REDES SOCIAIS: REFLEXÃO TEÓRICA SOBRE CONFIGURAÇÕES DAS REDES NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.

AMANDA DE FÁTIMA ALVES COSTA

Co-autores: , ANA ZAIRA DA SILVA e LUCILANE MARIA SALES DA SILVA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

Redes sociais: reflexão teórica sobre  configurações das redes no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Amanda de Fátima Alves Costa1,  Ana Zaira da Silva2, Lucilane Maria Sales da Silva3

INTRODUÇÃO

A política de descentralização das ações de saúde estabelecida no Sistema Único de Saúde (SUS) nos leva a considerar as relações formadas entre os atores envolvidos no processo de cuidado. Essa relação de interdependência foi definida pela Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990), na qual o referenciamento dos casos de complicações faz parte da integralidade da assistência, um dos princípios do SUS, entendido como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema. O Sistema Único de Saúde é caracterizado pela distribuição das competências de saúde nas três esferas de governo e este fator envolve uma burocracia no atendimento dos pacientes, logo é comum a existência de uma rede informal no atendimento dentro do sistema como forma de simplificar o processo.  Dessa maneira, o termo rede se faz presente no que se diz respeito à articulação entre os profissionais envolvidos no cuidado. Segundo Marteleto (2001) rede constitui um sistema de nodos e elos; estruturas sem fronteiras; uma comunidade não geográfica; um sistema de apoio ou um sistema físico que se assemelha a uma árvore, assim, representando um conjunto de participantes unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados.  Assim, pode-se perceber que a relação entre os atores envolvidos no processo de atendimento na saúde ultrapassa as estruturas hierárquicas definidas no sistema. Dessa maneira a formação de redes no âmbito da saúde torna-se uma ferramenta primordial para o atendimento das necessidades da população. Os referenciais das redes sociais consideram uma valorização das relações informais e dos elos em detrimento das hierarquias, caracterizando uma forma de organização humana nos mais diferentes níveis das instituições modernas, assim através dessas relações informais pode-se chegar a um ponto pré-determinado através de "caminhos irrestritos" sem que estejam implicadas a seguir trajetórias rígidas, visando o atendimento das solicitações e demandas diárias (MARTELETO, 2001; BORGATI, 2005; LAMDIM, FERNANDES, MESQUITA, 2010). Diante disto, torna-se relevante a compreensão da formação dessas configurações em forma de redes sociais presentes no SUS para a garantia do exercício da integralidade, equidade e universalidade defendida pela política de saúde. CONCEITO DE REDE SOCIAL: Segundo Silva, Fialho e Saragoça (2013) o termo rede comummente representa uma estrutura de laços entre indivíduos (atores) de um determinado sistema social, associada a isto, o homem como ser social vive em constante interação com diversos membros do sistema integrando-os, logo, este comportamento social do homem caracteriza o conceito de rede. O relacionamento entre os profissionais envolvidos no atendimento de saúde, incluindo profissionais de saúde, administrativos e políticos é inevitável, assim, traz a ideia de relacionamento informal, onde ultrapassa as barreiras hierárquicas. Para Martins (2008) na promoção da descentralização na saúde visa à criação de condições institucionais favoráveis para a emancipação de experiências na esfera pública e democrática, assim as redes sociais aparecem como recurso decisivo para permitir o avanço dos programas territorializados, que exigem envolvimento e participação ativa dos núcleos locais. Para Barreto, Tavares, Santos e Pinheiro (2009) há uma dicotomia no que se refere à rede social: trata-se de um sistema de ação produzido por uma articulação racional e desejada entre atores envolvidos em um fenômeno social ou se relaciona com um sistema complexo de indivíduos diferentes que dele fazem parte, o qual se impõe sobre as vontades individuais. Assim, é comum existir esses questionamentos em relação à temática, pois o termo rede desperta esse tipo de questionamento sobre a sua formação. Nos estudos de Mauss, sistematizador da teoria da dádiva, onde defendia a existência da reciprocidade assimétrica, trocas