O EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM EM CENTRO CIRÚRGICO: QUE FATORES TRAZEM SENTIDO A ESTE TRABALHO?

ANNA LAURITA PEQUENO LANDIM

Co-autores: ROBERTA MENESES OLIVEIRA, SAMYA COUTINHO DE OLIVEIRA, ILSE MARIA TIGRE DE ARRUDA LEITÃO, ANNA PAULA LANDIM PEQUENO e LUANA SILVA DE SOUSA
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Introdução      

No contexto hospitalar, o Centro Cirúrgico é considerado uma unidade crítica em que eventos adversos são passíveis de ocorrer, principalmente quando seus trabalhadores e os processos não estão alinhados a uma cultura de segurança.

Alguns dos aspectos que influenciam a consolidação dessa cultura abrangem a satisfação no trabalho, o clima organizacional, as múltiplas jornadas, a sobrecarga de trabalho, a precarização, a rotatividade, o dimensionamento de pessoal e o treinamento inadequados, a ambiguidade de papeis, os conflitos interpessoais e comportamentos destrutivos (OLIVEIRA et al., 2015).

Assim, o estudo do sentido do trabalho atribuído pela equipe de enfermagem em centro cirúrgico pode favorecer maior entendimento dos fatores envolvidos no interesse e no significado deste, nesse ambiente considerado crítico.

Morin (2001) define o sentido do trabalho como uma estrutura afetiva formada por três componentes: o significado, a orientação e a coerência. O significado refere-se às representações que o sujeito tem de sua atividade, assim como o valor que lhe atribui. A orientação é sua inclinação para o trabalho, o que ele busca e o que guia suas ações. E a coerência é a harmonia ou o equilíbrio que ele espera de sua relação com o trabalho.

Diante do exposto, este estudo objetivou analisar o sentido do trabalho atribuído por membros da equipe de enfermagem de um centro cirúrgico.

Metodologia

Estudo descritivo, com abordagem quantitativa, realizado em hospital público de referência no atendimento cardiopulmonar em Fortaleza, Ceará. Participaram 34 trabalhadores de enfermagem, incluindo enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem atuantes no Centro Cirúrgico (CC), que atenderam a critérios de elegibilidade: trabalhar no CC há, pelo menos, 1 ano e ocupar função assistencial.

Os instrumentos de coleta de dados consistiram em um Questionário sociodemográfico/profissional e a Escala de Trabalho com Sentido (ETS), um instrumento dedicado à identificação de fatores que fazem o trabalho ter sentido (BENDASSOLLI; BORGES-ANDRADE, 2015). Consta de 24 itens, devendo ser avaliada pelo participante em uma escala de 6 pontos (do tipo Likert), em que 1 significa extremamente em desacordo, e 6 extremamente em acordo com afirmações relacionadas ao seu trabalho.

Segundo os autores, a ETS é uma escala multifatorial e seus resultados devem considerar cada um dos seis fatores que a compõem: utilidade social; ética; liberdade, aprendizagem e desenvolvimento; qualidade das relações; coerência e expressividade.

Para conhecer a média geral do fator, somaram-se todos os valores obtidos por cada participante, dividido pelo número de participantes. Para interpretá-las, considerou-se que, quanto maior a média fatorial de cada fator, maior a percepção de sentido naquele trabalho. Escores acima de 4,9 indicaram que o trabalho tinha sentido de acordo com o fator diagnosticado (BENDASSOLI; BORGES E ANDRADE, 2015).

Os dados foram processados no programa Excel. Foram calculados média e desvio padrão das variáveis quantitativas, além das frequências relativa e absoluta das variáveis.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição (nº710.883/2014).

Resultados e Discussão

A maioria dos participantes era de mulheres (82,3%), técnicas de enfermagem (61,8%), casadas (55,9%), com médias de 39 anos de idade e de 6,9 anos de trabalho no serviço, e carga horária semanal média de 45 horas, sendo a maior parte cooperada (64,7%).

Analisando as médias da ETS, constatou-se que a média da escala total (4,8) correspondeu à ausência de sentido no trabalho. Interpretando os fatores da escala, individualmente, foi possível observar que a maioria respondeu às assertivas da escala de forma positiva quando se fala em utilidade social do trabalho (Fator 1), atribuindo sentido ao trabalho com relação a esse fator (Méd=5,68).

