INTRODUÇÃO O puerpério é um momento, no ciclo de vida da mulher, permeado de adaptações e é vivenciado de forma singular pela mulher que assume o papel de mãe. Ainda que seja a primeira gravidez ou a mulher já tenha experiências anteriores, cada gestação é uma nova experiência, onde um novo ciclo se inicia. Nesse momento, ocorrem os ajustes fisiológicos, em resposta às alterações sofridas pelo organismo da mulher, necessários ao processo de involução, recuperação e adaptação dos órgãos reprodutivos ao seu estado pré-gravídico (STRAPASSON; NEDEL, 2010; CABRAL; OLIVEIRA, 2010). Além das mudanças biológicas, a puérpera se defronta com adaptações subjetivas, sociais e familiares. Pois, a chegada do bebê requer uma adaptação da dinâmica conjugal, onde marido e mulher passam a exercer a função de pais eagora necessitam remanejar seus tempos e horários para acolher as demandas donovo membro na família(BRASIL, 2013). Diante desse contexto, é fundamental o cuidado de enfermagem no período pós-parto dando seguimento aos cuidados iniciados durante o pré-natal. E assim, recorreu-se à Teoria da Representações Sociais no sentido de compreender e caracterizar o cuidado de enfermagem a partir dos significados e percepções construídas socialmente pelos enfermeiros.
OBJETIVO Apreender as representações sociais de enfermeiros sobre o cuidado de enfermagem no período pós-parto no âmbito da Atenção Primária à Saúde.
METODOLOGIA Este estudo é um recorte da dissertação "Cuidado de Enfermagem no Período Pós-Parto: Representações Sociais de Enfermeiros e Puérperas na Atenção Primária à Saúde", defendida em 2016 na Universidade Estadual do Ceará. Trata-se de estudo exploratório e descritivo que utilizou a abordagem do tipo triangulação, e foi norteado pela Teoria das Representações Sociais (TRS), baseado nos princípios de Moscovici (2012) e Jodelet (2001). O estudo foi desenvolvido em 40 Unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) e participaram desta pesquisa, 31 enfermeiros, que realizavam assistência direta à mulher durante o ciclo gravídico-puerperal e estava há mais de seis meses na Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS), os quais foram submetidos à entrevista semiestruturada após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram analisados com o uso do software Alceste, versão 2012. O banco foi composto por 31 Unidades de Contexto Inicial (UCI) e das 375 Unidades de Contexto Elementar (UCE) o programa classificou 267, representando 71% de aproveitamento do material exposto. O corpus foi dividido em quatro classes, e nesse recorte abordaremos apenas a Classe 4 - O ser mãe e o cuidado de enfermagem: representações de enfermeiros, que representa 19% do corpus. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Potiguar (UnP), de acordo com as diretrizes e normas da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, e aprovada sob o parecer de nº1.054.847 e CAAE44319115.8.0000.5296, de 06/05/2015.
RESULTADOS/DISCUSSÃO No tocante ao perfil social, profissional e acadêmico apenas dos 31 enfermeiros que participaram da entrevista, pode-se afirmar que eram majoritariamente do sexo feminino (87,1%), na faixa etária entre 36 a 44 anos(41,9%), estado civil casado (67,7%), 74,2% possui filho, apresentavam de 06 a 10 anos de experiência em UAPS (41,9%), 54,8% possuem outro vínculo e com titulação mais representativa de especialista (93,5%), sendo que apenas 41,9% dos entrevistados possui especialização voltada para Saúde da Família. A Classe 4 foi formada por 50 UCE e 55 palavras analisáveis. Os vocábulos ilustrativos: angustiada, parto, vida, casa, orientações, mãee hospital, representam a atenção dos enfermeiros aos aspectos psicossociais que envolvem este período do ciclo-gravídico-puerperal, pois a mulher após a alta hospitalar, vai retornar à sua casa, à sua rotina de vida, porém agora como mãe e em torno desse novo papel surgem novas demandas e atribuições. É nesse contexto que se configura a importância da continuidade do cuidado de enfermagem. Evidenciou-se que a vivência na maternidade em concomitância ao acompanhamento do ciclo gravídico-puerperal, agregou critérios à consulta de enfermagem no pós-parto, possibilitando compreender a puérpera para além daquele momento vivenciado, mas relacionar com o que foi vivenciado por ela nesta gestação ou em uma gestação anterior, se for o caso. A representação social do cuidado de enfermagem está ancorada na experiência pessoal enquanto puérpera, ampliando a compreensão da necessidade do cuidado no período puerperal.
CONCLUSÃO Os significados atribuídos ao cuidado de enfermagem no puerpério se relacionam com o contexto social e profissional no qual estão inseridos. A experiência pessoal da enfermeira enquanto puérpera gera uma ressignificação social da importância do cuidado de enfermagem desenvolvido no pós-parto.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção ao pré-natal de baixo risco. - 1. ed. rev. - Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. 318 p.: il. - (Cadernos de Atenção Básica, n° 32).
CABRAL, F.B.; OLIVEIRA, D.L.L.C. Vulnerabilidade de puérperas na visão de Equipes de Saúde da Família: ênfase em aspectos geracionais e adolescência. RevEscEnferm USP. 2010; 44(2):368-75.
JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001.p.17-44
MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. 9. Ed. Petropólis: Vozes, 2012.
STRAPASSON, M. R.; NEDEL, M. N. B. Puerpério imediato: desvendando o significado da maternidade. Rev Gaucha Enferm, v 31 no. 3. Porto Alegre 2010. p. 521-528