Media.

 

KOENIG, Harold G.. Religion, Spirituality, and Health: The Research and Clinical Implications. Isrn Psychiatry, [s.l.], v. 2012, p.1-33, 2012. Hindawi Publishing Corporation.

 

ISAAC, Kathleen S.; HAY, Jennifer L.; LUBETKIN, Erica I.. Incorporating Spirituality in Primary Care. Journal Of Religion And Health, [s.l.], v. 55, n. 3, p.1065-1077, 30 jan. 2016. Springer Science + Business Media.

 

ARAÚJO, Michell A. M. et al. A logoterapia e suas relações com os cuidados de enfermagem em saúde mental. Rev Rene, Fortaleza, v. 9, n. 4, p.158-164, out. 2008.