RODA DE CHÁ: DIALOGANDO COM GRUPO DE IDOSOS SOBRE FITOTERAPIA.

DANARA MAGALHÃES VIANA

Co-autores: , DRA. ANA PATRÍCIA PEREIRA MORAIS , INGRID BEZERRA COSTA MAIA, WALBER MENDES LINARD e ANTÔNIO JACKSON DOS SANTOS CRUZ
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

 

II SIEPS

XX ENFERMAIO

I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM

 

Fortaleza - CE

23 a 25 de Maio de 2016

 

 

RODA DE CHÁ: DIALOGANDO COM GRUPO DE IDOSOS SOBRE FITOTERAPIA.

 

Danara Magalhães Viana¹; Ingrid Bezerra Costa Maia¹; Walber Mendes Linard¹; Antônio Jackson dos Santos Cruz¹. Orientadora: Dra. Ana Patrícia Pereira Morais².

 

1.     Universidade Estadual do Ceará - Fortaleza

2.     Orientadora - Universidade Estadual do ceará

 

danaramviana@hotmail.com

 

EIXO III. ENFERMAGEM, SAÚDE E SOCIEDADE: ENCONTRO NOS TERRITÓRIOS

 

Introdução


O envelhecimento é um acontecimento natural, normal e universal. Entretanto, o processo de envelhecimento decorre não só de fatores biológicos, mas também de fatores ambientais, sofrendo influência dos hábitos cultivados durante o curso da vida. É comum os idosos fazerem uso de diversos tipos de medicamentos, sobretudo para doenças como crônicas, como Hipertensão Arterial e Diabetes. Com o envelhecimento acelerado da população do Brasil emerge grandes consequências na estrutura das redes de Atenção à Saúde. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2060, uma significativa parcela da população brasileira será de idosos acima de 60 anos. Atualmente, temos 20,6 milhões de idosos, o que representa 10,8% da população. Em 2060, esse número representará 26,7% do total (IBGE, 2010).

A partir do cotidiano da saúde, na atenção primária na Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) Alarico Leite da Secretaria Regional VI no Município de Fortaleza, durante as visitas domiciliares, atividades na sala de espera, acolhimento e atendimentos individuais da Equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), observamos que a maioria dos idosos não faz uso correto dos medicamentos. Com isso, a doença desses idosos vem se agravando e provocando, muitas vezes, outras enfermidades. Com isso, percebemos a necessidade de realizarmos ações que buscassem orientar os idosos sobre o uso correto de medicamentos e o incentivo à prática de medidas não farmacológicas. Assim, pretendemos contribuir com a promoção do envelhecimento saudável, temática relevante no contexto da política de saúde em nível mundial, assumida como diretriz da Política Nacional de Saúde do Idoso no Brasil (BRASIL, 1994).

Ao longo dos anos vamos acumulando informações, por isso é comum os idosos apresentarem algum conhecimento sobre plantas medicinais. Estas exercem ação terapêutica, utilizadas tradicionalmente desde a antiguidade por diversos povos em todo mundo. É importante ressaltarmos que, muitas vezes, as informações trazidas pela comunidade sobre as plantas medicinais são equivocadas por isso a necessidade de realizarmos esse trabalho educativo com plantas medicinais. Além disso, muitas plantas são tóxicas quando usadas erroneamente e pode haver interação medicamentosa quando associada a alguma medicação (DANTAS, 2010). As Plantas Medicinais são utilizadas em forma de preparados mais simples, como os chás, as infusões e compressas, assim como elaboradas segundo técnicas farmacêuticas, como as cápsulas e os xaropes. Trabalhar com Plantas Medicinais na Atenção Primária é muito enriquecedor e apresenta inúmeros benefícios, em especial a participação dos usuários em todo o processo: plantio, manejo, preparações e rodas de conversas, estimulando a autonomia e a inserção social. Não podemos esquecer que uma comunidade bem orientada pode utilizar um recurso de fácil acesso, baixo custo e menor risco de efeitos colaterais, além do fortalecimento do controle social. Diante disso, em parceria com o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Pontes Neto, localizado no Bairro Boa Vista no município de Fortaleza, as equipes da ESF e NASF realizaram a 'Roda de Chá' com os Idosos participantes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos daquela Unidade.

O objetivo da ação foi promover uma discussão sobre o uso de plantas medicinais, orientando sobre as suas propriedades, indicações, modo de usar e cultivo. A relevância do presente relato está no aporte para base de conhecimento que fundamenta a prática do enfermeiro, a fim de contribuir com a equipe multidisciplinar, valorizar as práticas tradicionais de cuidados com a saúde, além de fortalecer as ações intersetoriais.

