A PRIORIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ESPONTÂNEO E O DISTANCIAMENTO DAS AÇÕES DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
Eysler Gonçalves Maia Brasil1; Maria Veraci Oliveira Queiroz1; Raimunda Magalhaes da Silva2.
1. Universidade Estadual do Ceará-Fortaleza.
2.Universidade de Fortaleza
Email apresentador do trabalho: eyslerbrasil@ig.com.br
EIXO III: Enfermagem, Saúde e Sociedade: Encontro nos territórios.
Introdução
A promoção da saúde na escola vem se confirmando nas políticas e programas destinados aos adolescentes. O Programa Saúde na Escola (PSE), estratégia intersetorial entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação vem fortalecer estas ações com estudantes de escola pública, incluindo o adolescente. A adolescência é uma fase marcada por mudanças no crescimento e no desenvolvimento favorecendo a formação da identidade. Pode ser considerada ainda como uma categoria sociocultural, historicamente construída a partir de critérios múltiplos que abrangem tanto a dimensão bio-psicológica, quanto à cronológica e a social (FERREIRA et al., 2007). Assim, é necessário entender o contexto no qual vivem; suas características relacionadas aos aspectos biológicos, psicossociais e culturais; destacar o conhecimento suas necessidades, a identificação das redes de atenção à saúde e ações intersetoriais, incluindo a escola. Neste sentido, o PSE vem contribuir para a formação integral dos adolescents por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde realizadas de modo intersetorial. Este recorte da pesquisa sobre promoção da saúde dos adolescentes na escola traz uma das questões: como estão sendo desenvolvidas as ações de saúde a este grupo no contexto do PSE? O objetivo foi descrever o desenvolvimento das ações de promoção da saúde com adolescentes, o distanciamento e as prioridades do atendimento espontâneo na visão dos profissionais da saúde e da educação.
Metodologia
Estudo descritivo, analítico na abordagem qualitativa, com a finalidade de compreender o fenômeno, conforme o ponto de vista dos sujeitos expresso em suas particularidades utilizando os pressupostos da pesquisa-ação. Trata-se, portanto uma pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual pesquisadores e participantes envolvem-se de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2013). Participaram da pesquisa 39 profissionais, entre eles, gestores e profissionais da saúde lotados em duas unidades de saúde e duas escolas da rede pública municipal de Fortaleza da Coordenadoria Executiva Regional IV, no primeiro semestre de 2015. Utilizou-se a entrevista semi-estruturada que foram processadas através do software ALCESTE versão 2012, o qual selecionou 676 u.c.e., agrupadas em três classes lexicais, aqui descreve-se a Classe 1 (94 u.c.:e.) denominada: a priorização do atendimento espontâneo e o distanciamento das ações de promoção da saúde. A pesquisa cumpriu os procedimentos éticos e teve aprovação do Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará sob parecer no CAAE 30763213.7.0000.5534.
Resultados e Discussão
A classe "A priorização do atendimento espontâneo e o distanciamento das ações de promoção da saúde" é formada por 94 u.c.e. (15% do corpus de análise) e 101 palavras analisáveis. Os achados mostram que os profissionais destacam as mudanças no processo de trabalho, o qual prioriza o atendimento espontâneo, situação que os afasta cada vez mais de atividades programadas na escola com os adolescentes. Dessa maneira, não há espaço para a atuação dos profissionais em ações intersetoriais, como é o caso do trabalho integrado com a escola. A classe expressa as representações dos participantes sobre a demanda espontânea, manifestas nas palavras mais significativas: pacientes, atendimento, emergência, hipertenso, diabetes. Assim, os entrevistados ressaltam a priorização do atendimento na emergência em detrimento dos atendimentos agendados, seguindo orientações da Estratégia Saúde da Família para os grupos de usuários: crianças, gestantes, hipertensos, diabéticos, dentre outras demandas. Assim, expressam o recorte de suas falas:
Está tendo um desequilíbrio, os casos agudos estão sendo prioridade aqui no nosso atendimento, estão sendo cerca de mais de cem pelo menos por semana, enquanto diabético e hipertenso são trinta e dois, oito pré-natais, e de outras consultas. (uce n° 369;Phi = 0,06;uci n° 22 : *ent_22 *ida_2 *pro_6 *pos_1 *tem_1 *vin_3 *car_3 *K_1).