simbólicas na sociedade contemporânea, destacou o paradoxo "indivíduo x sociedade" (MARTINS, 2008). Elias traz como contribuição a superação do dilema indivíduo sociedade, pois explorou a ideia de interdependência entre ambos, propondo a noção de redes de funções (MARTINS, 2008). Este termo possibilita a compreensão de rede social além da dualidade presente nos estudos de Mauss, tornando-a menos limitada como referencial e mais adequada para o estudo da sociedade (BARRETO, TAVARES, SANTOS E PINHEIRO, 2009). É notável a evolução e aprofundamento nos estudos das relações humanas, buscando compreender como se desenvolvem e configuram as redes sociais em prol de um objetivo único, possibilitando, dessa maneira, o entendimento do funcionamento dos sistemas de maior impacto para a população, como é o caso da saúde, onde os laços entre os atores envolvidos nas redes se formam com um propósito único, fazendo com que o interesse coletivo se sobressaia sobre os individuais. Segundo Griffiths, et al., (2012), as informações que circulam nas redes sociais atuam fornecendo subsídios para a promoção de um apoio diagnóstico, a autogestão e o acompanhamento do tratamento para os indivíduos, além de auxiliar no planejamento e na prestação de cuidados de saúde para a comunidade. Estas redes de comunicação e interação que envolvem uma linguagem simbólica, através de limitações culturais e, principalmente, relações de poder, onde são capazes de expressar por meio de sua arquitetura de relações, as interações sociais, políticas e econômicas de caráter inovador, explicando algumas problemáticas atuais (FIALHO, 2015). OBJETIVO: Refletir a cerca da formação de redes sociais no âmbito do SUS.  ANÁLISE DAS REDES SOCIAIS: A análise das redes sociais fornece ferramentas úteis para a compreensão das interações entre os atores de diferentes campos profissionais durante o cuidado prestado ao paciente (SILVA, AVELAR, FARINA, 2013). Esse entendimento do processo possibilita a intervenção dos gestores para a promoção da eficiência do atendimento na saúde. Segundo Fialho (2014), para a compreensão da estrutura da rede é importante o entendimento de três elementos básicos: nós ou atores; vínculos ou relações; fluxos. Os nós ou atores são as pessoas ou grupos de pessoas que se encontram movidas por um objetivo comum. Regularmente os nós ou atores representam-se por círculos. A soma dos nós representa o tamanho da rede. Os vínculos são os laços que existem e se estabelecem entre dois ou mais nós. Numa rede de amigos, por exemplo, um ator exibe um vínculo direto com outro ator, estes são relações sendo representados por linhas. O fluxo indica a direção do vínculo. Estes fluxos podem assumir várias designações: unidirecional ou bidirecional. Quando um ator não tem nenhum tipo de fluxo, o que implica também a inexistência de vínculos significa que se trata dum nó solto dentro da rede ou ator isolado. A análise da configuração das redes sociais no SUS possibilita o conhecimento acerca dos pontos fortes e das fragilidades presentes no sistema de atendimento de saúde. Segundo Bates (2009) os atores envolvidos em uma rede podem demonstrar papeis específicos, porém isso só acontece em relação aos outros atores envolvidos na rede, logo se defini a formação de laços, que, por sua vez, podem ser caracterizados como fortes (onde há uma estreita associação entre os atores) e fracos (que se apresentam como pontes entre círculos sociais diferentes). Essa reflexão sobre a influência que os atores envolvidos na rede social desperta é fundamental para a compreensão da formação dessas configurações, mostrando que existe a comunicação entre círculos sociais distintos, onde alguns atores apresentam-se como centralizadores, como referência no fluxo do processo de atendimento de saúde. Essa análise oferece informações importantes para a manutenção ou para realização de mudanças no sistema de saúde. A FORMAÇÃO DE REDES NA REALIZAÇÃO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM: Na área da saúde, a formação das redes interprofissionais fornece suporte às relações circunscritas ao ambiente de trabalho, assim a inter-relação entre os diversos níveis de atendimento à saúde torna-se necessárias para o atendimento das demandas da área (LAMDIM, FERNANDES, MESQUITA, COLARES, FROTA, 2010). O enfermeiro é percebido pelos usuários como referencia no atendimento na Estratégia de Saúde da Família, logo este necessita diariamente formar redes sociais com os demais profissionais da área.  