GRUPO DE IDOSOS: ESTRATÉGIA DE POTENCIALIZAÇÃO DO CUIDADO.

ANA CRISTINA OLIVEIRA BARRETO

Co-autores: REBECA BANDEIRA BARBOSA, FRANCISCA EMANUELLY PINHEIRO BARROS, LUCIANO SANTOS DA SILVA FILHO e ISABELLE FERNANDES BARBOSA
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

Grupo de idosos: Estratégia de Potencialização do cuidado.

PALAVRA-CHAVE: Educação em Saúde, idosos, doenças crônicas.


Introdução:

O Brasil está passando por um processo de transição demográfica, o qual está relacionado ao desenvolvimento urbano-industrial do país. Isso se deve a redução das taxas de mortalidade e natalidade, já que a expectativa de vida dos brasileiros mais que dobrou em um século e estima-se que em 2100 quase 4 em 10 brasileiros irão ter 60 anos ou mais, correspondendo a 38,4% da população total (ALVES, 2014). Desta forma, o processo de envelhecimento é um fenômeno dinâmico, progressivo e irreversível que acomete todos os indivíduos, independentemente. No entanto, tal processo difere de um indivíduo para o outro, já que as alterações dependem de fatores como: estilo de vida, condições socioeconômicas e doenças crônicas (FECHINE, TROMPIERI, 2012). As doenças crônicas como Diabetes Mellitus (DM) e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) são muito frequentes em idosos, sendo fatores determinantes na morbidade e mortalidade nesta faixa etária. Elas apresentam considerável incidência no mundo, não somente no que se refere à redução da longevidade, mas também pelo fato de prejudicarem a qualidade de vida dos indivíduos acometidos por elas (ALVES et al., 2016). Sabe-se que diante da importância de tais alterações há a necessidade de intervenções que tenham como ênfase a promoção e prevenção das complicações das doenças supracitadas, buscando reduzir e evitar as complicações, incapacidades e custos causados pelo descontrole dos valores pressóricos e glicêmicos (ALVES et al., 2015). Nessa perspectiva, entende-se que a educação em saúde pode gerar mudanças no estilo de vida desses indivíduos, já que ela leva o mesmo a refletir sobre sua doença e buscar um caminho terapêutico que se ajuste ao seu dia-a-dia, o que influencia na capacidade de cuidar de si, favorecendo, assim, a sua autonomia (ALMEIDA, LEITE, MOUTINHO, 2014). Portanto, com base na importância das estratégias educativas para a saúde da população idosa este estudo objetiva relatar a experiência de um grupo terapêutico cujo público-alvo são idosos acometidos por DM e HAS em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), no interior do Ceará.

Metodologia:

Trata-se de um estudo de caráter descritivo, com abordagem qualitativa do tipo relato de experiência. Foi desenvolvido a partir da vivência de facilitação em um grupo de idosos, cujo público-alvo eram hipertensos e diabéticos. O grupo foi criado por sete residentes multiprofissionais de Saúde da Família e da Comunidade, a partir do processo de territorialização, que permitiu a identificação do vínculo fragilizado que pacientes com HAS e DM tinham com a UBS, no ano de 2015, em um munícipio do Litoral Leste do Ceará. O grupo contou com 25 participantes, de ambos os sexos, com idade entre 60 à 93. Os encontros aconteceram a partir de março de 2015 até dezembro do mesmo ano, sendo estes mensais. Durante cada encontro ocorriam as sessões educativas, com temáticas variadas, que não tinham o foco somente nas doenças crônicas em questão. Todas as ações foram desenvolvidas por uma equipe multiprofissional, sendo organizadas em: acolhimento e dinâmica, atividade propriamente dita, classificação de risco, realizada pelas enfermeiras, e posteriormente o atendimento imediato ou agendamento de consultas médicas ou de enfermagem, as duas últimas conforme a necessidade do participante. Vale ressaltar que na realização das atividades propostas foram utilizadas diversas atividades lúdicas para fácil compreensão e absorção do conteúdo exposto. Entre os profissionais facilitadores do grupo estavam as seguintes categorias: Enfermagem, Fisioterapia, Serviço Social, Psicologia, Nutrição e Educação Física.

