O CONTEXTO DE TRABALHO EM OBSTETRÍCIA: IMPLICAÇÕES PARA A EQUIPE DE ENFERMAGEM

DEIVIANE BARBOSA FONTELES

Co-autores: MARIA MICHELLE DE SOUSA BRASIL, ÉRIKA DA SILVA BANDEIRA, ILSE MARIA TIGRE DE ARRUDA LEITÃO, REGINA MARIA DE SÁ BARRETO BEZERRA e ROBERTA MENESES OLIVEIRA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

O CONTEXTO DE TRABALHO EM OBSTETRÍCIA: IMPLICAÇÕES PARA A EQUIPE DE ENFERMAGEM

 

Maria Michelle de Sousa Brasil, Érika da Silva Bandeira, Deiviane Barbosa Fonteles, Ilse Maria Tigre de Arruda Leitão, Regina Maria de Sá Barreto Bezerra, Roberta Meneses Oliveira

Introdução

Diante da ampliação de novas discussões e investigações sobre o gerenciamento do cuidado, as políticas públicas e diretrizes técnicas que direcionam a assistência de enfermagem em obstetrícia conferem papel de destaque ao enfermeiro como profissional promotor da humanização do cuidado e integralidade da assistência.

Um estudo contemporâneo aponta que apesar dos avanços na autonomia do enfermeiro obstetra, características negativas do contexto de trabalho, tais como a sobrecarga de trabalho, influenciam sobremaneira na gestão do cuidado, repercutindo em desgaste físico, desestímulo e insatisfação pessoal com a assistência prestada (COPELLI et al, 2015). Salienta-se que o contexto de trabalho se refere ao espaço social onde operam a organização e as condições laborais, bem como as relações sócio-profissionais.

Neste contexto, vale ressaltar que o cotidiano de trabalho pode ser influenciado por relações desfavoráveis, as quais dificultam o desenvolvimento das ações dos profissionais na coletividade e, a organização e a adequação do ambiente de trabalho são consideradas medidas essenciais à prevenção de agravos à saúde dos trabalhadores (SILVA; CHERNICHARO; FERREIRA, 2011; WAGNER et al, 2009).

Mediante a isso, este estudo objetivou analisar o contexto de trabalho da equipe de enfermagem obstétrica de um hospital público.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa, realizado em hospital público do Ceará entre fevereiro e março de 2016, nas unidades que compõem o serviço de Obstetrícia: emergência obstétrica, alojamento conjunto (internação), sala de parto e centro obstétrico.

Participaram 50 trabalhadores de enfermagem, sendo 26 enfermeiros e 24 técnicos de enfermagem atuantes nas unidades supracitadas, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: trabalhar na unidade há, pelo menos, 1 ano; e ocupar função assistencial.

Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados: Questionário sócio-demográfico e profissional; e Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (EACT). Esta escala é composta por três fatores, a saber: Condições de trabalho - revela a qualidade do ambiente físico, local de trabalho, equipamentos e materiais disponíveis para executar o trabalho; Organização do trabalho - expressa divisão de tarefas, normas controles e ritmo do trabalho; e o fator Relações socioprofissionais - expressa o modo de gestão, comunicação e interação profissional. As respostas são obtidas através da escala tipo Likert, com pontuação variando de 1 a 5.

Os resultados da aplicação da EACT foram processados em planilha do Excel®. Foram calculadas as médias e os desvios-padrão de todas as assertivas e fatores da escala. Para interpretá-las, considerou-se como resultado satisfatório, positivo e produtor de bem-estar no trabalho, o fator com pontuação entre 1,0 e 2,3; para os fatores com pontuação entre 2,3 e 3,7, o resultado foi considerado crítico, ou seja, indicador de situação limite, potencializando o mal estar no trabalho e o risco de adoecimento; já os fatores com pontuação entre 3,7 e 5,0 foram considerados como resultado grave, negativo e produtor de mal estar no trabalho. Na EACT, quanto maior a pontuação, pior é o resultado, indicando forte risco de adoecimento e requerendo medidas imediatas nas causas visando eliminá-las e/ ou atenuá-las (MENDES; FERREIRA, 2008).

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição em fevereiro de 2016 (CAAE: 52900016.5.0000.5040).

Resultado e Discussões

O perfil sócio-demográfico da equipe de enfermagem das unidades de obstetrícia é caracterizado pela totalidade de trabalhadores do sexo feminino, com idade média de 38,5 anos. A distribuição do número de trabalhadoras é praticamente igualitária entre enfermeiras (52,0%) e técnicas/auxiliares de enfermagem (48,0%). Dentre as enfermeiras, apenas metade possui pós-graduação em obstetrícia. Chama a atenção o fato de 20% dos participantes estarem exercendo atividade laboral entre duas e três décadas nas unidades estudadas, enquanto que 53,1% dos participantes exercem atividade laboral excessiva, para mais de 40 horas semanais trabalhadas. Ressalta-se que a maioria destes (70,8%) não possui vínculo empregatício efetivo com a instituição de saúde.