Você vê que a maior parte da nossa agenda hoje em dia está sendo para atendimento de quadros agudos, de emergências, projeto que funciona de sete horas da manhã às sete horas da noite e colocou turnos para você atender as emergências. (uce n° 288 Phi = 0,06 uci n° 21 : *ent_21 *ida_2 *pro_6 *pos_2 *tem_1 *vin_3 *car_3 *K_1).
O departamento de atendimento espontâneo, se você for ver, todo profissional tem uma carga horária, na verdade são quinze horas semanais para cada profissional, se você for ver quinze horas semanais dedicados a atendimento de emergência é uma carga horária muito maior do que a dedicada pros pacientes hipertensos, diabéticos e gestantes. (uce n° 302; Phi = 0,08; uci n° 21 : *ent_21 *ida_2 *pro_6 *pos_2 *tem_1 *vin_3 *car_3 *K_1)
Deste modo, é expresso pelos profissionais, dentre eles enfermeiros, este deslocamento da carga horária maior destinada ao atendimento dos usuários na demanda espontânea, e os mesmos profissionais tem que desenvolver as ações programadas voltadas às doenças crônicas como hipertensão e diabetes, acompanhamento pré-natal, de puericultura entre outros, de fato uma priorização da atenção básica, não restando tempo para qualquer atividade nas escolas.
A organização das demandas espontânea e programada na Atenção Primária à Saúde (APS), têm sido um grande desafio para as equipes da ESF, como também para os gestores manter um acolhimento organizado e resolutivo. Entretanto, ressalta-se que um dos desafios também da atenção básica são aqueles relacionados ao acesso e ao acolhimento, à efetividade e resolutividade das suas práticas, à capacidade de gestão e coordenação do cuidado (BRASIL, 2011).
Os atendimentos de quadros agudos na emergência são prioridade em detrimento das ações de promoção da saúde. Os participantes da pesquisa relatam que não há tempo para atividades de educação em saúde, o que a gestão solicita são números de atendimentos, e não qualidade no atendimento. Ressaltam ainda que não há atividades com adolescentes, só consultas individuais, na demanda espontânea, não há planejamento das ações. Nesta perspectiva, com relação às ações de promoção da saúde, o PSE apresenta desafios na sua implementação, falta integração entre os dois setores, planejamento, cronograma das ações e disponibilidade dos profissionais da educação e da saúde para atuar no programa.
Conclusão
No que se refere às ações de promoção da saúde, o PSE apresenta desafios na sua implementação, principalmente a priorização do atendimento espontâneo, a falta de integração entre os dois setores, o planejamento, o cronograma das ações e disponibilidade dos profissionais da educação e da saúde para atuar no programa.
Contudo, em seus discursos apontam possibilidades se houver um esforço coletivo, um bom planejamento dos gestores e profissionais da saúde e da educação. Por meio das discussões e pactuação durante os seminários, atividades da pesquisa-ação,incentiva-se a equipe de saúde da família a conquistar espaços, principalmente o da escola, para incluirem seu processo de trabalho o desenvolvimento de ações de promoção à saúde com adolescents colaborando na implementação do PSE.
Referência
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília, 2011.
FERREIRA, M. A.; ALVIM N. A. T.; TEIXEIRA, M. L. O.; VELOSO, R. C. Saberes de adolescentes: estilo de vida e cuidado à saúde. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 217-224, 2007.
THIOLLENT, M. Fundamentos e desafios da pesquisa-ação: contribuições na produção de conhecimentos interdisciplinares. In: TOLEDO, Renata Ferraz de; JACOBI, Pedro Roberto (org). A pesquisa-ação na interface da Educação, Saúde e Ambiente: princípios, desafios e experiências interdisciplinares. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2013.