A DETERMINAÇÃO SOCIAL DO HIV/AIDS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

THATIANA ARAÚJO MARANHÃO

Co-autores: e MARIA LÚCIA DUARTE PEREIRA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

INTRODUÇÃO:

A cada ano número expressivo de indivíduos contraem o vírus HIV ao mesmo tempo em que a expectativa de vida dos infectados têm aumentado consideravelmente nas duas últimas décadas após a disponibilização da Terapia Antirretroviral (TARV). Nesse contexto de elevação do número de pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA), torna-se fundamental conhecer as condições e os modos de vida desses indivíduos, os quais podem interferir decisivamente sobre a sua situação de saúde (BRASIL 2006). Assim, com o intuito de melhor compreender os fatores e mecanismos através dos quais os aspectos sociais interferem na dinâmica do adoecimento e mortes por aids, optou-se por adotar neste estudo o modelo de determinação social da saúde proposto por Whitehead e Dahlgren (1991). Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que a infecção pelo HIV, bem como o adoecimento e os óbitos por aids possuem significado bem mais abrangente que um simples vírus que afeta o sistema imunológico do organismo, objetivou-se investigar a produção científica sobre a determinação social do HIV/aids publicada em periódicos online no período de 2009 a 2015.


METODOLOGIA:

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura conduzida a partir da seguinte pergunta norteadora: Quais os determinantes sociais do HIV/aids descritos em estudos publicados no período de 2009 a 2015? foram realizadas buscas online no mês de fevereiro de 2016 nas bases de dados SciELO e Medline via PubMed utilizando-se os descritores Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired Immunodeficiency Syndrome); HIV (VHI); Determinantes Sociais da Saúde (Social Determinants of Health); Desigualdades em saúde (Health Inequalities) e Análise espacial (Spatial analyses). Obteve-se uma amostra final de 22 artigos, sendo 10 pertencentes à base de dados SciELO e 12 ao Medline via PubMed.  Dos artigos emergiram cinco categorias baseadas no modelo de DSS proposto por Whitehead e Dahlgren (1991).

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Categoria 1: Determinantes individuais do HIV/aids

Os determinantes individuais do HIV/aids se relacionam às características pessoais consideradas não modificáveis. Os estudos em geral apontam padrões distintos na distribuição do HIV entre os gêneros. Por exemplo, em pesquisas conduzidas nos EUA (FEDE et al., 2011) e em países latino-americanos como Brasil (BRUNELLO et al., 2011) e Colômbia (TOVAR-CUEVAS; ARRIVILLAGA-QUINTERO, 2011) os casos de aids eram mais prevalentes no sexo masculino.  Em contrapartida, estudos realizados em países da África Subsaariana referem que a probabilidade de ser infectado pelo HIV é mais elevado entre as mulheres (NAGATA et al., 2012; HAJIZADEH  et al., 2014). Os estudos convergem para um mesmo ponto ao afirmarem que a infecção pelo HIV/aids ocorre com mais frequência entre os adultos jovens de 20 a 49 anos em detrimento das populações infantil, adolescente e idosa (MEE et al., 2014; CUNHA et al., 2015; LAKEW; BENEDICT; HAILE, 2015). Ademais, o HIV/aids mostrou-se mais prevalente entre indivíduos das raças negra e parda (VIEIRA et al., 2011).

Categoria 2: Determinantes comportamentais do HIV/aids

Esta categoria retrata os estilos de vida dos indivíduos que podem interferir de forma positiva ou negativa sobre a sua situação de saúde. os determinantes comportamentais do HIV/aids mais citados pelos estudos se referem àqueles relacionados às práticas sexuais de risco, tais como a multiplicidade de parceiros, trabalho sexual e o não uso de métodos contraceptivos de barreira (PASCOM; SZWARCWALD, 2011; HAJIZADEH et al., 2014). A categoria de exposição ao HIV foi citado por três investigações brasileiras que referem a via sexual como a mais importante via de transmissão em todas as macrorregiões do país, com especial ênfase as que se dão por meio de relações heterossexuais (GRANGEIRO, ESCUDER, CASTILHO, 2010; CUNHA et al., 2015). 

Categoria 3: Influência das redes sociais sobre o HIV/aids

Esta categoria se refere à influência das redes sociais e comunitárias de apoio sobre o processo saúde-doença. A situação conjugal das PVHA se torna uma variável importante, tendo em vista que o cônjuge se constitui importante provedor de suporte tanto emocional quanto material (NAGATA et al., 2012; CUNHA et al., 2015). Na Etiópia os indivíduos divorciados ou viúvos tinham maiores chances de ter HIV em comparação com aqueles que nunca casaram (LAKEW; BENEDICT; HAILE, 2015). Por sua vez, na China foi constado que a presença de redes sociais de apoio eram significativos preditores do estado de saúde mental de pacientes soropositivos (MA et al., 2012).

Categoria 4: Determinantes intermediários do HIV/aids

Os DSS que traduzem as condições de vida e trabalho fazem parte desta categoria. As condições de vida das PVHA divergem entre os estudos que apontam maior ou menor prevalência da doença de acordo com o extrato socioeconomic (HAJIZADEH et al., 2014; CUNHA et al., 2015). A baixa escolaridade (HAJIZADEH et al., 2014; MEE et al., 2014), bem como o desemprego (FEDE et al., 2011) se mostraram associados à infecção pelo HIV/aids em vários estudos. Pesquisa Queniana mostrou que 79,1% dos soropositivos tinham insegurança alimentar grave devido à falta de recursos financeiros, levando-os a não aderirem satisfatoriamente a TARV em decorrência dos efeitos gastrointestinais desagradáveis, aumentando o risco de mortalidade por aids (NAGATA et al., 2012). Além disso, as desigualdades no acesso aos serviços de saúde também foi demonstrado como significativo determinante do HIV/aids em diferentes populações (BARCELLOS et al., 2009; PASCOM; SZWARCWALD, 2011; MEE et al., 2014).

