Introdução
A Enfermagem, como profissão da área da saúde que permanece mais tempo ao lado do cliente (BENSING; VISSER; SAAN, 2001), e assumindo-se como importante núcleo para o acesso da população à saúde, deve fazer uso de ferramentas para promover o bem-estar bio-psico-sócioespiritual e emocional do indivíduo, independente do ambiente onde este esteja inserido ou do nível de atenção em que o cuidado se encontra. No que diz respeito à promoção da saúde mental, muitos artifícios podem ser utilizados para se chegar a este objetivo, como a criação de grupos terapêuticos, o estabelecimento de relacionamento terapêutico, a sensibilização da família para a atenção e cuidado necessários em cada um dos casos, entre outros. A criação de grupos terapêuticos favorece a interação entre os clientes e profissionais, além da socialização de problemas muitas vezes guardados para si. Essa socialização facilita o convívio com algumas das limitações causadas pelas psicopatologias, assim como funciona como 'válvula de escape' para muitas situações vividas rotineiramente pelos participantes, que só em momentos como este se sentem à vontade para conversar acerca delas. Grupos terapêuticos têm potencial para servir como componentes-chave de programas comunitários de saúde mental em diversas realidades, visto que não exigem arsenal tecnológico de grande valor econômico e tendem a facilitar a reinserção social e fornecer suporte prático para a correta interpretação das situações vivenciadas pelos participantes (COHEN et al., 2012).
Objetivo
Descrever a experiência de se realizar atividade de promoção à saúde mental na perspectiva de acadêmicos de Enfermagem.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência acerca de atividade de promoção à saúde mental realizada em um Centro de Atenção Psicossocial Geral (CAPS Geral) localizado em Fortaleza/CE no mês de junho do ano de 2015. O serviço é referência na área da saúde mental e atende pessoas com sofrimentos mentais graves por meio de grupos terapêuticos, acompanhamento de serviço social, consultas de enfermagem e médicas, arteterapia entre outros. A atividade foi direcionada aos clientes atendidos no CAPS Geral e que participam de um grupo terapêutico que se reúne semanalmente na unidade, e foi facilitada por três acadêmicos de Enfermagem de uma Universidade Pública Federal do estado do Ceará, sob supervisão de uma enfermeira docente orientadora e do psicólogo responsável pelo grupo na unidade. É importante ressaltar que foram atendidas as exigências da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados e Discussão
Durante a realização da atividade estiveram presentes 19 pessoas, das quais 5 eram integrantes da equipe facilitadora e 14 eram clientes do serviço. O momento se estendeu por 90 minutos, sendo dividido em três etapas: 1. Exposição das expectativas dos clientes para o momento, 2. Expressão das dificuldades e situações vivenciadas pelos clientes no dia-a-dia que consideram importantes desde a última sessão e 3. Relaxamento corporal guiado pelos acadêmicos e encerramento. Na primeira parte da atividade, os participantes foram dispostos sentados em círculo e foi oferecida oportunidade para que todos pudessem expor como estavam se sentindo na ocasião e quais as expectativas para aquele encontro. A maior parte demonstrou interesse em se expressar, relatando que se sentiam dispostos a participar e que esperavam sentir-se melhor ao final da reunião. No segundo momento, os clientes foram estimulados a comentar sobre suas alegrias e angústias que tivessem interessem em expressar no grupo. Dois integrantes se dispuseram a comentar sobre acontecimentos que os incomodaram. A primeira, uma mulher integrante do grupo há um ano, diagnosticada com transtorno afetivo bipolar, referiu se sentir angustiada com a situação da unidade, que não tem disponibilizado o auxílio-transporte para que as pessoas atendidas no CAPS Geral possam continuar o tratamento. Os demais participantes disseram compartilhar do sentimento de angústia e de se sentirem impotentes frente à situação. O segundo integrante a se expressar foi um homem que frequentava o grupo há 2 meses e possuía diagnóstico de esquizofrenia. Ele referiu estar enfrentando dificuldades com sua família, pois sua irmã o privava de ter acesso ao seu benefício financeiro que deveria o auxiliar em suas despesas. Durante toda a atividade os facilitadores assumiram postura empática e receptiva, inclusive expondo situações que já vivenciaram, contribuindo na criação de ambiente devidamente acolhedor. A prática de se utilizar experiências pessoais por parte dos profissionais em circunstâncias de terapia em grupo tem impacto positivo (PRATT et al., 2013). Na terceira etapa os acadêmicos facilitaram uma sessão de relaxamento coletivo com base em auto percepção corporal. Os participantes foram dispostos deitados em colchonetes em uma sala com luz baixa e instruídos a fecharem os olhos e assumirem uma postura confortável. Em seguida apresentou-se uma música, quando simultaneamente os acadêmicos davam comandos verbais para que os participantes pudessem ter uma percepção sensorial de cada parte do seu corpo, promovendo um relaxamento corporal e um ambiente acolhedor. Ao final da sessão de relaxamento houve o encerramento da atividade, momento no qual cada um dos presentes teve a oportunidade de compartilhar como estava se sentindo. Todos referiram melhora da autoestima e maior disposição física e mental para lidar com situações de venham a ocorrer, além de estarem com uma maior esperança no tratamento e em suas forças pessoais.
Conclusão
A atividade se mostrou bastante enriquecedora para o grupo de acadêmicos que a intermediou, além de igualmente positiva aos clientes do CAPS Geral que participaram. A equipe de Enfermagem deve se mostrar disposta a atuar efetivamente no campo da saúde mental, reforçando o entendimento de que é preciso cuidar do cliente de maneira integral e holística, e promover seu bem-estar bio-psico-socioespiritual e emocional. Nessa perspectiva, os grupos terapêuticos podem auxiliar na expressão de demandas dos participantes e na reflexão pessoal de como lidar com possíveis conflitos, configurando-se como importante ferramenta que pode ser utilizada pelo enfermeiro e por toda a equipe de Enfermagem.
Referências
COHEN, Alex et al. Sitting with others: mental health self-help groups in northern Ghana. Int J Ment Health Syst, [s.l.], v. 6, n. 1, p.1-8, 21 mar. 2012. Springer Science + Business Media.
BENSING, Jozien M; VISSER, Adriaan; SAAN, Hans. Patient education in The Netherlands. Patient Education And Counseling, [s.l.], v. 44, n. 1, p.15-22, jul. 2001. Elsevier BV.
PRATT, Rebekah et al. Experience of Wellness Recovery Action Planning in Self-Help and Mutual Support Groups for People with Lived Experience of Mental Health Difficulties. The Scientific World Journal, [s.l.], v. 2013, p.1-7, 2013. Hindawi Publishing Corporation.
SOUZA, Angela Maria Alves e. Como coordeno o grupo terapêutico de apoio ao luto PLUS+ Transformação. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015.