Diante das definições e considerações realizadas a cerca da temática de redes sociais, é possível perceber sua relação intrínseca com a realização do cuidado de enfermagem. Esta tem como objeto de cuido o ser humano, promovendo um cuidado integral, de acordo com suas necessidades. Assim, a formação de laços entre os envolvidos nos cuidados de saúde é inevitável. Esses laços são caracterizados de duas maneiras: Laços fortes: nos quais os vínculos formados são mais fortes; já os Laços Fracos são aqueles formados por indivíduos com diversas formações e experiências (KAUFMAN, 2012). Assim, na realização do cuidado de enfermagem pode-se perceber a existência constante dessa formação de diferentes tipos de laços, caracterizando as diversas junções de conhecimento entre profissionais em prol da realização do cuidado integral ao paciente. Kaufman (2012) considerada que os laços fracos são fundamentais para a disseminação das inovações, devido a grande diversidade presente entre os indivíduos. A formação de laços fracos acontece alem da hierarquia existente no sistema de saúde, de acordo com as demandas existentes em cada unidade e com cada cidadão que busca um atendimento de saúde. Assim, o termo Rede Social é onipresente na atualidade ocupando um crescente espaço no âmbito acadêmico, nas mídias ou no senso comum, caracterizando um espaço comunicacional onde se conecta diferentes ações, além de comunicar diferentes modos de comunicação e transferência de informações (MARTELETO, 2010). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Portanto, a contextualização das redes sociais, antes já abordada na vertente sociológica e no âmbito da comunicação, surge na área da saúde como uma inovação no que se diz respeito a uma melhor compreensão das relações formadas entre os profissionais de saúde para o atendimento de um dos princípios do Sistema Único de Saúde, a integralidade. Essa depende diretamente das relações formadas além das já estabelecidas pela hierarquia das políticas de saúde. A enfermagem surge nessa temática como um nó forte, pois é, muitas vezes, percebido pelos usuários como uma figura de impacto nas relações existentes. A compreensão da terminologia e configuração das redes sociais no âmbito da saúde juntamente com a análise da mesma, tem como objetivo o entendimento das relações sociais de forma conjunta em prol de um objeto comum: a realização de um atendimento integral segundo os princípios do SUS. O conceito de rede apresenta-se como um facilitador na análise das relações humanas, trazendo como alvo principal a formação de vínculos para o alcance de uma meta comum. REFERÊNCIAS: BRASIL, _____. Ministério da Saúde. Lei no 8080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre condições para promoção, proteção e recuperação da saúde e organização e funcionamento dos serviços de saúde (públicos e privados) em todo território nacional. BARRETO, D. B.; TAVARES, D. K.; SANTOS, F. X.; PINHEIRO, W. D. A contribuição de norbert elias para uma contemporânea teoria de redes sociais. XII Simpósio Internacional  Processo Civilizador, Recife, Brasil, 2009. BORGATTI, S. P. Centrality and network flow. Social Networks, v. 27, p. 55-71, 2005. FIALHO, J., Pressupostos para a construção de uma sociologia das redes sociais. Sociologia, Porto , v. 29, jun.  2015 .   Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-34192015000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em  05  dez.  2015. GRIFFITHS, F., et al. Social networks e The future for health care delivery. Social Science & Medicine, v. 75, p. 2233-41, 2012. LANDIM, F. L. P. ; FERNANDES, A. M.; MESQUITA, R. B. de; COLLARES, O. M. C.;  FROTA,  M. A. Análise das Redes Interpessoais: aplicação na realidade de uma equipe de enfermagem atuando em unidade de hematologia. Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.4, p.828-837, 2010. KAUFMAN, D. A força dos "laços fracos" de Mark Granovetter no ambiente do ciberespaço. Galaxia (São Paulo, Online),n. 23, p. 207-218, jun. 2012. LIMA, M. R. M.; et al. Regulação em saúde: conhecimento dos profissionais da estratégia saúde da família. Rev. Rene. v.14, n. 1, p.23-31, 2013. MARTELETO, R. M. 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