PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA AIDS NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL, 2011-2015

THATIANA ARAÚJO MARANHÃO

Co-autores: e MARIA LÚCIA DUARTE PEREIRA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

INTRODUÇÃO

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida/Aids é uma doença crônica que, apesar de mais de 30 anos de sua identificação, permanece um problema de saúde pública que  preocupa e desafia o mundo. Embora a epidemia da aids apresente estabilidade nas suas taxas de incidência, o número de novas infecções permanece alto (UNAIDS, 2013). Segundo o último Boletim Epidemiológico da aids, no período de 1980 até junho de 2015, foram notificados no Brasil 798.366 casos da doença. Nos últimos cinco anos, o Brasil registrou anualmente uma média de 40,6 mil novos casos, sendo 8,2 mil apenas na região nordeste. No estado do Piauí, de 1986, ano em que ocorreu o primeiro caso de aids no estado, até junho de 2015 foram notificados 6.004 casos, o que corresponde a 5,1% das notificações totais da região nordeste (BRASIL, 2015). Assim, tendo em vista que o estado do Piauí tem registrado constantes aumentos no número de casos notificados de aids (ALMEIDA et al., 2015), faz-se necessário conhecer o perfil dos infectados que residem em seu território, bem como a incidência da doença nos municípios que o compõem, com vistas a direcionar a tomada de decisões dos gestores da saúde e de outras áreas sociais no desenvolvimento de políticas públicas para grupos considerados mais vulneráveis.  Em face disso, o presente estudo tem por objetivo descrever o perfil epidemiológico da aids no estado do Piauí nos últimos cinco anos.

METODOLOGIA:

Trata-se de estudo epidemiológico, descritivo e retrospectivo. A coleta de dados se deu no mês de janeiro de 2016 por meio de levantamento na base de dados de domínio público do DATASUS. Foram coletadas informações referentes aos casos de Aids notificados no estado do Piauí de 2011 a 2015 e que foram registrados por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). As variáveis analisadas e que fazem parte da ficha de notificação da aids do SINAN foram sexo, faixa etária, raça, nível de escolaridade e categoria de exposição. Estas variáveis foram analisadas no programa Microssoft Office Excel por meio de estatística univariada, utilizando-se frequências absolutas e relativas. Utilizou-se o software TabWin 3.2 para o cálculo do indicador taxa de incidência da aids nos 224 municípios do estado. Convém ressaltar que uma vez que este estudo foi realizado utilizando-se dados secundários e de domínio público não houve necessidade de submetê-lo ao Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

 

De acordo com o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) foram notificados nos últimos cinco anos no estado do Piauí 2.134 casos de aids. Ao analisar os números referentes aos casos notificados por sexo pode-se observar que, em geral, houve tendência de aumento dos casos nos anos estudados. Os homens são os principais acometidos pela doença (1446; 67,8%), com uma razão de cerca de dois homens infectados para cada mulher infectada (2,1:1). Tal resultado aponta para uma tendência já conhecida, embora a proporção masculino/feminino venha diminuindo ao longo dos anos em virtude do constante processo de feminização da doença (COSTA; SILVA, 2013; PORTO; SILVA; VARGENS, 2014). No entanto, é importante frisar que a proporção masculino/feminino do estado do Piauí encontra-se acima da média nordestina que é de 1,9:1(BRASIL, 2015). No que se refere ao nível de escolaridade, a maior frequência de casos ocorreu entre sujeitos que possuíam o ensino fundamental incompleto (710; 33,7%). Além disso, uma vez que para esta variável foi considerado somente os casos notificados em indivíduos adultos, convém ressaltar que mais da metade destes não havia sequer chegado ao ensino médio (1.277;60,6%). Este resultado é particularmente preocupante tendo em vista que existe associação inversa entre nível de instrução e evasão dos serviços de saúde especializados no tratamento da infecção pelo HIV/aids, o que reflete de modo decisivo sobre o prognóstico do indivíduo que vive com HIV, podendo leva-lo inclusive a morte por abandono de tratamento (SCHILKOWSKY; PORTELA; SÁ, 2011). Os adultos jovens na faixa etária dos 20 aos 34 anos constitui-se a população mais atingida (1.001; 46,9%), seguida dos indivíduos que possuem de 35 a 49 anos (766; 35,9%). Nesse sentido, percebe-se que a aids tem acometido mais frequentemente indivíduos economicamente ativos, assim, a doença representa não apenas um relevante problema de saúde pública, mas também um problema para os demais setores econômicos da sociedade (PAIVA, 2013). Observou-se que cerca de três em cada cinco indivíduos com aids eram da cor parda (1.497;70,2%), seguido pela raça branca (391;18,3%). Esse dado corrobora com o encontrado no país como um todo, uma vez que indivíduos de cor branca ou parda correspondem juntos a mais de 90% da população brasileira (IBGE, 2011). Assim, pode-se inferir que a maior ocorrência de aids em sujeitos de cor parda deve-se as características de distribuição de raças peculiares ao estado brasileiro. Constatou-se que a contaminação sexual foi a mais prevalente se comparado à transmissão por via sanguínea (uso de drogas injetáveis e transmissão vertical), sendo que esta ocorreu principalmente por meio de relações heterossexuais (1.234;57,8%). Embora haja elevação da participação dos heterossexuais nos números epidemiológicos da aids, a vulnerabilidade ao vírus muitas vezes não é notada, em virtude dessa população ser historicamente tratada como imune à doença (MARQUES JUNIOR; GOMES; NASCIMENTO, 2012).  Tendo em vista este problema, pesquisa sugere que campanhas direcionadas a indivíduos e casais heterossexuais são fundamentais e devem levar em consideração os valores sociais que limitam as práticas de prevenção da doença (MAIA; GUILHEM; FREITAS, 2008). A capital do estado do Piauí, Teresina, foi o município que mais notificou casos da doença. Somente nos últimos cinco anos foram 1.337 casos, o que correspondeu a 62,6% do total de notificações ocorridas no estado. Observou-se incidências crescentes dos casos de aids em Teresina ao longo dos cinco anos considerados, sendo que a média registrada no município foi de 32,29 casos de aids por 100.000 habitantes. Estes números foram bem superiores à média registrada para todo o Piauí que foi de 13,35 casos por 100.000 habitantes.