Resultados e Dicussão:

Compreende-se que o processo de territorialização foi fundamental para a percepção de fragilidades no território circunscrito da UBS de atuação. Corroborando com este achado, Santos e Rigotto (2011), falam que o processo de territorialização é um potente instrumento para a organização do trabalho e das práticas de saúde, devido ao fato deste processo embasar as atividades desenvolvidas posteriormente, considerando as especificações de uma determinada área. No que diz respeito às temáticas diversificadas, não sendo focadas somente nas condições crônicas dos participantes, e às metodologias, enxergou-se no grupo um momento potencial de discussão, buscando propiciar uma assistência holística e não somente voltada para as patologias. As metodologias utilizadas foram pensadas levando em consideração a promoção e a proteção da saúde do indivíduo, sendo que a equipe de saúde vislumbrou a necessidade de incluir neste momento a avaliação deste pacientes, que outrora somente acontecia quando havia alguma intercorrência clínica, sendo esta atividade desenvolvida pela enfermagem através aferição dos sinais vitais e histórico do paciente. Sabe-se, que os grupos terapêuticos contribuem para a melhoria do autocuidado em relação as doenças crônicas como HAS e ao DM, sendo os mesmos fundamentais para o cuidado. Isto é evidente quando se analisa os discursos dos participantes destes grupos, já que as mudanças são perceptíveis (ALVES et al., 2016). Sobre a importância de uma variedade de profissionais, a literatura evidencia que quando as atividades educativas são desenvolvidas por uma equipe multiprofissional elas incluem uma maior diversidade de conhecimento, estimulando práticas mais criativas e contribuindo para o aumento da adesão dos usuários. Este fato, em conjunto com o saber descentralizado do profissional, constitui estratégia basal para tornar as atividades de educação em saúde em espaços de compartilhamento de saberes (MENDONÇA, NUNES, 2014). Evidencia-se ainda, que com a implementação do grupo o número de pacientes com HAS e DM atendidos na UBS aumentou e a unidade passou a reservar um turno para o acompanhamento destes pacientes, sendo criado, a partir de março, o turno de Hiperdia. Logo, o total desses atendimentos no decorrer do período foi de 494 e durante 2015 foram realizadas 10 encontros do grupo, tendo em média 20 participantes por atividade.  A explicação para este aumento pode está no fato da educação em saúde, não se limitar somente em levar a informação à comunidade, mas também em criar vínculos entre os usuários e os profissionais, em favorecer a inclusão social, em originar uma participação ativa dos usuários e em difundir constantes remodelagens conceituais destes indivíduos, principalmente no que diz respeito a hábitos que comprometam a saúde e a qualidade de vida dos sujeitos (BESSALER, JANINI, VARGAS, 2015).

Conclusão:

A participação de idosos em grupos que tenham como foco a integralidade da assistência, geração de vínculos entre profissionais de saúde e usuários, a educação em saúde, promoção da autonomia e a geração de autocuidado proporciona a esse público qualidade de vida no seu envelhecer. Além disso, colabora para o empoderamento e consequentemente, autonomia dessa faixa etária. Nesse sentido, foi perceptível que o grupo de idosos tornou-se um espaço de discussão, aprendizagem, promoção da saúde, diversão e de convívio social, tanto para os participantes quanto para os facilitadores. Logo, também foi observado que a maior parte dos participantes do grupo tornaram-se usuários assíduos dos serviços ofertados pela unidade, fugindo da lógica somente assistencial. Embora no início da formação do grupo tenha havido dificuldades quanto a adesão dos idosos às práticas de promoção e prevenção, hoje os próprios participantes reconhecem a importância de tais práticas, o que só reafirma a potência de tais espaços e de tais atividades para a qualidade de vida dos idosos.

Referências

ALMEIDA, E. R.; LEITE, M. T. S.; MOUTINHO, C. B.A prática da educação em saúde na percepção dos usuários hipertensos e diabéticos. Saúde Debate, RIO DE JANEIRO, V. 38, N. 101, P. 328-337, ABR-JUN 2014.

ALVES, A.S.et al., Prevenção e controle da hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus-

PROEXT. Extramuros- revista de extensão UNIVASP. Volume 3, número 1, edição especial, 293-299p, Jun.- 2015.

ALVES, J.E.D. Transição demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento. Revista Portal de Divulgação, n.40, Ano IV. Mar/Abr/Mai, 2014.  

ALVES, M. S. et. Al., Grupo Terapêutico com Idosos Sobre o Autocuidado nas Doenças Crônicas. J Health Sci18(1):48-51. 2016.

BESSLER, D.; JANINI, J. P.; VARGAS, A. B. de. Educação em saúde e promoção da saúde: Impacto na qualidade de vida do idoso. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 39, n. 105, p.480-490, ABR-JUN. 2015.

FECHINE, B.R.A. TROMPIERI, N. O processo de envelhecimento: as principais alterações que acontecem com o idoso com o passar dos anos. Inter Science Place Revista Científica Internacional. Edição 20, volume 1, artigo nº 7, Janeiro/Março 2012.

MENDONÇA, F. F.; NUNES, E. F. P. A. Atividades participativa sem grupos de educação em saúde para doentes crônicos. Cad. Saúde Colet., 2014, Rio de Janeiro, 22 (2): 200-4

SANTOS, A. L.; RIGOTTO, R. M. Território e territorialização: incorporando as relações produção, trabalho, ambiente e saúde na atenção básica à saúde. Trab. educ. saúde (Online), Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 387-406, nov.  2011.