PERFIL DOS DOADORES EFETIVOS DE ÓRGÃOS E TECIDOS DO ANO DE 2015 DE UM HOSPITAL PÚBLICO DE FORTALEZA-CE

CLERIANE ADERALDO REIS

Co-autores: BÁRBARA BRANDÃO LOPES , JULYANE CERQUEIRA CAMPOS ANDRADE , NATÁLIA DE LIMA VESCO , LISIANE FURTADO PAIVA e PETRA KELLY RABELO DE SOUSA
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Introdução

Atualmente, o Brasil possui um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo, onde mais de 90% dos procedimentos de transplantes são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTES, 2013). O País conta hoje com 548 estabelecimentos de saúde, 1.376 equipes médicas autorizadas a realizar transplantes, além do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) presente em 24 dos 27 estados, por meio das Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) (FREIRE, 2015). O transplante de órgão sólido é uma opção de tratamento para melhorar a qualidade de vida de pessoas que apresentam doença crônica de caráter irreversível e em estágio final. Desde o primeiro transplante realizado com sucesso em 1954, os transplantes de órgãos sólidos têm sofrido constantes avanços no tratamento de doenças do rim, pâncreas, fígado, coração e pulmão. (MENDES, 2012). Sendo esse um processo complexo, o sucesso da doação de órgãos depende de um processo dinâmico, realizado através de várias etapas interligadas. Nesse contexto, a assistência prestada ao potencial doador, tendo em vista a efetivação da doação, requer capacitação de todos os profissionais envolvidos no processo. Assim, embora o transplante seja uma alternativa terapêutica segura e eficaz no tratamento de diversas doenças, determinando melhorias na qualidade de vida, há uma corrida contra o tempo para tornar o potencial doador, com toda a instabilidade hemodinâmica/fisiológica que a morte encefálica (ME) ocasiona no organismo, em doador efetivo. (RODRIGUES, 2014).  Assim, considerando-se a necessidade de conhecer os potenciais doadores a fim de se adotar estratégias corretivas frente às possíveis chances de doação, o estudo tem como objetivo caracterizar o perfil dos doadores efetivos de órgãos e tecidos, notificados no ano de 2015, em uma instituição pública do Estado do Ceará.

Metodologia

Tratou-se de um estudo quantitativo, descritivo, exploratório e retrospectivo. A pesquisa foi realizada na Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) de uma instituição pública de urgência e emergência, referência em traumatologia no estado do Ceará, localizado na cidade de Fortaleza. A população da pesquisa foi constituída pelos potenciais doadores falecidos em ME que passaram pela cirurgia de extração de órgãos, denominados como doadores efetivos. Os critérios de exclusão da amostra foram os potenciais doadores que não foram efetivados, ou seja, aqueles que não foram submetidos à cirurgia de extração de órgãos por recusa familiar, contra-indicação clínica, por serem pacientes desconhecidos ou pela ausência de parentes de primeiro grau para autorizar a doação. Os dados analisados foram referentes ao período de janeiro de 2015 a dezembro de 2015. A coleta de dados foi realizada nas dependências do serviço, entre abril e maio de 2016. Os dados dos doadores efetivos foram recuperados utilizando-se os relatórios mensais da CIHDOTT, sendo transcritos para uma planilha elaborada para essa finalidade. As seguintes variáveis coletadas foram: gênero, faixa etária, causa da ME e órgãos e tecidos doados. Os dados obtidos foram transportados para o programa Microsoft Office Excel 2007 para as análises descritivas e posterior confecção de tabelas de freqüência e medidas de posição, com o objetivo de se obter uma melhor interpretação dos resultados. A pesquisa foi submetida ao comitê de ética da instituição pesquisada e foi aprovada sob parecer n.55824816.1.0000.5047.

