A PERCEPÇÃO DE ENFERMEIRAS ENQUANTO RESIDENTES MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE DA FAMÍLIA

ANA OSMARINA QUARIGUASI MAGALHÃES FROTA

Co-autores: , BIANCA WAYLLA RIBEIRO DIONÍSIO, FLAVIANE MELO ARAÚJO, LORENA TIMBÓ VEIGA DOS SANTOS e FRANCISCA IZARLÂNDIA SOUSA ARAGÃO
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

INTRODUÇÃO

O reconhecimento do papel do enfermeiro no contributo para o estabelecimento de relações sociais na produção de serviços em saúde, enquanto capacidade de intervenção humana inscreve-se no plano subjetivo das relações sociais, reconstruindo-se no quotidiano através da produção de ideias compartilhadas pelos diversos atores profissionais e sociais (Rocha e Almeida, 2000; Pires, 2007). Para Peixoto e Silva (2011), é dever do enfermeiro incentivar a equipe multidisciplinar no desenvolvimento de ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação da saúde em nível individual e coletivo, em que cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais profissões e nas instâncias do SUS. Além disso, o enfermeiro precisa utilizar e desenvolver a criticidade para analisar os problemas da sociedade e procurar soluções que estejam de acordo com a realidade de cada pessoa. Aliado a isso e na perspectiva de integrar as dimensões biopsicossociais para o cuidado dos indivíduos, famílias e comunidades com novos modos de agir e de interagir com a prática, que o Programa da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) foi apresentado como estratégia de reorientação da Atenção Básica para a implantação/reorganização dos serviços públicos embasados na lógica do SUS, com vistas a instituir um arsenal de profissionais com perfil para modificar práticas atuais e para criar uma nova cultura de intervenção e de entendimento da saúde, através da formação em serviço (Melo et al, 2012). O Município de Sobral foi pioneiro em conceber uma escola para qualificação permanente dos profissionais da área da saúde em 1999, a Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia (EFSFVS). A EFSFVS foi instituída a partir da comprovação da necessidade de readequar e intensificar o processo de formação dos trabalhadores, gestores, controle social e educadores (discentes e docentes) da saúde (Escorel, 2002). E atualmente coordena a 12ª e a 13ª Turma de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, contando com dez categorias profissionais. O trabalho em equipe multidisciplinar exige não só colaboração, mas, sobretudo interação e negociação entre os seus membros, visando o desenvolvimento de capacidades de entrelaçamento multidisciplinar na construção de uma interdisiplinaridade pensada e executada na práxis de saúde e no cuidado ao ser humano (Neves, 2012). Esse trabalho objetiva abordar a vivência de atuação do enfermeiro residente na atenção básica junto à equipe multidisciplinar.

METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência de enfermeiras residentes em Saúde da Família do programa de RMSF da EFSFVS, que iniciaram suas inserções nos territórios em Abril de 2015 no município de Sobral -CE. Cada profissional de enfermagem tem um cenário de prática diferenciado, o que possibilitada à ampliação do cuidado em distintos territórios, onde a enfermeira residente apresenta uma área territorial menor, pois se leva em consideração a proposta da formação em serviço, a carga horária de 60h semanais que inclui vivência teórico-prático. Corresponsabiliza-se pelo desenvolvimento de ações e assistência integral, equitativa e humanizada do cuidado com as demandas continuadas, espontâneas e agendadas preconizadas pelo Ministério da Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A enfermagem e seu fazer profissional engloba diversos fatores que vão desde atividades de cuidado continuado, demanda espontânea, procedimentos ambulatoriais até questões gerenciais e burocráticas. Presta atendimentos clínicos, com escuta qualificada e comprometimento com o usuário. Podemos citar como exemplo os pré-natais, puericulturas, cuidados aos pacientes com doenças crônicas e doenças infectocontagiosas, realização de curativos, imunizações e gerenciamento de serviços, dentre outros. Desse modo, é vista como a profissão que está à frente no atendimento às necessidades de saúde da população, mas sem desconsiderar os demais profissionais da equipe de saúde. Quando trabalhamos sob a ótica da Estratégia Saúde da Família (ESF), o trabalho da enfermagem não se resume só a clínica e atendimentos pontuais. Como a ESF aponta para a importância da promoção da saúde, não somente na questão assistencialista, faz-se necessário termos como foco no nosso trabalho a promoção e a prevenção da saúde. Baseado nisso, precisamos conhecer o território no qual estamos inseridos e perceber suas potencialidades. A estratégia do PSF estimula a implantação de um novo modelo, em que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) são transformadas em Unidades de Saúde da Família, tendo com um de seus principais objetivos a geração de práticas de saúde que possibilitem a integração das ações individuais e coletivas. Para tanto, utiliza o enfoque de risco como método de trabalho, o que tem favorecido o aproveitamento ideal dos recursos e a adequação destes às necessidades apontadas pela população (Ministério da Saúde, 2001). Pensando em melhorar ainda mais o atendimento dispensado aos usuários o Ministério da Saúde lançou os programas de residência em saúde. Alguns desses com equipe multiprofissional. A Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) tem o objetivo de formar profissionais de saúde, não médicos, com vistas a superar a segmentação do conhecimento e do cuidado na atenção em saúde. Essa modalidade de formação profissional oferece titulação em pós‑graduação lato sensu, utilizando‑se como estratégia de ensino‑aprendizado a formação em serviço (pelo trabalho), mediante acompanhamento e supervisão (BRASIL, 2006). A categoria de enfermagem na residência estando inserida em uma equipe multiprofissional se encontra na função de articuladora para um atendimento diferenciado do usuário, proporcionando um cuidado integral. Isso reforça a necessidade de não somente utilizar o núcleo do saber, mas articular com o campo na efetivação do cuidado ao usuário e família. Essa articulação também possibilita aos profissionais envolvidos se apoderar do saber das demais categorias. É interessante ressaltar também que o residente enfermeiro tem um olhar sensível ao território como um todo. Enquanto enfermeiras residentes atuantes na Residência Multiprofissional em Saúde da Família no município de Sobral é possível vivenciar que o fazer da enfermagem na ESF além das paredes dos consultórios. Trabalha-se com tenda invertida, ou seja, ir até a comunidade e ouvir seus problemas e soluções constituem estratégia de abordagem geral e que não se centra apenas na unidade física que é o centro de saúde. É preciso está junto da comunidade, ouvi-los e fazer com que eles sejam parte do processo saúde-doença-cuidado. A aproximação com os sujeitos dentro do território, do ambiente em que eles vivem, fortalece os vínculos e facilita o cuidado. Com isso, espera-se que as estratégias utilizadas pelos enfermeiros residentes sejam reproduzidas por outros profissionais da categoria a fim de romper com o tradicionalismo curativista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inserção prática da enfermagem na experiência multiprofissional no âmbito da Saúde da Família possibilita a (re)construção dos saberes, uma vez que a vivência acontece ao lado de uma equipe multiprofissional, permitindo a implementação da Clínica Ampliada, a ampliação das formas de cuidado, o compartilhamento dos casos, a articulação dos saberes e das práticas profissionais, transcendendo o trabalho multiprofissional e possibilitando um trabalho interdisciplinar, unindo os conhecimentos de diversas áreas com o objetivo de produção de vida, resolubilidade dos problemas levantados, promoção de saúde através das práticas integrativas com metodologias participativas, utilizando as tecnologias leves em saúde, trabalhando os saberes popular com a educação popular em saúde, bem como trabalhando também a educação permanente em saúde das rodas de equipe dos centros de saúde da família no município. A proposta da RMSF de unir inúmeros saberes engrandece a formação profissional, permitindo que os trabalhares envolvidos possam prestar uma atenção mais qualificada aos usuários da atenção básica, além de intensificar o desenvolvimento do saber crítico, sensibilizar o olhar dos enfermeiros residentes ao cuidado holístico e humanizado a pessoa, família e comunidade, e muitas vezes incentivando a equipe de saúde a mudanças nas estratégias de cuidado, oxigenando o território e assim motivando desde o acolhimento, consultas e procedimentos um serviço de qualidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Residência multiprofissional em saúde: experiências, avanços e desafios. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. p.414.

ESCOREL, S. Avaliação da implementação do Programa Saúde da Família em dez grandes centros urbanos. Brasília: Departamento de Atenção Básica, Secretaria de Políticas de Saúde, Ministério da Saúde; 2002. (Relatório final).

MELO, C.N.M.; CHAGAS, M.I.O; FEIJÃO, J.R.P.; DIAS, M.A.S. Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família de Sobral: uma avaliação de egressos a partir da inserção no mercado de trabalho. SANARE, Sobral, V.11. n.1.,p. 18-25, jan./jun. 2012.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Guia Prático do Programa de Saúde da Família. Brasília (DF): MS; 2001.

NEVES, M.M.A.M.C. O papel dos enfermeiros na equipa multidisciplinar em Cuidados de Saúde Primários - Revisão sistemática da literatura. Revista de Enfermagem Referência. v.3, n. 8, p.125-134, dez. 2012.

PEIXOTO, G.V.; SILVA, R.M. Estratégias educativas ao portador de diabetes mellitus: revisão sistemática. In: Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v. 13, n. 1, p. 74-81, dez. 2011.

PIRES, R. Pela reconstrução dos mitos da enfermagem a partir da qualidade emancipatória do cuidado. Revista da Escola Enfermagem USP. v. 41, n.4, p. 717-723, 2007.

ROCHA, S.; ALMEIDA, M.C. O processo de trabalho da enfermagem em saúde coletiva e a interdisciplinaridade. Revista Latino-Americana de Enfermagem. v. 8, n. 6, p. 96-101, 2000.