SAÚDE DO PÉ DIABÉTICO: A EXPERIÊNCIA DO “LAVA-PÉS”

CARLA SIEBRA DE ALENCAR

Co-autores: JULYANE CERQUEIRA CAMPOS ANDRADE , LUANA SILVA DE SOUSA , FRANCISCA SAMARA SOUSA ALVES , CLEIDE FERREIRA DAMASCENO e LÚCIA DE FÁTIMA DA SILVA
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

Saúde do Pé diabético: a experiência do "Lava-Pés"

Carla Siebra de Alencar ¹, Julyane Cerqueira Campos Andrade 2, Luana Silva de Sousa 3, Francisca Samara Sousa Alves 4, Cleide Ferreira Damasceno 5, Lúcia de Fátima da Silva 6.

 

 

1. Universidade Estadual do Ceará/ Funcap/ Fortaleza

2. Universidade Estadual do Ceará- Fortaleza

3  Universidade Estadual do Ceará/Pet Enfermagem - Fortaleza

4. Universidade Estadual do Ceará - Fortaleza

5. Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão - CIDH/ Fortaleza

6. Universidade Estadual do Ceará - Fortaleza

 

carlasiebraa@gmail.com

 

EIXO: 3 - Enfermagem, saúde e sociedade: encontro no(s) território(s) - TRABALHO PARA PRÊMIO

 

Resumo


Sabe-se que o Diabetes Mellitus (DM) constitui um problema de saúde pública, devido a diversos fatores populacionais e sociais, bem como o crescimento da obesidade e sedentarismo. O Pé Diabético consiste numa complicação incapacitante relacionada ao DM, é o termo empregado para nomear as diversas alterações e complicações ocorridas, isoladamente ou em conjunto, nos pés e nos membros inferiores dos diabéticos, constituindo a causa mais comum de internações prolongadas e de custos elevados com o tratamento da DM. Com isso, o estudo busca descrever a experiência de promover a saúde do pé da pessoa diabética a partir do método "Lava-Pés". Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, realizado em um centro especializado na prevenção e no tratamento de pacientes com diabetes e hipertensão localizado no município de Fortaleza. Participaram do estudo cinco pacientes diabéticos com seus familiares. A atividade iniciou-se com a distribuição de panfletos e, concomitantemente, uma conversa com os pacientes e os acompanhantes a fim de fornecer um acolhimento, Em meio à discussão, introduzimos o assunto sobre a saúde do pé diabético. Dentre as prevenções, destacamos o "Lava-Pés", que consiste num ato de inspecionar e lavar os pés a fim de promover, ensinar e orientar os diabéticos sobre a importância dos cuidados com os pés. A realização do "Lava-Pés" possibilitou um entendimento maior acerca da doença e dos seus desdobramentos para pacientes diabéticos e familiares, assim como facilitou a identificação precoce de possíveis alterações e o manejo adequado voltado para o enfrentamento dos problemas.

 

Introdução


O Diabetes Mellitus (DM) constitui um problema de saúde pública em vários países e atinge milhares de pessoas devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de obesidade e de sedentarismo. De acordo com as últimas estimativas publicadas pela Federação Internacional de Diabetes (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015), 415 milhões de adultos (83% em países de baixa e média renda) estavam vivendo com diabetes em 2015 e este número deverá subir para 642 milhões em 2040.

O DM configura um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos, que apresenta, em comum, hiperglicemia, consequência de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas (SBD, 2014). Constitui uma doença crônica que pode resultar em complicações afetando a qualidade de vida dos indivíduos acometidos, assim como a de seus familiares.

O Pé Diabético é o termo empregado para nomear as diversas alterações e complicações ocorridas, isoladamente ou em conjunto, nos pés e nos membros inferiores dos diabéticos (CAIAFA, 2011). Consiste numa complicação incapacitante relacionada ao DM e envolve alterações de pele, ossos e articulações dos pés que colaboram para o aparecimento de ulcerações, infecções e gangrena, constituindo a causa mais comum de internações prolongadas e de custos elevados com o tratamento (SBD, 2014). Esta condição pode levar a amputações, o que representa um dos mais sérios problemas da doença, devido à magnitude social e econômica, assim como a perda da funcionalidade, afetando diretamente a qualidade de vida dos envolvidos no processo.

Segundo Carvalho, Carvalho e Martins (2010), as ulcerações nos pés decorrem de hábitos inadequados como andar descalço, utilização errônea dos calçados, corte inadequado das unhas e pequenas dermatoses (micose, rachaduras, calos e deformidades dos pés). Ulcerações e amputações nos pés de indivíduos portadores de DM podem ser reduzidas de 50 a 60% por meio de ações de prevenção e manejo da doença (WHO, 2011). Assim, a educação em saúde é de extrema importância para evitar ou reduzir as possíveis complicações do diabetes, como o pé diabético, sendo função do enfermeiro orientar os pacientes e os familiares acerca dos cuidados com o pé diabético, pois a prevenção continua sendo a melhor maneira de evitar ou minimizar os possíveis comprometimentos e amputações.

