TERRITORIALIZAÇÃO: CONHECENDO A ÁREA ADSCRITA

RAYANE MOREIRA DE ALENCAR

Co-autores: MARCUS BRENNO FERREIRA DA SILVA, MARIA LUDVÂNIA ROMUALDO DUARTE, PEDRO PAULO RODRIGUES, SUMINA KAYANNI ALVES DE LIMA e SHURA DO PRADO ARRAIS DE FARIAS
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

TERRITORIALIZAÇÃO: CONHECENDO A ÁREA ADSCRITA

 

EIXO III. Enfermagem, saúde e sociedade: encontro nos territórios.

 

Introdução


O modelo de seguridade social definido pela Constituição Federal de 1988 garante a toda a população brasileira direitos relativos a saúde, a previdência e a assistência social. Em 1994 surge a Estratégia de Saúde da Família (ESF), onde inicialmente era conhecida como Programa de Saúde da Família (PSF), sendo caracterizada por ser um conjunto de ações de saúde, tanto individual quanto coletivo, que visa a promoção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde (REZENDE; BAPTISTA e AMÂNCIO FILHO, 2015). A saúde da família é descrita pelo SUS como estratégia essencial para uma reorganização da Atenção Básica (AB), tendo em vista que a ESF realiza investimentos em ações coletivas para uma prática interdisciplinar e de gestão intersetorial reestruturando as práticas de saúde (BRASIL, 2011a). Aguiar (2015), aponta os objetivos da ESF, destacando a busca de uma melhora do estado de saúde da população, a promoção da família como um núcleo básico e com enfoque na comunidade, o direito a saúde como direito do cidadão, atendimento em sua forma integral, humanização do atendimento, organização do acesso, ampliação da cobertura, promoção da atualização profissional e incentivo a participação da população. Compreender o território no qual a ESF está inserida e os seus atores sociais, possibilita um planejamento adequado, bem como maior facilidade na tomada de decisão, visto que ao se conhecer o meio e seus integrantes a equipe pode traçar planos e intervir nas situações que de fato necessitam de prioridades, diante deste cenário surge a necessidade de se conhecer o território (MACHADO et al., 2012). Nas ESF o processo de reconhecimento do território surge como uma atividade essencial para que se possa entender a dinâmica social local e a interação dos indivíduos com os serviços de saúde. A territorialização apresenta-se como um pressuposto do trabalho na ESF, possibilitando o reconhecimento de toda a área que a unidade de saúde é responsável (SANTOS; RIGOTTO, 2010). Segundo Faria (2014), a territorialização surge como uma política do estado que visa, através de demarcações de áreas de atuação de unidades de saúde, obter e analisar informações sobre as condições de vida e saúde das populações adscritas no território, além de localizar eventos de saúde-doença em todos os níveis de atividades dos indivíduos. Mediante as informações supracitadas o objetivo deste trabalho consiste em relatar a experiência de acadêmicos de Enfermagem sobre o processo de demarcação territorial de uma microárea de abrangência da ESF Tiradentes, situada do município de Juazeiro do Norte-CE. A escolha em elaborar este relato se deu devido a experiência ter proporcionado uma aquisição de informações relevantes, desenvolvendo o interesse me divulga-las em meio cientifico. Abordar o tema territorialização se torna relevante mediante a fato deste processo ser essencial na atuação das equipes que compõem ESF, sendo necessário dispor de conhecimentos teórico-práticos para reconhecer de forma totalitária o território, possibilitando assim um planejamento e intervenções adequadas.

Metodologia

Este estudo é caraterizado quanto aos fins, como descrito, sendo resultado de um relato de experiência de acadêmicos de enfermagem do Centro Universitário Leão Sampaio, advindo de um processo de vivências e reflexões críticas acerca da territorialização, sendo esta uma atividade da disciplina Estágio Curricular Supervisionado I. A pesquisa descritiva apresenta-se como tendo o objetivo principal da descrição das características ou atributos de determinada população e/ou fenômeno, ou ainda o estabelecimento da relação entre variáveis, destaca-se que a pesquisa descritiva é feita sem que o pesquisador interfira, o mesmo apenas observa a relação causa consequência dos fenômenos, analisando e os descrevendo (RICHARDSON, 2012). As ações ocorreram em uma microárea central da ESF Tiradentes situada na rua Professora Ivani Feitosa, S/n, Tiradentes, no município de Juazeiro do Norte, CE, no período de agosto de 2015. O município de Juazeiro do Norte se situa no sul do estado do Ceará, o mesmo é considerado um polo metropolitano da região devido ao seu constante desenvolvimento. De acordo com o último senso demográfico realizado em 2010, Juazeiro do Norte possui uma população de 249.939 habitantes (IBGE, 2010). A territorialização foi realizada através de cinco visitas de campo no período da tarde para reconhecimento e identificação do território de abrangência da microárea. Seguiu-se as seguintes etapas: Primeiro conheceu-se toda a área física da microárea, após isso desenvolveu-se diálogos com os moradores local e por fim foi construiu-se mapas. Participaram deste processo, seis discentes, a docente responsável pela supervisão e uma Agente Comunitária de Saúde (ACS).  As informações obtidas foram registradas por meio de um diário de campo e foram realizadas fotografias de diversos locais de risco a saúde. Após isto construiu-se o mapeamento da microárea com enfoque nos riscos e características específicas. A elaboração dos resultados se deu com embasamento na concepção da Sistematização de Experiências, que segundo Holliday (2006), consiste em apresentar experiências com reflexões e interpretações críticas, nas quais todo os fatores e relações do processo de envolvimento entre os sujeitos envolvidos é considerado.

