GRUPO DE ARTETERAPIA COM DEPENDENTES QUÍMICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA

LEIDE LAURA SANTOS LEITE

Co-autores: ÉRIKA DA SILVA BANDEIRA, CLAUDIENE REGIA SILVA, ANTONIA MARINA LIMA SOARES, DEIVIANE BARBOSA FONTELES e HELDER DE PÁDUA LIMA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

GRUPO DE ARTETERAPIA COM DEPENDENTES QUÍMICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Leide Laura Santos Leite, Érika da Silva Bandeira, Claudiene Regia Silva, Antonia Marina Lima Soares, Deiviane Barbosa Fonteles, Helder de Pádua Lima.

INTRODUÇÃO

A dependência química tem afetado a sociedade tanto pelo envolvimento dos usuários com a criminalidade, quanto pela disseminação de doenças relacionadas ao seu uso indevido e o abandono destes de suas atividades escolares e laborais, acarretando fatores desencadeantes ou consequentes de quadros psiquiátricos, necessitando de medidas preventivas adequadas, em busca de minimizar os problemas relacionados ao uso dessas substâncias (MAGALHÃES; SILVA, 2010; SELEGHIM; OLIVEIRA, 2013).

O tratamento da dependência química está voltado para a reinserção social. As terapias de grupo, individual e familiar constituem-se espaços que estimulam a participação do usuário, a expressão da criatividade, produtividade e potencialidades, desenvolvem a autoestima, autoconfiança e a integração no grupo. Os profissionais de saúde mental tem a responsabilidade de oferecer instrumentos e ações assistenciais visando à reabilitação e ressocialização (OLIVEIRA et al, 2010).

É dentro desta perspectiva que se destaca a técnica de arteterapia, caracterizada por um processo terapêutico decorrente da utilização de modalidades expressivas diversas, que servem a materialização de símbolos. Estas criações simbólicas expressam e representam níveis profundos e inconscientes da psique, configurando um documentário que permite o confronto, no nível da consciência, destas informações, propiciando "insights" e posterior transformação e expansão da estrutura psíquica (VASCONCELOS; FRAZÃO; RAMOS, 2012; PHILIPPINI, 1998).

Mediante a isso, objetivou-se relatar a experiência de desenvolvimento de um grupo de Arteterapia para dependentes químicos em tratamento no Hospital-Dia.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo Relato de Experiência, realizado num Hospital de Saúde Mental que compõe a estrutura organizacional da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, durante as atividades práticas da Disciplina de Estágio Supervisionado IV - Saúde Mental do curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará, no mês de outubro de 2015.

Realizou-se um grupo de arteterapia, ao qual se utilizou a técnica de pintura em camisetas com o objetivo de criar um espaço para a expressão da criatividade acerca de temas pertinentes ao tratamento da dependência química, tais como prevenção de recaídas, tratamento da dependência química e prevenção do uso de drogas.

Participaram da atividade, 11 pacientes em tratamento da dependência química, os quais foram divididos em três equipes. Foram distribuídos materiais de apoio à arteterapia (três camisetas brancas e diversos pincéis hidrográficos de cores variadas). Cada equipe foi convidada a compor uma ilustração para cada camiseta de forma autônoma, guiada pelas escolhas pessoais e pela relação significativa existente com a temática proposta.

Estipularam-se trinta (30) minutos para o desenvolvimento das produções artísticas e dez (10) minutos para a discussão das estampas criadas. Algumas regras foram preestabelecidas junto aos membros do grupo, sendo essas: a participação voluntária; a promoção do sigilo referente aos relatos ali prestados e; a preservação da ordem no momento da discussão. Docente e discentes da Graduação de Enfermagem atuaram como mediadores e observadores da técnica grupal e se apresentaram como facilitadores do processo criativo, incentivando a produtividade, a auto-estima, a autoconfiança e as potencialidades dos participantes.

Este estudo respeita a condição humana e cumpre todos os requisitos e exigências expostas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS/DISCUSSÃO

A execução da arteterapia ocorreu de forma harmônica, considerando-se o respeito como o sentimento predominante na expressão da criatividade, justificado pela aceitação das idéias impostas pelos integrantes das equipes. Segundo Azevedo e Miranda (2011), as oficinas terapêuticas têm permitido a melhoria da harmonia, a estabilidade e diminuição das crises do transtorno mental, bem como a redução dos danos e, consequentemente, a minimização dos conflitos inerentes ao consumo de drogas.