CONCLUSÃO:

 

Os estudos epidemiológicos são de grande relevância para analisar a situação de saúde da população de um determinado território e apontar os extratos da população mais vulneráveis ao adoecimento. Assim, é de suma importância que os conhecimentos gerados pelas pesquisas subsidiem as tomadas de decisão dos gestores e profissionais do setor saúde, especialmente os enfermeiros que atuam junto às pessoas vivendo com HIV/aids seja na comunidade ou no âmbito ambulatorial e hospitalar. Baseado nisso, entende-se que as atividades de prevenção da aids no estado do Piauí devem ser direcionadas, prioritariamente, para os indivíduos jovens, do sexo masculino, heterossexuais, de baixa escolaridade e cor parda, sem prejuízo da atenção aos demais grupos populacionais.

REFERÊNCIAS:

UNAIDS. Global Report: Unaids Report on the Global AIDS Epidemic. Geneva, 2013.

 

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim epidemiológico: Aids e DST. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.

 

ALMEIDA, P. D., et al. Aids no Piauí: Análise do perfil epidemiológico. Rev Enferm UFPE on line, v. 9, n. 6, p. 8660-8664, 2015.

 

PAIVA, S. S. Distribuição espacial e determinantes sociais de saúde na população com AIDS do Ceará [Tese]. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2013. 147 p.

 

COSTA, R.; SILVA, R. R. A. Fatores relacionados à feminização da epidemia da Aids: estudo informativo. Rev Enferm UFPE on line, v. 7, n. 8, p. 5540-5544, 2013.

 

PORTO, T. S. A. R.; SILVA, C. M.; VARGENS, O. M. C. Cuidando de mulheres com HIV/AIDS: uma análise interacionista na perspectiva de mulheres profissionais de saúde. Rev Gaúcha Enferm, v. 35, n. 2, p. 40-46, 2014.

 

SCHILKOWSKY, L. B.; PORTELA, M. C.; SÁ, M. C. Fatores associados ao abandono de acompanhamento ambulatorial em um serviço de assistência especializada em HIV/aids na cidade do Rio de Janeiro. Rev. Bras. Epidemiol, v. 14, n.2, p. 187-197, 2011.

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Base de Informações do Censo Demográfico 2010: resultados do universo por setor censitário. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.

 

MARQUES JUNIOR, J. S.; GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F. Masculinidade hegemônica, vulnerabilidade e prevenção ao HIV/AIDS. Ciênc. Saúde Coletiva, v.17, n.2, p. 511-520, 2012

 

 

MAIA, C.; GUILHEM, D.; FREITAS, D. Vulnerabilidade ao HIV/Aids de pessoas heterossexuais casadas ou em união estável. Rev Saúde Pública, v.42, n.2, p. 242-248, 2008.