A REDE CEGONHA EM FORTALEZA, CEARÁ: IMPACTO SOBRE O NÚMERO DE PARTOS CESARIANOS

MONALISA RODRIGUES DA CRUZ

Co-autores: , DIEGO DA SILVA MEDEIROS, MARIA RAQUEL RODRIGUES CARVALHO, RITA DE CASSIA GADELHA DA SILVA, FRANCISCO ANDERSON CARVALHO DE LIMA e PROFª DRª MARIA SALETE BESSA JORGE
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

A Rede Cegonha em Fortaleza, Ceará: impacto sobre o número de partos cesarianos

 Monalisa Rodrigues da Cruz 1

Diego da Silva Medeiros2

Maria Raquel Rodrigues Carvalho3

Rita de Cassia Gadelha da Silva4

Francisco Anderson Carvalho de Lima5

Profª Drª Maria Salete Bessa Jorge6

 

INTRODUÇÃO: Em decorrência de constante processo de novas demandas de cuidado e tentativas de aprimoramento do Sistema Único de Saúde (SUS), surgem as Redes de Atenção à Saúde (RAS) que se definem, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) como "arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado. A Rede Cegonha (RC) que tem o intuito de implementar um novo modelo de atenção à saúde da mulher e da criança, organiza a Rede de Atenção que garanta acesso, acolhimento e resolutividade e reduzir a mortalidade materna e neonatal (BRASIL, 2011). A estrutura organizacional da RC é composta por quatro componentes: Pré-Natal; Parto e Nascimento; Puerpério e Atenção Integral à Saúde da Criança; e Sistema Logístico. Apesar da recente criação da RC em 2011, movimentos em prol da assistência pré-natal vêm ocorrendo desde a década de 80. Desde 1985, a Organização Mundial de Saúde reforça a afirmativa de ser injustificável uma taxa de partos cesarianas acima de 15%, pois aumentam o risco de mortalidade perinatal. Sabe-se que o aumento das taxas de cesariana no Brasil foi bastante expressivo nos últimos anos. Esse indicador manteve-se estável no período de 2000 a 2003, mas esta cirurgia foi tão banalizada que em algumas regiões do país ultrapassa os 80% (BRASIL, 2008). A cesariana, quando não tem indicação ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê.

OBJETIVO: Verificar o impacto da criação da Rede Cegonha da redução de partos cesarianos realizados em Fortaleza.

METODOLOGIA: A pesquisa consistiu-se em investigar o número de partos cesarianos e normais realizados em Fortaleza nos quatro anos após a implantação da Rede Cegonha, comparando estes números com aqueles correspondentes aos quatro anos que antecederam a criação da Rede. Estes dados foram obtidos no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), onde foi selecionado as seguintes categorias: ano de 2007 a 2015, de parto realizado, sendo dividido em três categorias: vaginal, cesáreo e ignorado. Após a seleção das categorias foi realizada a coleta de dados e a confecção de uma tabela para realização da interpretação dos dados obtidos.

RESULTADOS/DISCUSSÃO: O parto operatório em gestações de risco, torna-se importante quando da indicação precisa para diminuição do risco da mortalidade materna e infantil (GIGLIO, et al 2005).  De acordo com o MS, em 2010, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais. Enquanto em 2009 o país alcançava uma proporção de 50% de partos cesáreos, em 2010 a taxa subiu para 52%. Na rede privada, o índice de partos cesáreos é ainda maior chegando a 82% e na rede pública, 37%. No Ceará, a proporção de partos cesáreos chegou a 55,5% em 2012 (BRASIL, 2013). Em Fortaleza ocorreu um aumento de 13,11% no número de cesárea realizada no período de 2007 a 2015. De acordo com os dados obtidos no SINASC, em 2007 o município de Fortaleza registrou um total de 38.290 partos, sendo que 52,99% destes foram realizados através de procedimento cirúrgico e 46,60% de forma natural. Já em 2008 esse valor teve um aumento de 3,47% em relação ao ano anterior, totalizando 56,46% de cesarianas realizadas e diminuindo para 43,30% a realização do parto normal, neste ano o número de partos realizados foi de 38.230.  Em 2009 continuou a ascensão do número de cesarianas realizadas em Fortaleza, tendo um aumento de 2,97% comparado ao ano antecedente. O ano de 2010 mostrou o maior aumento do número de cesárea realizada, sendo esse de 5,27% em relação ao ano de 2009. Esse fato ocorreu de maneira inversa em relação aos números de partos vaginal realizados nesse mesmo período, que passou de 40,41% para 34,81%, o que mostra uma redução de 5,6%. De acordo com Domingues et al. (2014), esse aumento ocorreu, devido a escolha da própria mulher por esse tipo de parto, por ter realizado uma cesariana anterior, e o estudo também aponta que o número elevado de cesariana está relacionada aos países menos desenvolvidos.  Em 2011 com a implementação da RC tinha-se como intuito a diminuição das cesáreas eletivas, porém de acordo com os dados obtidos não foi isso que ocorreu em Fortaleza, pois a partir desse ano o número de cesarianas continuou tendo um aumento significativo, totalizando 67,29% em 2011; 70,50% em 2012; 71,27% em 2013. Segundo Nakano et al (2015), as justificativas relacionados ao aumento na escolha da cesariana é que o parto vaginal ainda é visto como mais doloroso, mais arriscado para bebê e mãe, mais lesivo para o corpo e a sexualidade da mulher e de cesáreas salvadoras atuam de modo importante na elaboração de valores relacionados ao parto e ao nascimento. Isso mostra que apesar da implementação da RC em 2011 a cultura e a falta de informação da população influenciam nos números de cesarianas realizadas. Já no ano de 2014 o número de cesariana teve declínio de 2,06%, enquanto o número de partos vaginal obteve um aumento de 2,03% em relação ao ano anterior. Em 2015 a queda no número de cesariana manteve-se, porém neste ano a porcentagem passou a ser de 3,11% em relação ao ano anterior, além desse fato ocorreu um aumento nos partos vaginal de 3,2%. Essa diminuição pode ser relacionada as iniciativas e políticas públicas que vêm sendo consolidadas com o intuito de alterar o paradigma da assistência ao parto.(BRASIL, 2011).

CONCLUSÃO: A tendência de aumento do número de partos realizados através da cesariana em Fortaleza ao longo dos quatro anos que antecedem a implementação da RC e aos quatro anos que sucedem a RC, foi mostrada pelos dados do SINASC. A proporção de partos cesáreos realizados em Fortaleza teve seu maior índice em 2013, alcançando a inaceitável porcentagem de 71,27%, pois de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), taxas de cesariana acima de 15% sugerem uso abusivo deste procedimento (BRASIL, 2012). No entanto, pode-se notar a redução nas taxas de cesarianas nos anos 2014 e 2015, o que sugere um progresso que está intimamente relacionado a RC. Contudo, mesmo com os avanços e as mudanças de modelo de assistir a mulher, estimulando o parto normal e reduzindo as intervenções no processo de nascimento, constatou-se que os conhecimentos adquiridos não dão conta de superar a cultura da cesariana, construída socialmente.