Introdução
O câncer de colo uterino representa um grande problema de saúde pública no Brasil. Pesquisa recente em um hospital escola do Triângulo Mineiro identificou que os cânceres ginecológicos em 321 casos, foram 15 casos (15,63%) dos cânceres de colo de útero (SOARES; SILVA, 2010).Segundo dados do instituto nacional de câncer, o câncer de colo do útero é o terceiro tumor mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil (INCA,2014 ).O câncer do colo do útero é caracterizado pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente (estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos vizinhos ou à distância. (BRASIL, 2013). Considera-se que a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) representa o principal fator de risco para o câncer de colo do útero. Outros fatores foram identificados como de risco, como os socioeconômicos e ambientais e os hábitos de vida (FRIGATO; HOG, 2003). Segundo o Ministério da Saúde além da importância de realizar o exame periodicamente, torna-se relevante evidenciar que, ao longo da vida, a mulher pode estar exposta a fatores de risco para o câncer de colo uterino, como: idade precoce da primeira relação sexual, multiplicidade de parceiros sexuais, lesão genital por HPV, tabagismo, multiparidade, entre outros (BRASIL,2013). As ações de prevenção da saúde são estratégias fundamentais, não só para aumentar a frequência e adesão das mulheres aos exames, como para reforçar sinais e sintomas de alerta, que devem ser observados pelas usuárias. É fundamental que os processos educativos ocorram em todos os contatos da usuária com o serviço, estimulando-a a realizar os exames de acordo com a indicação (BRASIL, 2013). Considerando tais dados verifica-se a importância de uma atenção voltada para saúde da mulher, oferecendo além dos procedimentos básicos, cuidados especiais que possam prevenir complicações físicas e emocionais. Entende-se que a consulta de enfermagem é extremamente importante, pois propicia o trabalho do enfermeiro no desenvolvimento de atividades voltadas à saúde da mulher, bem como a atenção ginecológica, uma das atividades desenvolvidas na disciplina Saúde da Mulher da Universidade Estadual do Ceará, durante as aulas teórico-práticas pode ser observado que não havia padronização das informações na realização do exame citopatológico. A partir desta observação surgiu a necessidade de um instrumento que atendesse a demanda da população, conduzindo o cuidado de enfermagem de forma integral voltado para prevenção e detecção precoce do câncer de colo uterino, pois neste momento o profissional pode identificar possíveis problemas, além da realização do exame citopatológico, conduzindo o cuidado e as ações de enfermagem voltados para uma atenção integral e de qualidade as mulheres. Dessa forma, o objetivo desse estudo é relatar a importância da construção de um instrumento para consulta de enfermagem ginecológica na prevenção do câncer de colo uterino.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. Realizado por acadêmicas de enfermagem da Universidade Estadual do Ceará. O estudo foi realizado em uma unidade básica de saúde, durante as consultas ginecológicas de enfermagem, realizadas semanalmente. Baseados na literatura e no processo de Enfermagem, formulou-se um questionário semi-estruturado que contempla os principais problemas e necessidades de saúde e as prescrições de enfermagem, voltado para aspectos específicos à saúde da mulher, reservando-se espaço nos impressos para incorporação de outras necessidades individuais. O instrumento foi constituído e escolhido pela permissividade e o interesse das pesquisadoras, assim por se tratar de ações de cuidado que pudessem ser desenvolvidas no intuito de proporcionar o bem-estar das pacientes.
