O SENTIDO DO TRABALHO EM OBSTETRÍCIA: PERSPECTIVA DE ENFERMEIRAS E TÉCNICAS DE ENFERMAGEM

MIRLENE SOUZA SANTOS SOARES

Co-autores: DÁLIDA FERNANDES FERREIRA, MIRLENE SOUZA SANTOS SOARES, ROBERTA MENESES OLIVEIRA, SAMYA COUTINHO DE OLIVEIRA, DEIVIANE BARBOSA FONTELES e REGINA MARIA DE SÁ BARRETO BEZERRA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

O SENTIDO DO TRABALHO EM OBSTETRÍCIA: PERSPECTIVA DE ENFERMEIRAS E TÉCNICAS DE ENFERMAGEM

Dálida Fernandes Ferreira1, Mirlene Souza Santos Soares1,Samya Coutinho de Oliveira1, Deiviane Barbosa Fonteles2, Regina Maria de Sá Barreto Bezerra3, Roberta Meneses Oliveira1

 


1. Universidade Estadual do Ceará - Fortaleza

2. Centro Universitário Estácio do Ceará - Fortaleza

3. Hospital Geral de Fortaleza - Fortaleza

 

mirlene-souza@hotmail.com

 

EIXO II. Saberes e práticas da enfermagem em diferentes contextos locais, nacionais e internacionais.

 

Introdução


No contexto da gestão em saúde, a Enfermagem destaca-se como uma categoria plenamente envolvida com o planejamento e a organização dos serviços, devendo desenvolver autonomia e maior governança do seu processo de trabalho para promover as mudanças necessárias no cotidiano de trabalho.

A realização de atividades de gerenciamento do cuidado são as principais atribuições dos enfermeirosem Obstetrícia. Dentre as atividades assistenciais, destaca-se a realização do cuidado à parturiente durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. Estas são favorecidas pelas ações de supervisão da equipe de enfermagem, provisão e previsão de recursos necessários à realização de cuidados, organização do ambiente de trabalho e o dimensionamento de pessoal de enfermagem (COPELLI et al., 2015).

Sendo assim, sugere-se que o estudo do comportamento organizacional pode ajudar enfermeiros líderes a compreenderem melhor os fatores intervenientes no processo de trabalho de enfermagem, e, dentre estes fatores, destaca-se o sentido do trabalho. Morin (2001) afirma que o sentido do trabalho é influenciado pela organização do trabalho, que é capaz de modificar os comportamentos dos trabalhadores de forma que, aos poucos, passem a ter atitudes positivas com suas funções, com a organização e com eles mesmos.

Assim, este estudo objetivou analisar o sentido atribuído ao trabalho segundo membros da equipe de enfermagem obstétrica de um hospital público.

 

Metodologia


Pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, realizada em hospital público do Ceará entre fevereiro e março de 2016, nas unidades que compõem o serviço de Obstetrícia: emergência obstétrica, alojamento conjunto (internação), sala de parto e centro obstétrico.

Participaram 37 trabalhadores de enfermagem, sendo 15 enfermeiras e 22 técnicas de enfermagem atuantes nas unidades supracitadas, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: trabalhar na unidade há, pelo menos, 1 ano; e ocupar função assistencial.

Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados: Questionário sócio-demográfico e profissional; e Escala de Trabalho com Sentido (ETS). Trata-se de um instrumento dedicado à identificação de fatores que fazem o trabalho ter sentido. Como a ETS é multifatorial, seus resultados devem ser apurados considerando-se cada um dos seis fatores que a compõem e seus respectivos itens: utilidade social; ética; liberdade; aprendizagem e desenvolvimento; qualidade das relações; coerência e expressividade. Portanto, o sentido do trabalho foi diagnosticado pelo resultado decorrente da média fatorial de cada fator (PUENTE-PALACIOS; PEIXOTO, 2015).

Os resultados da aplicação da ETS foram processados em planilha do Excel®. Foram calculadas as médias e os desvio-padrão de cada item e dimensão do instrumento.Para interpretá-las, considerou-se que, quanto maior a média fatorial de cada dimensão, maior a percepção de sentido naquele trabalho. Escores acima de 4,9 (o intervalo da escala é de 1 a 6) indicaram que o trabalho tem sentido de acordo com o fator diagnosticado.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição (CAAE: 52900016.5.0000.5040).

Resultados e Discussão


A amostra constituiu-se de mulheres, em sua totalidade, com média de 38 anos de idade. Quanto à categoria, mais da metade era técnica de enfermagem e tinha mais de seis anos de formação. Quanto à pós-graduação, a maioria das enfermeiras era especialista em Obstetrícia. Além disso, a maioria só possuía um vínculo empregatício e era cooperada. Prevaleceu a carga horária de trabalho de até 40 horas semanais.

Quanto às médias das respostas dos enfermeiros e técnicos à ETS e seus fatores, observou-se que, no fator 1 (Utilidade social), os itens que se referem a utilidade do trabalho para os outros e para a sociedade foram os que obtiveram melhores médias, demonstrando que as enfermeiras e técnicas atribuem importância à sua profissão.

O fator 2 (Ética no trabalho) obteve uma média limítrofe (4,97). Dentre os itens, os que foram vistos como mais negativos estavam relacionados à justiça e a igualdade no ambiente de trabalho. Já a consideração e o respeito foram vistos como pontos positivos.

