Os sistemas de informação em saúde contribuem principalmente, no que se refere ao planejamento, à formulação de propostas, ao acompanhamento de ações e serviços, à avaliação dos serviços e a regulamentação do sistema de saúde. (Lucena et al, 2014). É a partir dos sistemas de informação em saúde que os gestores avaliam e adotam medidas visando melhorias nas condições de saúde da população.
A nível local, a Sala de Situação em Saúde, como sistema de informação, é uma ferramenta de planejamento que permite o agrupamento de informações de diferentes origens, proporcionando uma visão globalizada de uma determinada realidade e permitindo uma melhor tomada de decisão (SIPLAG - Sistema de Inteligência em Planejamento e Gestão). Ela permite o estudo do estado de saúde de um Estado, Município ou de uma área de abrangência de uma Unidade Básica de Saúde. Dessa forma são usadas informações dessa população referentes ao ano de interesse do estudo.
A sala de situação foi criada nos tempos de guerra, na qual os militares monitoravam as situações de perigo constante. Carlos Matus, no ano de 1977, foi o primeiro a aplicar o conceito de "Sala de Situação" no planejamento e monitoramento das ações governamentais. Ele propunha uma nova abordagem de planejamento e desejava ampliar a capacidade de gestão governamental. No ano de 1994 foi elaborada a primeira sala de situação no Brasil, em Campina Grande, na Paraíba. E em 1999, 11 estados brasileiros já contavam com 200 Salas de Situações implantadas.
Para Deininger et al (2014) a Sala de situação pode ser compreendida como um conjunto de dados agrupados em uma planilha e alimentados por diferentes informações, permitindo conhecer a realidade e as necessidades da população, o trabalho realizado pelo setor saúde e seu impacto em determinada área.
É a partir dessa ferramenta que são identificados os problemas de maior relevância em uma área, para que a gestão possa analisar as prioridades e desenvolver ações de saúde, de acordo com realidade local, visando resolutividade. Além disso, é possível observar os resultados para saber se os objetivos das ações de saúde propostas foram alcançados. Ela colabora com a gestão na medida em que são estabelecidas as prioridades e desenvolvidas as ações de saúde.
A utilização desse instrumento permite desenvolver um diagnóstico situacional em saúde, com orientação ao passado, ao presente e ao futuro, para favorecer a tomada de decisões na busca de uma nova realidade ou de uma nova situação. (LUCENA ET AL, 2014).
A sala de situação se articula em um processo de quatro etapas: coleta e processamento de dados que resultarão em planilhas de indicadores e gráficos; análise e comparação de dados; avaliação dos problemas, desenvolvimento de intervenções e tomada de decisão, e por último, a divulgação das informações para retroalimentar o sistema de saúde e permitir o controle social. Além disso, é necessário formar grupos de trabalho com os profissionais para discussão de assuntos de planejamento, epidemiologia e informática, para examinar a situação.
Este estudo tem como objetivo relatar a experiência da construção e implantação da Sala de Situação em Saúde em uma Unidade de Atenção Primária de Saúde - UAPS localizada na cidade de Fortaleza, no período de março e abril de 2016.
Estudo descritivo, de abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência. De acordo com Gil (2008), os estudos descritivos têm como objetivo descrever as características de uma determinada população, de um fenômeno ou de uma experiência. Nesse tipo de pesquisa há o estabelecimento de uma relação entre as variáveis do objeto de estudo analisado.
Realizado nos meses de março e abril de 2016, o cenário do estudo foi uma Unidade de Atenção Primária de Saúde localizada na cidade de Fortaleza, Ceará. Esta dispõe de procedimentos que visem à promoção, prevenção, e recuperação da saúde. A unidade funciona de 7 hs às 19 hs, de acordo com o novo modelo de gestão, oferecendo aos usuários atendimento de acordo com a demanda espontânea e programada, farmácia abastecida com medicamentos da Atenção Primária e de exames laboratoriais.
Participaram desse estudo dois internos de enfermagem, duas enfermeiras tutoras do internato, a coordenadora da UAPS e a professora supervisora do internato neste campo.
Como técnica de coleta de dados, utilizamos da observação participante. Pudemos participar de todo o processo de construção da Sala de Situação da UAPS e, assim, observamos aspectos inerentes ao processo, desde a apropriação teórica a respeito da Sala de Situação em Saúde, até a coleta dos dados que compõem a mesma.
Os aspectos éticos e legais relativos à pesquisa com seres humanos foram respeitados, de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que enfatiza a valorização com respeito pela dignidade humana e proteção em sua dignidade, autonomia e reconhecendo sua vulnerabilidade. Além disto, focaliza o desenvolvimento e o engajamento ético inerente ao desenvolvimento científico e tecnológico da pesquisa em que seu avanço deve, sempre, respeitar a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano.
Após concluída a fase de coleta, foi iniciado o trabalho de análise das informações de acordo com o objetivo proposto e a revisão da literatura.