Sabe-se que, se o homem reconhecer o trabalho apenas como algo obrigatório e indispensável à sobrevivência e às aquisições pessoais, deixa de notar esse mesmo trabalho como algo que ele cria enquanto indivíduo e ser social, simplificando-se somente a produtor e a consumidor de capital, deixando de buscar sua identidade nas tarefas que executa, esquecendo a atribuição de significados e sentidos positivos ao seu fazer (ROSENSTOCK, 2011).

Em contrapartida, percebe-se que os fatores "ética no trabalho" e "liberdade no trabalho" apresentaram as piores médias (3,79 e 4,04, respectivamente), significando ausência de sentido no trabalho.

Para as instituições de saúde, o maior desafio é a existência de uma ética interna que oriente o comportamento das pessoas que as constituem, afinal, uma instituição ética é formada por trabalhadores éticos. Assim, essas organizações devem servir de exemplo para os seus trabalhadores, promovendo satisfação e oferecendo condições dignas de trabalho, como também um ambiente em que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e que a justiça, a igualdade e o respeito nas relações prevaleçam.

Os demais fatores (aprendizagem e desenvolvimento; qualidade das relações no trabalho; coerência e expressividade do trabalho) foram analisados de forma positiva, considerados, portanto, aspectos favoráveis ao sentido do trabalho.

Em estudo realizado por Kell e Shimizu (2010), os investigados afirmaram que, para a melhoria do trabalho em equipe, é necessária uma boa comunicação entre os seus membros, gestor e pacientes. Para que isso ocorra, deve-se privilegiar relações amistosas. Nesse sentido, o trabalho em equipe deverá ser orientado pelo investimento na criatividade, na busca de novos mecanismos para o aprimoramento da qualidade da produção de cuidado em saúde. Isso deve ser ainda mais prioridade na unidade de centro cirúrgico, onde se espera um trabalho em equipe entre enfermagem e categoria médica, comunicando-se com clareza e mantendo relações saudáveis com estes profissionais.

Enquanto os trabalhadores não se fizerem ouvir, consequências negativas podem ocorrer aos pacientes, aos próprios trabalhadores e à instituição de saúde. A liderança de enfermagem está numa posição ideal para possibilitar que essas mudanças ocorram, criando um ambiente que encoraje esses trabalhadores a manifestarem abertamente suas preocupações.

Conclusão

Para a maior parte dos participantes, o trabalho não representou sentido. Os seguintes fatores destacaram-se como significantes: utilidade social do trabalho, aprendizagem e desenvolvimento e qualidade das relações no trabalho. Por outro lado, o fator ética no trabalho foi o pior avaliado, contribuindo para que não ocorra sentido no trabalho, seguido de liberdade e coerência e expressividade no trabalho.

O estudo pode contribuir com as lideranças de enfermagem em centro cirúrgico e outros cenários, visto que possibilita uma percepção de como se encontra o sentido do trabalho para a equipe, possibilitando intervenções nesse âmbito, em busca de maior motivação e satisfação profissional, além de melhorias na assistência ao paciente.

Referências

BENDASSOLLI, P.F.; BORGES-ANDRADE, J.E. Escala de trabalho com sentido (ETS). In: PUENTE-PALACIOS, K., PEIXOTO, A.L.A. Ferramentas de diagnóstico para organizações de trabalho: um olhar a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2015, p.221-231.

KELL, M.C.G.; SHIMIZU, H.E. Existe trabalho em equipe no Programa Saúde da Família? Ciência & Saúde Coletiva, 15(Supl. 1), p. 1533-1541, 2010.

MORIN, E. M. Os sentidos do trabalho. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 41, n.3, p. 8-19, jul./set., 2001.

OLIVEIRA, R.M. et al. Evaluating the intervening factors in patient safety: focusing on hospital nursing staff. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v.49, n.1, p.104-113, 2015.

ROSENSTOCK, K.I.V. Satisfação, envolvimento e comprometimento com o trabalho: percepção dos profissionais na estratégia saúde da família. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Enfermagem Na Atenção à Saúde) - Universidade Federal Da Paraíba. João Pessoa: [s.n.], 2011. 100f.