Notou-se certa dificuldade, inicial, para se estabelecer a criação da arte referente ao tema Prevenção de Recaídas, envolvida por sentimentos de dúvida, incerteza e receio. Em contrapartida, não se evidenciaram sentimentos competitivos ou mesmo de alta performance, mas sim de exposição da criatividade e de talentos desusados, alcançando os objetivos transformacionais da arteterapia. Esta modalidade terapêutica não dá ênfase às técnicas e aos aspectos estéticos, mas vai de encontro aos processos criativos, de livre expressão, de enriquecimento dos sujeitos e de descoberta das potencialidades singulares (COQUEIRO; VIEIRA; COSTA, 2010).

Quanto à atribuição de significados às ilustrações criadas a partir das concepções individuais de vida, permitiu-se a partilha de experiências e concepções subjetivas antes desconhecidas, em consonância com os temas propostos.

As ilustrações referentes ao tema Tratamento da dependência química faziam menção ao apoio que algumas instituições fornecem à superação da dependência química, além de expressarem sentimentos vivenciados por eles durante o tratamento, tais como: amor, otimismo, esperança e liberdade, sendo a família mencionada como fator essencial no suporte à manutenção da abstinência. Já ao tema Prevenção de Recaídas as ilustrações expressavam os métodos vivenciados pelos pacientes para o alcance desta, tais como: a prática de esportes e evitar a companhia de pessoas influenciadoras do uso de drogas. Quanto à Prevenção do uso de drogas, as ilustrações expressavam situações vivenciadas por eles na sociedade para a experimentação das drogas, além de mensagens, tais como: "Acredite no poder superior" e "Sem drogas é possível ser feliz", como apoio às vivências individuais e da coletividade.

A vivência desta atividade pelos discentes de Enfermagem proporcionou o rompimento de preconceitos dos estudantes frente ao contato com os usuários de drogas, bem como a construção de um raciocínio crítico acerca das representações que o uso de substâncias psicoativas tem sobre a vida destes e de uma percepção ampliada acerca dos contextos que esses pacientes estão inseridos, tais como: socioeconômico, cultural, família, sociedade e outras entidades de apoio ao tratamento.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se que o desenvolvimento da arteterapia com dependentes químicos permitiu a manifestação de questões subjetivas relacionadas ao uso e tratamento de substâncias psicoativas por estes. A técnica de pintura em camisetas foi terapêutica, a partir do momento que os pacientes demonstraram sentimentos de harmonia, respeito, interação e de expressão da criatividade.

Esta experiência foi vista como única e essencial para a formação dos acadêmicos de enfermagem, por possibilitar o desencadeamento de atitudes positivas, percepções e habilidades dos discentes no manejo de pacientes dependentes de substâncias psicoativas, no contexto da Saúde Mental.

A ausência do enfermeiro do Hospital Dia durante a atividade foi vista, pelos acadêmicos de enfermagem, como desmotivada. Mediante a isso, faz-se necessária a forte atuação do enfermeiro no desenvolvimento de estratégias que promovam a reinserção social, na qual o usuário de drogas em tratamento seja visto como sujeito holístico, que enfrenta um fenômeno complexo de abstinência, mas que é capaz de superá-lo, através da expressão de suas subjetividades.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, D.M; MIRANDA, F.A.N. Oficinas terapêuticas como instrumento de reabilitação psicossocial: percepção de familiares. Escola de Enfermagem Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v.15, n.2, p.330-345, abr./jun. 2011.

COQUEIRO, N.F; VIEIRA, F.R.R; FREITAS, M.M.C. Arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde mental. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v.23, n.6, p.859-62, abr./mai. 2010.

MAGALHAES, D.E.F; SILVA, M.R.S. Cuidados Requeridos Por Usuários De Crack Internados Em Uma Instituição Hospitalar. Revista Mineira de Enfermagem, Belo Horizonte (MG), v.14, n.3, p.408-415, jan./mar. 2010.

OLIVEIRA, E et al Práticas Assistenciais no Centro de Atenção Psicos­social de Álcool, Tabaco, e outras Drogas. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v.21, n.3, p.247-254, set./dez. 2010.

PHILIPPINI, A. Mas o que é mesmo arteterapia? Imagens da Transformação. Pomar, v.5, 1998. Disponível em: http://www.arteterapia.org.br/v2/pdfs/masoque.pdf. Acesso em: 02 nov. 2015.

SELEGHIM, M.R; OLIVEIRA, M.L.F. Influência do ambiente familiar no consumo de crack em usuários. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v.26, n.3, p.263-8, jun. 2013.

VASCONCELOS, S.C; FRAZÃO, I.S; RAMOS,V.P. Contribuições do Grupo Terapêutico Educação em Saúde na motivação para a vida do usuário de substâncias psicoativas. Revista oficial do Conselho Federal de Enfermagem. v.3, n.3, p.123-126, abr. 2012.