Portanto, há necessidade de demonstrar medidas de autocuidado e de desenvolver atividades educativas objetivando a sensibilização dessas pessoas, de modo que elas se comprometam com a prevenção do pé diabético, haja vista que a prevenção das complicações depende das informações recebidas, da aceitação para a mudança no estilo de vida e do desenvolvimento de habilidades para o autocuidado (FARIAS, 2014).               Dessa forma, a abordagem do membro inferior do paciente diabético não é desvinculada dos cuidados gerais (controle da glicemia, hipertensão, obesidade, atividade física, alimentação) que são decisivos para melhorar a qualidade de vida e aumentar a sua sobrevida (CAIAFA, 2011). Nesse âmbito, o estudo tem como objetivo descrever a experiência de promover a saúde do pé da pessoa diabética a partir do método "Lava-Pés".

 

Metodologia

A atividade foi fruto da dissertação de mestrado intitulada "Educação popular em saúde: intervenção participativa na construção de relações dialógicas entre portadores de diabetes mellitus - adulto (DM2) e profissionais" e tem como tema a saúde do pé do portador de DM. Para a realização da atividade, foi feito um levantamento bibliográfico com a finalidade de possibilitar conhecimento teórico sobre a temática, assim como a observação dos participantes da unidade. A partir disso, foram trabalhadas as principais demandas dos pacientes referentes aos cuidados com o pé diabético.  Os objetivos foram prevenir ou minimizar as prováveis complicações do pé diabético e estimular a observação e o autocuidado dos pés por meio da técnica do "Lava-Pés".

Trata-se de estudo descritivo, do tipo relato de experiência. Foi realizado por quatro acadêmicas de enfermagem da Universidade Estadual do Ceará, juntamente com a enfermeira tutora do serviço e acompanhado pela professora supervisora, durante as atividades do internato. O estudo foi realizado em um centro especializado na prevenção e no tratamento de pacientes com diabetes e hipertensão localizado no município de Fortaleza, sendo uma unidade de referência no estado do Ceará. Participaram do estudo cinco pacientes diabéticos com seus familiares que foram ao centro fazer o acompanhamento de rotina, sendo quatro mulheres e um homem.

Após a consulta de enfermagem, os pacientes foram convidados a participar da atividade educativa chamada "Lava-Pés". Esta consiste em orientar e demonstrar um exercício: amassar com os pés um pedaço de jornal, sem retirar os pés do chão. Depois, fletir os pés de uma a cinco vezes para baixo e para cima e depois para os lados. Realizar movimento de rotação com cada dedo. Em seguida, colocar os pés em uma bacia com água lavá-los com sabão neutro massageando de baixo para cima, inspecionando calos, rachaduras ou pontos de perda da sensibilidade. Na sequência, enxugar os pés e entre os dedos. Passar óleo ou creme para hidratar o tecido cutâneo. Os materiais utilizados foram: jornais, bacia, cadeiras, banquetas (mais baixas que as cadeiras), água, sabonete líquido de alecrim-pimenta, toalhas pequenas, óleo de amêndoas a 50%. O tempo da atividade foi de sessenta minutos.

Resultados e Discussão

                         O momento iniciou com uma breve discussão acerca do diabetes visando investigar o conhecimento prévio dos pacientes acerca da doença e, principalmente, dos cuidados preventivos tomados para reduzir os riscos de desenvolvimento de complicações, devido à percepção, tanto pelos profissionais do serviço como pelas internas de enfermagem, da fragilidade e da carência de informações que esses pacientes revelavam nas consultas de enfermagem.

                            Num primeiro momento, houve a distribuição de alguns panfletos e, concomitantemente, conversamos com os pacientes e os acompanhantes com a finalidade de fornecer um acolhimento e propiciar um ambiente de harmonia entre os pares, para, em seguida, identificar os saberes, as carências e as dúvidas em relação à temática. Em meio à atividade, introduzimos o assunto sobre a saúde do pé diabético, levantando algumas discussões, como: as complicações que acometem os pés, as suas características, quando e como podem surgir, como identificá-las e as prevenções para o não aparecimento. Dentre as prevenções, destacamos o "Lava-Pés", que consiste num ato de inspecionar e lavar os pés a fim de promover, ensinar e orientar os diabéticos sobre a importância dos cuidados com os pés.