Quanto à análise dos fatores da EACT, evidencia-se que as condições (X̅=2,40) e a organização do trabalho (X̅=2,96) são consideradas críticas para o contexto de trabalho da unidade de obstetrícia. Já no que diz respeito às relações socioprofissionais (X̅=2,17), estas se apresentam em nível satisfatório no ambiente organizacional.

Diante das assertivas da EACT, percebe-se que existe uma equivalência entre os resultados satisfatórios e críticos no que diz respeito às condições de trabalho. Os fatores satisfatórios compreendem a adequação e segurança do espaço físico, já os fatores críticos envolvem a precariedade das condições de trabalho e a falta/inadequação de recursos materiais e equipamentos.

Segundo Campos e David (2010), as condições de trabalho podem ser definidas como a qualidade do ambiente físico, dos equipamentos e dos materiais disponibilizados para a execução do trabalho. Em contrapartida, estudiosos da área afirmam que a equipe de enfermagem obstétrica sofre com as condições de trabalho precárias, prejudicando, assim, o seu trabalho e desmotivando os profissionais da área. Além disso, não possui autonomia e poder de decisão compatível com as suas responsabilidades perante a organização (NASCIMENTO JUNIOR et al, 2014).

Quanto às assertivas relacionadas à organização do trabalho, existe uma predominância de resultados críticos nos itens que envolvem o ritmo excessivo de trabalho, a pressão temporal, o controle e fiscalização de desempenho e a divisão de tarefas.

Do mesmo modo, em outro estudo que aplicou a mesma escala com trabalhadores da atenção básica, verificou-se que na Organização do Trabalho a avaliação grave ocorreu em duas questões: "as tarefas são repetitivas" e "o número de pessoas é insuficiente para realizar as tarefas", enquanto que as demais foram avaliadas como críticas (MAISSIAT et al, 2015). Assim, os trabalhadores são continuamente cobrados por terem que cumprir normas extremamente rígidas, com pouco ou nenhum suporte de sua gestão.

No que diz respeito às relações socioprofissionais, a grande maioria das assertivas obteve resultados positivos para o contexto de trabalho, expressadas por interações satisfatórias entre membros da equipe de enfermagem e gestores.

Evidências mostram que os ambientes organizacionais harmoniosos, com relações profissionais satisfatórias permitem a cooperação confiança entre chefia e subordinados e subordinados entre si, favorecendo a construção de estratégias de defesa que permitirão a continuidade do processo produtivo (CAMPOS; DAVID, 2010).

Conclusão

Consideram-se críticos os fatores da EACT referentes às condições e organização do contexto de trabalho das unidades obstétricas. As condições precárias de trabalho, a insuficiência de material e a existência de normas rígidas foram os aspectos predisponentes ao risco de mal estar no trabalho.

Valorizam-se os aspectos positivos quanto ao relacionamento interpessoal entre os profissionais, no que se refere à comunicação na equipe, integração no ambiente de trabalho e facilidade de acesso às informações.

Mediante ao exposto, faz-se necessária a transformação das práticas de gestão encontradas no cotidiano dos profissionais de enfermagem na obstetrícia, com enfoque nas políticas de otimização das condições e organização do contexto de trabalho e no fortalecimento das relações interpessoais entre os membros desta categoria.

Referência

CAMPOS.F.J.; DAVID, L.S.H. Avaliação do contexto de trabalho em terapia intensiva sob o olhar da psicodinâmica do trabalho. Revista Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, v. 45, n. 2, p.363-368, 2011.

COPELLI, F.H.S. et al. Compreendendo a governança da prática de enfermagem em um centro obstétrico. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v.19, n.2, p.239-245, 2015.

MAISSIAT, S.G. et al. Contexto de trabalho, prazer e sofrimento na atenção básica em saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 36, n. 2, p. 42-49, 2015.

MENDES, A.M.; FERREIRA, M.C. Contexto de trabalho. In: SIQUEIRA, M.M.M. Medidas do comportamento organizacional: ferramentas de diagnóstico e gestão. Porto Alegre: Artmed; 2008.

NASCIMENTO JUNIOR, J.M. et al. Os desafios encontrados pelo profissional de enfermagem durante a assistência prestada numa maternidade pública. EFDesports.com, Revista Digital. Buenos Aires, v. 19, n. 195, ago, 2014. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/10272. Acesso em: 16 mar 2016.

SILVA, F.D; CHERNICHARO, I.M; FERREIRA, M.A. Humanização e desumanização: a dialética expressa no discurso de docentes de enfermagem sobre o cuidado. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v.15, n.2, p.306-313, 2011.

WAGNER ,L.R. et al. Relações interpessoais no trabalho: percepção de técnicos e auxiliares de enfermagem. Cogitare Enfermagem, v.14, n.1, p.107-113, 2009.