Resultados e Discussão
A consulta de enfermagem ginecológica viabiliza o trabalho do enfermeiro durante o atendimento ao cliente, facilitando a identificação dos problemas e as decisões a serem tomadas. De acordo com Mendes (2010), consulta de enfermagem é abordada de forma ordenada e sistemática ocorrendo em cinco fases, a primeira é avaliação que deve iniciar o processo e levar a um diagnóstico de enfermagem, tendo uma coleta e uma análise de dados pertencentes ao estado de saúde do paciente e a respeito dele, com o objetivo de elaborar os diagnósticos de enfermagem. A segunda fase é definida como diagnóstico, nessa fase ocorre o julgamento clínico das respostas do indivíduo aos processos vitais ou problemas de saúde atual ou pregressa. O diagnóstico conduz ao planejamento das ações de enfermagem. A terceira fase da consulta é o planejamento que visa programar e avaliar o cuidado necessário a ser prestado ao cliente. O planejamento é um processo continuo baseado na avaliação e na reavaliação, constituindo a forma mais eficiente para manter o profissional informado dos cuidados com o paciente. A quarta etapa é a implementação, e ela relaciona o cuidado a ser prestado, isto é, a implementação do plano de cuidados diários que direcionam a equipe de enfermagem na execução dos cuidados para atenderem às necessidades básicas do paciente. A implementação é avaliada sempre, fornecendo os dados para a quinta fase, a evolução de enfermagem. Para tanto, a consulta de enfermagem deve ser norteada pela sistematização da assistência de enfermagem, por ser um método cientifico com aplicação especifica, de modo que o cuidado de enfermagem seja adequado e efetivo (ZAGONEL, 2001). Portanto, é importante a construção de um instrumento de cuidado que possa proporcionar a uniformização do atendimento, assim como o rastreamento e a detecção precoce do câncer de colo de útero, favorecendo um melhor prognostico e tratamento. O enfermeiro deve desenvolver ações educativas junto da população feminina, conscientizando as mulheres sobre a importância da realização periódica do exame Papanicolau para diagnosticar precocemente a doença. Dar orientações relativas às medidas de prevenção e promover uma melhor qualidade de vida para essas mulheres. A construção do instrumento é importante para sistematizar a assistência à saúde da mulher durante a consulta ginecológica de enfermagem, pois favorece o processo de enfermagem, assim como viabiliza a qualidade do cuidado. O instrumento contempla os principais problemas/necessidades de saúde e prescrições de enfermagem, voltado para aspectos específicos à saúde da mulher, reservando-se espaço nos impressos para incorporação de outras necessidades individuais. O instrumento tem por base o processo de enfermagem proposto por Vanda de Aguiar Horta, porém ao invés das seis fases, foram adaptados para quatro fases distribuídas em três partes: Histórico de Enfermagem; Levantamento das Necessidades de Saúde e Prescrição de Enfermagem e Evolução de Enfermagem. Dessa forma, a construção do instrumento auxiliou as acadêmicas de enfermagem a compreender que o processo de construção é continuo e devem ser avaliados pelo enfermeiro, visto que cada um é motivo de investigação e planejamento das intervenções a serem implementadas.
Conclusão
Concluímos que a prática da consulta de enfermagem permitiu a reflexão sobre seu potencial. A experiência na utilização dos instrumentos de consulta de enfermagem propostos tem mostrado a eficiência destes quanto à forma e conteúdo, uma vez que possibilitam um olhar ampliado do processo saúde-doença. No entanto a identificação dos resultados das recomendações propostas na prescrição de enfermagem encontra-se em fase de análise para posterior divulgação. Evidencia-se, ainda a necessidade da conscientização do enfermeiro, pois a consulta de enfermagem é uma atividade que demanda habilidades cognitivas e relacionais. Embora, seja reconhecida a pertinência do uso do instrumento para aprimoramento da consulta de enfermagem, ressalta-se a importância da qualificação do enfermeiro para a atenção a saúde da mulher, já que este está próximo dessas pacientes, logo surgindo, também, uma maior necessidade de atuação no ponto de vista de educação em saúde, como forma de conscientizar as mulheres da importância da consulta preventiva anualmente.
Referências
FRIGATO, Scheila; HOG, Luiza AkikoKomura. Assistência à mulher com câncer de colo uterino: papel da enfermagem. Revista Brasileira de Cancerologia, São Paulo, v. 4, n. 49, p.209-214, jul. 2003.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva [Internet]. Estimativa 2014: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2014. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa-24012014.pdf. Data de acesso 14 Ago 2014
Mendes, Raquel Silveira. Análise da Produção Científica sobre a Consulta de Enfermagem ao Paciente com Hipertensão Arterial/Raquel Silveira Mendes. Fortaleza, 2010.30 p.
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. - 2. ed. - Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2013. 124 p.: il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 13)
SOARES, E. M; SILVA, S. R. Perfil de pacientes com câncer ginecológico em tratamento quimioterápico. RevBrasEnferm. Brasília, v.63, n. 4, ago 2010.
ZAGONEL, I. P. S. Consulta de enfermagem: um modelo de metodologia para o cuidado. In: Metodologia para assistência de enfermagem: teorização, modelos e subsídios para a prática. Organizadoras: Telma Elisa Carraro, Mary E.A.Westphalen. Goiânia: AB, 2001.