                            Após a explicação da atividade, houve o início da mesma. A ação começou com um exercício sobre jornais para estimular a circulação venosa dos membros inferiores e a sensibilidade, o que é fundamental, já que a maioria dos pacientes apresenta sinais de neuropatia diabética. Segundo a Associação Brasileira de Diabetes (2014), a neuropatia diabética está presente em 50% dos pacientes com DM2 acima de 60 anos, sendo fator mais importante, inquestionavelmente, para o surgimento de úlceras em pés diabéticos. Em seguida, fizemos a lavagem dos pés com água em temperatura ambiente e sabão neutro demonstrando a forma correta de lavar e enxugar os pés, enfatizando a necessidade de ter sempre o cuidado de enxugar bem entre os dedos a fim de evitar umidade e formação de fungos ou ferimentos. À medida que se fez a lavagem, a inspeção também foi realizada, a fim de observar a existência ou não de rachaduras, calos e/ou feridas, orientando como eles poderiam fazer esses procedimentos sozinhos com o auxílio de um espelho para identificar precocemente possíveis ferimentos, possibilitando o tratamento em tempo hábil e estimulando o autocuidado. Logo após, foi abordada a importância de hidratar bem os pés e pernas a fim de prevenir ressecamento, rachaduras e calosidades, sendo demonstrada a forma correta de massagear os pés e as pernas favorecendo o retorno venoso, assim como foram discutidos os pontos nos quais não devem ser utilizados cremes ou óleos,por exemplo, entre os dedos, ensinando a hidratar o dorso e a parte inferior do pé.

                            Por fim, os pacientes foram questionados quanto ao uso de sapatos adequados. A partir desses questionamentos, houve uma explicação acerca do melhor horário de comprar sapatos novos, qual sapato/sandália mais adequado para comprar de forma a proporcionar maior conforto e estabilidade para os pés, evitando possíveis acidentes e ferimentos. Segundo Carvalho, Carvalho e Martins (2010), a educação como medida preventiva deve ter o objetivo voltado para motivação e habilidades dos pacientes em reconhecer problemas e ações a serem adotadas.

                          A diminuição das complicações depende das informações recebidas e da promoção do autocuidado. A maioria dos pacientes tinha muitas dúvidas quanto aos cuidados corretos com pés, apesar de serem diabéticos há muitos anos, ressaltando a importância da realização de atividades educativas com os portadores da doença para ensinar, orientar e prevenir o desenvolvimento de maiores complicações, tornando-os ativos no seu processo de cuidar, proporcionando melhorias no seu bem estar e na sua qualidade de vida. Quanto à devolutiva da atividade pelos pacientes, pode-se perceber que todos eles, juntamente com seus familiares compreenderam a importância de ter um olhar diferenciado para os pés diabéticos, de forma a prevenir o aparecimento de complicações. Observou-se, por meio de suas falas, que gostaram da atividade e que iriam dar continuidade em casa, percebendo como uma atitude simples pode trazer grandes benefícios para a sua saúde e para sua qualidade de vida como portadores do diabetes.

Conclusão

Conclui-se que a realização do "Lava-Pés" possibilitou um entendimento maior acerca da doença e dos seus desdobramentos para pacientes diabéticos e familiares, assim como facilitou a identificação precoce de possíveis alterações e o manejo adequado voltado para o enfrentamento dos problemas. A educação em saúde voltada à saúde do pé diabético mostrou-se eficaz para o compartilhamento de saberes e práticas, além de facilitar a adesão dos pacientes ao tratamento e a corresponssabilização pelo cuidado entre os profissionais do serviço, os pacientes, os familiares e as internas. Assim, a motivação gerada pela atividade e pela interação com outras pessoas que possuíam a mesma comorbidade favoreceu o interesse tanto dos pacientes como dos familiares em dar continuidade ao empoderamento do seu processo saúde-doença.

Referências

 

DAMASCENO, C.F. Educação popular em saúde: intervenção participativa na construção de relações dialógicas entre portadores de diabetes mellitus-adulto (DM2) e profissionais. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Ceará. 2003.

Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2014-2015/Sociedade Brasileira de Diabetes ; [organização José Egidio Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio]. - São Paulo, 2015.

CARVALHO, R.P; CARVALHO, C.P; MARTINS, D.A. Aplicação dos cuidados com os pés entre portadores de diabetes mellitus. Cogitare Enferm, Minas Gerais, v. 15, n. 1, p.106-109, 09 jan. 2010.

CAIAFA, J.S. et al. Atenção integral ao portador de Pé Diabético. Jornal Vascular Brasileiro, São Paulo, v. 10, n. 4, p.1-28, 2011.

FARIAS, A.C.M.; MASSARANDUBA, F.F.; ARAÚJO, E.F.T.; SOUZA, A.C. Grau de informação de pacientes com diabetes mellitus e a importância da implementação de campanhas educativas e preventivas contra o pé diabético. Ver Acta de Ciências e Saúde, v.1, n.1, p.1-11, 2016.

INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. Diabetes takes centre stage on World Health Day, 2016. Disponível em: <http://www.idf.org/news/diabetes-takes-centre-stage-whd16> Acesso em: 04 de mai. 2016.

World Health Organization (WHO). Improving health care: individual interventions. In: World Health Organization. Global status report on non communicable diseases 2010. Geneva: World Health Organization; 2011. p.61-7.