A Unidade de Atenção Primária de Saúde (UAPS) na qual foi desenvolvida a Sala de Situação abrange uma população de aproximadamente 24.342 pessoas adstritas à sua área. Inicialmente, nós, internos de enfermagem, mostramos a coordenação da UBS interesse e entusiasmo em participar da construção da Sala de Situação na unidade, considerando que este instrumento facilita a visão dos problemas de saúde e acontecimentos preocupantes, além de mostrar resultados alcançados com as intervenções.
Diante disso, em um primeiro momento, agendamos uma visita a uma UAPS, à qual possui uma Sala de Situação que tomamos como referência, visto que os trabalhos nesta já se desenvolvem há cerca de dois anos, e os resultados da implantação da mesma são expressivos dentro da unidade. Durante a visita, conhecemos as etapas de construção, desenvolvimento e implementação da Sala de Situação. Além disso, foi possível tirar dúvidas, obter informações, conhecer o processo de atualização dos dados e comparar os resultados após ações de saúde desenvolvidas pela equipe.
Como na sala modelo, e conforme orientação da Secretaria Executiva Regional IV (SER IV), um técnico na unidade é responsável pelo processo de coleta, organização e exposição dos dados da Sala de Situação. Na nossa unidade, essa pessoa passou por um processo de "capacitação" com o profissional da unidade que visitamos, apreendendo os processos percorridos pelo mesmo na construção dos dados da sua unidade durante algumas semanas.
Após a visita, nós, internos de enfermagem da UECE, na supervisão com a professora passamos por um período de aprofundamento teórico acerca da Sala de Situação em Saúde, seus pré-requisitos, finalidades, localização e dados importantes a serem apresentados na mesma. Realizamos uma busca online de artigos e revistas, além de materiais disponibilizados por nossa supervisora no campo, que nos trouxessem informações sobre o tema em estudo.
A partir de então, com base nos dados captados no Sistema de Informação de Monitoramento Diário de Agravos (SIMDA) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) obtivemos informações sobre as notificações dos casos de dengue em Fortaleza. Com os bancos de dados em mãos, contendo informações dos casos de dengue em todo o município de Fortaleza notificados nos últimos anos, o processo de seleção das informações foi o mais trabalhoso, sendo portanto, o processo ao qual dedicamos mais tempo.
Primeiro, filtramos as notificações por ano, visando ter como resultado uma noção temporal do número de casos na área da unidade nos últimos cinco anos: 2012, 2013, 2014, 2015 e os casos já notificados em 2016 (esses retirados, principalmente, do SIMDA). O segundo filtro diz respeito à Secretaria Executiva Regional (SER), no nosso caso a SER IV. Após esses dois filtros, procedeu-se a leitura das planilhas, observando, principalmente, o endereço, de modo a determinar se aquele caso pertencia ou não à área de abrangência da unidade.
Repetiu-se esse procedimento para as notificações de cada ano, consecutivamente, realizando o filtro "ano de notificação", logo após "SER", prosseguindo-se a leitura dos endereços das notificações. Ao final dos cinco anos, organizamos os dados em tabelas, das quais foram montados os gráficos a serem expostos na Sala de Situação.
A finalização do processo de construção se deu com a montagem dos mapas, nos quais são expostos os casos confirmados de dengue no ano de 2016. Foram disponibilizados quatro mapas, em tamanho 80cm X 80cm. Manualmente, ancoramos cada mapa num fundo de "isopor", com o objetivo de facilitar a fixação dos marcadores dos casos confirmados ao longo do território da unidade. Ao fim, deu-se a montagem da Sala de Situação em si. Os gráficos, os mapas e os casos confirmados assinalados nos respectivos mapas.
Percebemos, com a construção da Sala de Situação, que a UAPS em questão é a maior notificadora da SER IV, totalizando, até abril de 2016, 106 notificações de casos suspeitos de dengue. O que nos leva a novos questionamentos: a que se deve esse alto número de notificações na área da unidade?; Os processos e fluxos dentro das unidades são padronizados?
Da mesma forma, reconhecemos a construção da Sala de Situação como um desafio das unidades de saúde, bem como da gestão das mesmas, em ter-se um panorama da situação de saúde da sua população. O aprofundamento teórico e metodológico foi necessário, e tornou-se um fator decisivo na qualidade das informações que obtivemos. Ademais, temos a certeza de que essa democratização do acesso a informação resultará em melhores resultados, ao passo em que os dados forem estudados, revisados e aprimorados.
O uso da Sala se Situação como Sistema de Informação possibilita aos profissionais a avaliação da situação de saúde de uma população, o planejamento de ações de acordo com as necessidades e o desenvolvimento de tais ações, visando sempre alcançar a melhoria do estado de saúde. Ao se tratar um caso específico como a dengue, essa ferramenta vai muito além, tendo em vista que ela possibilita aos gestores o desenvolvimento de um diálogo entre trabalhadores e usuários visando alcançar mudanças efetivas de combate à doença.
Sendo assim, a Sala de Situação funcionou não só como difusão de informações, mas como instrumento na tomada de decisão e estratégias no combate à dengue, envolvendo a gestão, os trabalhadores e a população.