Resultados e Discussão

Há cerca de 90 famílias cadastras na microárea, sendo a maioria dos domicílios de alvenaria, com cômodos pequenos e muitas pessoas morando no mesmo, entretanto há um pequeno trecho da área em que a população possui casas mais amplas e bem estruturadas, o que ressalta a presença de desigualdades sociais locais. Observou-se que a microárea possui ruas pavimentadas e dispõe de um sistema de abastecimento de água; com relação ao saneamento básico, constatou-se que há algumas ruas que possuem esgoto a céu aberto, apontado para um fator de risco a saúde. A partir do momento em que uma equipe de saúde passa a conhecer o território no qual a população que lhe é designada está inserida, o entendimento dos fatores de risco e dos problemas de saúde torna-se mais claro, de modo que este entendimento facilita no planejamento das ações a serem realizadas na microárea em questão (GADELHA et al., 2011). Evidenciou-se que há coleta de lixo, porém diversas ruas encontravam-se poluídas, confirmando um cerco descaso por parte da população quanto ao sistema de coleta. Quanto as construções observadas notou-se que haviam 3 escolas, sendo uma de ensino Fundamental I e duas de ensino Fundamental II, havia ainda um creche e diversos estabelecimentos comerciais. Não haviam praças ou espaços para lazer e recreação. Conhecer os locais que apresentam riscos à saúde da população é essencial, pois pode-se traçar planos e intervenções pertinentes, podem estes serem representados no mapa de risco do território em questão. Ressalta-se ainda que a existência de áreas ambientais é algo que garante possibilidade de lazer e interação entre os moradores, ampliando assim a qualidade de vida dos mesmos (GRUBA et al., 2014). No que se refere a população, percebeu-se que há hipertensos e diabéticos na área e que todos são acompanhados, no momento não havia indivíduos com hanseníase ou tuberculose, as crianças encontram-se com o calendário vacinal em dia e sua grande maioria estavam matriculados na escola. Foi constatada ainda uma pequena incidência de gravidez na adolescência. A territorialização permite conhecer os principais públicos presentes na área, associando os dados observados com os relatados pelos indivíduos no momento das visitas as unidades de saúde. Pode-se citar ainda a possibilidade de captar indivíduos que não frequentam o posto de saúde, associando a busca ativa ao processo de reconhecimento do território (BRASIL, 2011b). Quanto as relações estabelecidas pelos moradores os relatos indicaram que não há conflitos rotineiros, os mesmos alegam conviver em harmonia. Um problema social encontrado durante as visitas foi o receio por parte da população devido ao índice crescente de roubos e assaltos, evidenciando um problema de segurança pública. Conhecer as pessoas da área, seus laços, anseios e conflitos possibilita um estreitamento de vínculos, além de garantir que os grupos de risco sejam priorizados (PESSOA et al., 2013). Houve ainda relatos de insatisfação por parte da população quanto à situação de saúde pública, devido à ausência de materiais para procedimentos a serem realizados na ESF local. Após conhecer a vulnerabilidade e os determinantes sociais em saúde locais a equipe da unidade tem embasamento para construir estratégias educacionais para solucionar situações de risco (MOYSES; FRANCO DE SA, 2014). Pode-se citar orientações ao público adolescente, intervenções como mutirões de limpeza, além de diálogo com a gestão local acerca de outros problemas pertinentes, dentre outras ações que estejam baseadas nas particularidades e deficiências desta população, porém para que se consolidem estas ações é necessário um olhar crítico por parte da equipe sobre as reais necessidades básicas de saúde da população.

Conclusão

A territorialização proporciona o conhecimento das particularidades do território e da população local, além de estreitar a relação entre a equipe e a população. É possível alcançar uma maior efetividade das ações de saúde quando se conhece as reais necessidades da comunidade, pois o planejamento e tomada de decisões na atuação diária dessas equipes tornam-se mais direcionados para os fatores de riscos, e ainda prioriza a parcela de indivíduos que necessitam de uma intervenção de forma mais rápida ou efetiva, garantindo assim o princípio da equidade. Diante das informações expostas percebe-se o quanto a territorialização é relevante para melhoria da saúde pública, pois o processo de reconhecimento territorial nas ESF é uma iniciativa básica para caracterização dos indivíduos adscritos, bem como seus problemas de saúde, além de proporcionar uma avaliação da efetividade do serviço de saúde local. Reforça-se ainda que atividades como estas, quando realizadas na graduação, além de contribuir com a melhoria das ações no seu campo de estágio, prepara o acadêmico para lidar com a prática profissional, ampliando assim seus horizontes e proporcionando consequentemente uma melhoria na qualidade de sua futura assistência a ser prestada, além de valorizar o trabalho em equipe, que é a base das ações nas ESF.

Referências

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