Categoria 5: Determinantes distais ou macrodeterminantes do HIV/aids

 

Esta categoria versa sobre os determinantes estruturais do HIV/aids. Estudos realizados em diferentes locais do Brasil são conclusivos ao apontar que as maiores taxas de infecção pelo HIV se encontram em regiões mais pobres e com piores condições de vida (BARCELLOS et al., 2009; BRUNELLO et al., 2011). Investigação desenvolvida na África Subsaariana mostrou forte correlação positiva entre PIB per capita e prevalência de HIV/aids, isto significa que a medida que o PIB aumenta as taxas de HIV também aumentam (HAJIZADEH et al., 2014). De modo semelhante, no Brasil as regiões com IDH elevado apresentam alta incidência de HIV/aids e de coinfecção HIV/TB (RODRIGUES; RUFFINO-NETTO; CASTILHO, 2014).

CONCLUSÃO:

O estudo possibilitou melhor compreensão da extensa cadeia causal envolvida na infecção pelo HIV/aids, os quais perpassam o aspecto meramente biologicista. Assim, espera-se que o conhecimento dos vários determinantes sociais da infecção subsidie intervenções articuladas nos mais diversos setores da sociedade, além do setor saúde.

REFERÊNCIAS:

BARCELLOS, C., et al. Surveillance of mother-tochild HIV transmission: socioeconomic and health care coverage indicators. Rev Saúde Pública, v. 43, n. 6, p. 1006-1013, 2009.

BRASIL, Ministério da Saúde. Abordagens Espaciais na Saúde Pública. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

BRUNELLO, M. E. F., et al. Áreas de vulnerabilidade para co-infecção HIV-aids/TB em Ribeirão Preto, SP. Rev Saúde Pública, v. 45, n.3, p. 556-563, 2011.

CUNHA, G. H., et al. Qualidade de vida de homens com AIDS e o modelo da determinação social da saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem,v.23, n.2, p.183-191, 2015.

FEDE, A. L., et al. Spatial Visualization of Multivariate Datasets: An Analysis of STD and HIV/ AIDS Diagnosis Rates and Socioeconomic Context Using Ring Maps. Public Health Rep, v. 126, n. 3, p. 115-126, 2011.

GRANGEIRO, A.; ESCUDER, M. M. L.; CASTILHO, E. A. A epidemia de AIDS no Brasil e as desigualdades regionais e de oferta de serviço. Cad. Saúde Pública, v. 26, n. 12, p. 2355-2367, 2010.

HAJIZADEH, M., et al. Socioeconomic inequalities in HIV/AIDS prevalence in sub-Saharan African countries: evidence from the Demographic Health Surveys. Int J Equity Health, v.13, n.18, p. 2-22, 2014.

LAKEW, Y.; BENEDICT, S.; HAILE, D. Social determinants of HIV infection, hotspot areas and subpopulation groups in Ethiopia: evidence from the National Demographic and Health Survey in 2011. BMJ Open, v. 5, n. 1, p. 1-11, 2015.

MA, Y., et al. Impact of Individual-Level Social Capital on Quality of Life among AIDS Patients in China. Plos One, v. 7, n. 11, p. 1-7, 2012.

MEE, P., et al. Determinants of the risk of dying of HIV/AIDS in a rural South African community over the period of the decentralised roll-out of antiretroviral therapy: a longitudinal study. Glob Health Action, v. 7, n. 1, p. 1-14, 2014.

NAGATA, J. M., et al. Social determinants, lived experiences, and consequences of household food insecurity among persons living with HIV/AIDS on the shore of Lake Victoria, Kenya. AIDS Care, v. 24, n. 6, p. 728-736, 2012.

PASCOM, A. R. P.; SZWARCWALD, C. L. Sex inequalities in HIV-related practices in the Brazilian population aged 15 to 64 years old, 2008. Cad. Saúde Pública, v. 27, n.1, p.27-35, 2011.

RODRIGUES, A. L.; RUFFINO-NETTO, A.; CASTILHO, E. A. Distribuição espacial do índice de desenvolvimento humano, da infecção pelo HIV e da comorbidade AIDS-tuberculose: Brasil, 1982 - 2007.  Rev Bras Epidemiol, v. 17, n. 2, p. 204-215, 2014.

TOVAR-CUEVAS, L. M.; ARRIVILLAGA-QUINTERO, M. VIH/SIDA y determinantes sociales estructurales en municipios del Valle del Cauca-Colombia. Rev. Gerenc. Polit. Salud, v. 10, n. 21, p. 112-123, 2011.

VIEIRA, A. C., et al. Prevalência de HIV em gestantes e transmissão vertical segundo perfil socioeconômico, Vitória, ES. Rev Saúde Pública, v. 45, n.4, p. 644-651, 2011.

WHITEHEAD, M.; DAHLGREN, G. Polices and strategies to promote social equity in health. Stockholm: Institute for Future Studies, 1991.