Resultados  Discussão

No período proposto para o estudo, foram notificados 208 pacientes em ME. Destes, 122 foram doadores efetivos. O predomínio desses doadores foi do gênero masculino (n=88; 72,1%), com faixa etária média de 36,2 anos (com mínima de 4 e máxima de 74 anos), com maior freqüência no grupo etário de 21 à 40 anos (n=52; 42,6%), seguida do grupo entre 41 à 60 anos (n=33; 27%), 4 à 20 anos (n=24; 19,6%) e 61 à 74 anos de idade (n=13; 10,6%). As principais causas de ME nos doadores efetivos, predominou o Traumatismo Cranioencefálico (TCE), representando mais da metade de todas as causas de ME (n=103; 84,4%), seguido pelo Acidente Vascular Encefálico (AVE) (n=10; 8,2%) e outras causas (n=09; 7,4%) incluindo afogamento, intoxicação exógena e choque elétrico. Ressalta-se que as causas do TCE incluem acidentes de trânsito (n=61; 59,22%), seguido por quedas diversas (n=22; 21,35%), perfuração por arma de fogo (n=15; 14,56%), agressão física (n=04; 3,9%) e acidente de trabalho (n=1; 0,97%). Os acidentes de trânsito englobam o atropelamento de pedestre e acidentes automobilísticos, havendo um predomínio do envolvimento de veículos de duas rodas do tipo motocicletas, totalizando 48 (78,6%), entre os 61 acidentes de trânsito registrados. Em relação à quantidade de órgãos e tecidos extraídos para transplantes, dos 122 doadores efetivos, 108 (88,52%) foram submetidos à extração de rim, 102 (83,60%) de fígado, 94 (77,04%) de córnea, 20 (16,39%) de coração, 04 (3,27%) de pulmão e 04 (3,27%) de pâncreas. Em relação à distribuição dos doadores por gênero, as informações encontradas assemelham-se aos verificados em um estudo realizado no estado do Piauí (PAZ, 2011) e outro no Oeste de Santa Catarina (SILVA, 2014), onde houve predomínio do sexo masculino, com 65,9% e 68%, respectivamente. Nesse mesmo estudo, no que concerne a faixa etária, os resultados também se assemelham com média de 39,2 anos de idade entre os doadores efetivos (PAZ, 2011) e maior concentração no grupo etário de 20 a 30 anos (54%) (SILVA, 2014). Sobre as causas de ME, a predominância do TCE por causas externas, seguido por AVE, corroboram com um estudo já citado (SILVA, 2014), porém, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (2015), a causa mais frequente de ME em todo o país foi o AVE (49,%), seguido de TCE (37%) e outras causas (13%). Na análise dos tipos de órgãos sólidos mais doados, os dados encontrados coincidem com os resultados de uma pesquisa realizada em um hospital público localizado no Sul do país, onde a maioria dessas doações (52%) incluíram rim e fígado (SILVA, 2014). Este resultado também se assemelha com os dados nacionais, onde o órgão sólido mais doado é o rim, seguido pelo fígado (REGISTRO BRASILEIRO DE TRANSPLANTES, 2015).

Conclusão

O presente estudo permitiu traçar parte do perfil dos doadores efetivos em uma instituição pública do Estado do Ceará, contribuindo para acompanhar e avaliar as ações propostas pelas políticas de transplantes. As variáveis analisadas assemelham-se a realidade dos doadores efetivos no nosso país, excetuando-se a ordem das principais causas de ME, sendo necessário considerar o fato da pesquisa ter sido realizada em um hospital de urgência e emergência referência em traumatologia. Os dados encontrados evidenciaram a predominância de homens jovens, dentro de uma faixa etária ativa economicamente, e com um alto índice de mortalidade por causas externas, evidenciando a necessidade de um investimento social em relação a medidas de reeducação no trânsito. Em relação aos órgãos e tecidos extraídos para doação, o rim, o fígado e a córnea foram bastante significativos. Apontou-se como limitação do estudo a quantidade de variáveis analisadas, revelando a necessidade da realização de outros trabalhos para analisar tais questões limitantes.

Referências

SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTES. 2015. Disponível em:< http://www.fortaleza.ce.gov.br/noticias/saude/comissao-de-transplantes-de-orgaos-do-ijf-e-reconhecida-como-melhor-do-brasil>. Avesso em: 28 de Abril 2016.

SILVA O.M. et al. Perfil de doadores de órgãos de um hospital público do oeste de Santa Catarina. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online. v. 6, n. 4, p.1534 - 1545,2014. Disponívelem:<http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/2644/pdf_988>Acesso em: 29 de abril 2016.

PAZ, A.C.A.C. et al. Caracterização dos doadores de órgãos e tecidos para transplante do estado do Piauí, de 2000 a 2009. Enfermagem em Foco. v. 2, n. 2, p.124 - 127, 2011. Disponível em <http://revista.portalcofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/110>. Acesso em: 29 abril 2016.

REGISTRO BRASILEIRO DE TRANSPLANTE. Dimensionamento dos Transplantes no Brasil e em cada estado. Veículo Oficial da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.n.4,2015.Disponívelem:<http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2015/anualrbt.pdf>. Acesso em: 27 de abril 2016.

PEREIRA, A.W.; FERNANDES R.C.; SOLER R.C. Diretrizes básicas para captação e retirada de múltiplos órgãos e tecidos da associação brasileira de transplantes de órgãos. Disponível em:<http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/pdf/livro.pdf>. Acesso em: 27 de abril 2016.

FREIRE, I.L.S. et al. Aspectos éticos e legais da doação de órgãos e tecidos: Visão dos estudantes de enfermagem. R. Enferm. Cent. O. Min. v. 5, n. 2, p.1594-1603, 2015.

MENDES, K.S.M. et al. Transplante de doadores efetivos do serviço de procura de órgãos e tecidos. Texto Contexto Enferm. v. 21, n. 4, p. 945 - 953, 2012.

RODRIGUES, S.L.L. et al. Perfil dos doadores efetivos do serviço de procura de órgãos e tecidos. Rev. Bras. Ter. Intensiva. V. 26, n. 1, p. 21 - 27, 2014.