Metodologia


Estudo descritivo, tipo relato de experiência, que usou como base empírica anotações em diário de campo e elaboração e execução de uma ação que usou como metodologia uma oficina como idosos de um grupo de convivência com idoso. A oficina foi realizada em agosto de 2015 no CRAS Pontes Neto com participação de 33  idosos, com idade entre 60 e 78 anos. Os equipamentos sociais envolvidos foram as UAPS Alarico Leite, tendo como representantes a enfermeira da equipe da ESF e uma Assistente Social e um farmacêutico da equipe NASF, e o CRAS Pontes Neto. Percorremos os seguintes passos para a efetivação da ação proposta:

1º Passo: Diante da realidade apresentada, a enfermeira da equipe ESF e profissionais do NASF reuniu-se com algumas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) para identificarmos as potencialidades locais e as possibilidades de parceria;

2º Passo: Elaborar um projeto e buscar parceria com a Equipe do CRAS Pontes Neto. O projeto foi discutido com toda equipe, com isso foram realizados os ajustes necessários para que a ação fosse efetivada;

3º Passo: Os educadores sociais do CRAS Pontes Neto aplicaram com todos os participantes do serviço de convivência para idosos um instrumental  para identificarmos quais as medicações eles usam e se fazem uso de alguma planta medicinal;

4º Passo: Roda de Chá - Percebemos que ao lidar com o processo saúde- doença, a população se vale de estratégias nem sempre convergentes com parâmetros técnicos, ou reconhecidas dentro destes, mas não necessariamente inferiores, nocivas ou sem valor. Práticas terapêuticas populares, como o uso de ervas e de remédios caseiros, têm vantagens em termos de eficácia e custo. Com isso, a Roda de Chá foi pensada como um momento de discussão sobre o uso de Plantas Medicinais pela comunidade para o combate de algumas enfermidades. Utilizamos metodologias participativas, visto que o grupo é um lugar potencializador da interação e a reflexão crítica, a partir do envolvimento de todos e da construção do coletivo partindo do singular, da história e do pensamento de cada indivíduo. Processos participativos são pensados na direção de promover mais amplamente a participação dos sujeitos na sociedade, suscitada pela reflexão conjunta dos problemas vivenciados e da tomada de consciência sobre a necessidade de se trilhar caminhos de superação, de coletivamente assumir a construção da cidadania e romper a lógica de negação de direitos inscrita na realidade e refletida no processo saúde-doença-cuidado.

 

Resultados e Discussão


A 'Roda de Chá' foi composta de quatro momentos, todos interligados. Primeiro nós apresentamos aos presentes as quatros plantas que iríamos trabalhar naquela tarde: Cidreira-Brava, Capim-santo, Boldo e Colônia. Em seguida, incentivamos a participação de todos e abrimos para o dialogo a partir dos seguintes questionamentos: alguém faz uso de algumas dessas plantas medicinais? Como vocês usam? Para que serve? Todos podem usar? Vocês têm essas plantas em casa?  A participação de todos foi muito positiva e enriquecedora. De acordo com Freire (1982, p.43), "o diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o "pronunciam", isto é, o transformam (...)". O processo foi feito não só de razão, mas também de emoção, ludicidade, solidariedade, daquilo que une cada um consigo mesmo e com o outro. Num segundo momento, explanamos sobre as propriedades de cada uma das plantas: cultivo e aspectos químicos e farmacológicos (propriedades e indicações e modo de usar). No terceiro momento, fizemos uma demonstração de como é todo o processo para fazer os chás e posteriormente servimos chá para todos os participantes.

Foi um momento ímpar de buscamos garantir o acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicas. Segundo Matos (2007) não devemos subestimar o conhecimento popular sobre plantas medicinais, entretanto jamais poderemos repassar a população, sem antes sabermos se a atividade atribuída à planta verdadeiramente existe e se seu grau de toxidade não irá submeter às pessoas a riscos.

Conclusão


Como resultado da aplicação dessa atividade foi proposto pelos próprios idosos à implantação de um pequeno Horto com plantas medicinais nas dependências do CRAS Pontes Neto. Esse envolvimento coletivo fortalece o desejo de implantação do Horto e contribui para a sua efetiva implantação. Estamos na fase de captação de recursos e na certeza de que envolveremos muito mais atores no nosso caminhar o que deixará a conquista ainda maior. Além do mais, aos trazermos essas discussões para os idosos temos a certeza de que muitos deles replicarão esses conhecimentos para seus familiares. É preciso ousar para conquistar espaços e realizar ações de ampliação do cuidado em saúde.

Referências

 

BRASIL. Política Nacional do Idoso. LEI Nº 8.842, DE 4 DE JANEIRO DE 1994.

 

DANTAS, V. L. A. Dialogismo e arte na gestão em saúde: a perspectiva popular nas cirandas da vida em Fortaleza. 2010. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010.

 

FREIRE, P. Extensão ou Comunicação. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE. Censo Demográfico 2010. Brasília, 2010.

 

MATOS, F. J. de A. Plantas medicinais: guia de seleção e emprego das plantas usadas  em fitoterapia no Nordeste do Brasil. 3ª Ed. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2007.