Nas relações profissionais, sabe-se que a ética consubstancia-se mediante a responsabilidade, o compromisso com o trabalho e com o outro, bem como pelo respeito e afetividade às pessoas (GERBER, 2013).

O termo ambiente ético refere-se ao ambiente de assistência ao paciente, no qual a defesa deste é esperada e apoiada. O clima ético promove o contexto em que o comportamento ético e a decisão podem ocorrer; por conseguinte, uma organização deve ter práticas que apoiam a sensibilização e a discussão de questões difíceis de atendimento ao paciente, problemas e implicações éticas (WLODY, 2007).

O fator 3 (Liberdade no trabalho) reúne itens relacionados à liberdade, tomada de decisão e autonomia no ambiente de trabalho. Este foi o aspecto mais crítico da pesquisa, pois todos os itens deste fator obtiveram médias inferiores a 4,9. Assim, merece ser analisada com base na discussão com outros fatores, como condições de trabalho, satisfação, suporte organizacional, etc.Por outro lado, no fator 4 (Aprendizagem e desenvolvimento), as trabalhadoras atribuíram sentido ao trabalho, sendo o prazer na realização do trabalho o item mais relevante nesta avaliação.

Para Saad e Riesco (2009), a autonomia profissional pressupõe determinado grau de poder, conhecimento teórico e prático, reconhecimento do ambiente de atuação, competências para fazer escolhas, capacidade para agir e decidir e responsabilidade na tomada de decisões. A competência e a responsabilidade para a tomada de decisões dependem de conhecimentos baseados em evidências, mobilização e coragem intelectual e moral, além de comunicação clara para racionalizar uma situação.

Finalmente, os fatores 5 (Qualidade das relações no trabalho) e 6 (Coerência e expressividade) cooperaram com todos os itens para o sentido do trabalho.

Os fatores mais satisfatórios da ETS compreenderam: meu trabalho é útil para a sociedade (assertiva 2) e tenho prazer na realização do meu trabalho (assertiva 21); já os fatores mais críticos envolveram: em meu trabalho, tenho liberdade para resolver os problemas de acordo com meu julgamento (assertiva 6) e tenho autonomia em meu trabalho (assertiva 19). Isso demostra que os trabalhadores, na maioria das vezes, são impedidos ou oprimidos em demonstrar seu senso crítico e sua percepção sobre o trabalho, o que pode ter relação com a cultura autoritária, punitiva, que não garante liberdade aos trabalhadores para tomarem decisões, nem autonomia para manifestar suas necessidades no trabalho.

Diante desta discussão, pode-se refletir sobre a prática e a gestão da enfermagem em obstetrícia. Mesmo diante de todas as dificuldades, enfermeiras e técnicas de enfermagem devem encontrar em seus ambientes de trabalho o suporte adequado para praticar uma assistência com base na ética e na moral, valorizando as relações saudáveis entre colegas de trabalho e investindo num cuidado centrado nas pacientes. Por meio de um ambiente ético, o cuidado humanizado pode ser real e a satisfação de profissionais e pacientes poderá tornar-se perceptível a todos os que fazem a organização de saúde.

Assim, garantir boas condições de trabalho e investir nas relações com os colegas e chefia pode favorecer esta dimensão do sentido de trabalho, levando enfermeiras e técnicas a exibirem maior expressividade de seu trabalho, com satisfação e envolvimento profissional.

Conclusão


Analisando o sentido do trabalho para membros da equipe de enfermagem obstétrica, o fator liberdade no trabalho é o mais afetado, sugerindo falta autonomia e tomada de decisão no trabalho desta categoria.Por outro lado, foram positivos os fatores relacionados a utilidade social do trabalho, aprendizagem e desenvolvimento, coerência e expressividade do trabalho e qualidade das relações. Estes merecem ser divulgados e ressaltados como positivos para aquela equipe de trabalho, pois podem refletir em bons resultados assistenciais e nos indicadores de qualidade do serviço.

Mediante o exposto, faz-se necessário o investimento na mudança de cultura organizacional, proporcionando um julgamento crítico, liberdade de opinião e adequando o poder de decisão das enfermeiras obstetras no seu ambiente de trabalho.

Referência


COPELLI, F.H.S. et al. Compreendendo a governança da prática de enfermagem em um centro obstétrico. Esc Anna Nery Revista de Enfermagem, v.19, n.2, p.239-245, 2015

 

GERBER, V. K. Q.; ZAGONELE, I. P. S. A ética no ensino superior na área da saúde: uma revisão integrativa. Revista bioética, v.21, n.1, p.168-178, 2013.

 

MORIN, E. M. Os sentidos do trabalho. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.41, n.3, p8-19, 2001.

 

PUENTE-PALACIOS, K.; PEIXOTO, A.L.A. Ferramentas de diagnóstico para organizações de trabalho: um olhar a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2015.

 

SAAD, D. E. A; RIESCO, M. L. G. Autonomiaprofissional da enfermeiraobstetra. VI Congressobrasileiro de EnfermagemObstétrica e Neonatal. Piauí, 24 a 26 de jun. 2009.

 

WLODY, G. S. Nursing management and organizational ethics in the intensive care unit. Critical care medicine, v. 35, n. 2, p. S29-S35, 2007.