ATUAÇÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NA REALIZAÇÃO DOS TESTES RÁPIDOS DE HIV E SÍFILIS NO PRÉ-NATAL

LUCÉLIA MALAQUIAS CORDEIRO

Co-autores: , MAYARA LUIZA FREITAS SILVA, ADRIANA LEITÃO SAMPAIO, QUITÉRIA VANESSA BRITO MAGALHÃES e CÍNTIA LIRA BORGES
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

Introdução

O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais estima em torno 734 mil pessoas vivendo com HIV/aids no Brasil no ano de 2014. Segundo a estimativa de prevalência de HIV em parturientes, o número esperado de gestantes com HIV no Brasil é de, aproximadamente, 12 mil casos por ano. A taxa de detecção de gestantes com HIV no país vem apresentando tendência de aumento estatisticamente significativa nos últimos dez anos; em 2004, a taxa observada foi de 2,0 casos para cada mil nascidos vivos, a qual passou para 2,5 em 2013, indicando um aumento de 25,0% (BRASIL, 2014). Em relação à sífilis, notificou-se no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) de 2005 a junho de 2014, um total de 100.790 casos de sífilis em gestantes. O Ministério da Saúde, ao instituir a Rede Cegonha por meio da portaria número 1459, de 24 de junho de 2011, modificada pela Portaria nº 2351, de 05 de outubro do mesmo ano, definiu esta rede de cuidados como a que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimentos saudáveis. Entre os exames financiados pelo Ministério da Saúde, descritos na portaria, encontra-se os testes rápidos de HIV e sífilis, objetivando ampliar o acesso da população ao teste rápido, e assim realizar o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno para redução da mortalidade materna e infantil por sífilis e/ou AIDS (BRASIL,2011). No ano seguinte, publicou-se a portaria nº 77 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre a oferta dos testes rápidos  de HIV, sífilis e hepatites virais pelas unidades da Atenção Básica no âmbito da atenção pré-natal. Dentro deste contexto, percebe-se a importância da realização dos testes rápidos para diminuir a transmissão vertical de HIV e/ou sífilis, ainda prevalentes no Brasil. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de uma equipe multiprofissional residente na realização dos testes rápidos de HIV e sífilis com gestantes durante o pré-natal.

Metodologia

Estudo descritivo, do tipo relato de experiência construído a partir da prática profissional vivenciada por uma equipe multiprofissional, a saber, enfermeira, psicóloga, assistente social e nutricionista, atuando como residentes em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde promovido pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Os relatos de experiência, diferentemente dos relatórios científicos, apresentam linguagem mais informal e caráter sintético a fim de proporcionar o enriquecimento da fundamentação teórica com a própria vivência profissional (SANTOS, 2008). Realizou-se o estudo em uma unidade básica de saúde do município de Canindé-CE, no período de janeiro de 2016 até o presente momento. A equipe de residentes percebeu a necessidade de um tempo maior com as gestantes para a realização do aconselhamento pré e pós-teste, que ultrapassava o tempo das consultas de pré-natal da enfermeira residente. Então, estabeleceu-se um encontro semanal para este fim, que contou com a participação da equipe de residentes e das gestantes acompanhadas no pré-natal da unidade básica. Cada encontro teve a participação de 12 gestantes. Antes da realização dos testes, realizava-se o aconselhamento de forma coletiva contando com a participação das residentes e das gestantes, discutindo-se todos os aspectos que têm relação com a sífilis e o HIV/AIDS. Este espaço também foi destinado a assuntos relevantes relacionados a gestação, tais como alimentação saudável, benefícios sociais, alterações fisiológicas, aspectos da saúde mental materno-infantil, entre outros. Após este momento, o teste era realizado pela enfermeira residente, de forma individualizada, em uma sala reservada. A enfermeira foi capacitada a partir de um curso promovido pelo Governo do Estado do Ceará. Conforme Portaria n° 29, de 17 de dezembro de 2013, a qual aprova o Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV em Adultos e Crianças, qualquer profissional pode realizar o teste rápido, desde que tenha sido capacitado pessoalmente ou à distância. O pós-teste era realizado em outra sala, também reservada e de forma individualizada, com a presença da enfermeira e da psicóloga residente. Nesse momento ocorria um diálogo acerca do resultado do teste.

Resultados e Discussão

Os testes rápidos são os testes cuja execução, leitura e interpretação do resultado são feitas em, no máximo, 30 minutos, sem a necessidade de estrutura laboratorial, e a leitura é realizada a olho nu (BRASIL, 2010). Assim, é bastante perceptível na prática profissional, o benefício do teste, na perspectiva do fácil acesso ao paciente a realização do exame e do resultado ser rapidamente apresentado ao paciente no mesmo encontro, diminuindo drasticamente a perda de um paciente que realizou um teste em laboratório e não foi buscar o resultado. Assim, o teste rápido permite que ocorra um rápido encaminhamento para a assistência médica e o início precoce do tratamento.  Realizaram-se os aconselhamentos no presente estudo, de modo multiprofissional, o que proporcionou um olhar integral e ampliado sobre as gestantes atendidas na unidade básica de saúde. Tal processo consolidou-se na unidade e serviu como ferramenta de estreitamento de vínculos entre as gestantes e a equipe de Saúde da Família, viabilizando maior oportunidade de adesão ao pré-natal e autocuidado. Esse modo de organização do serviço, reservando um tempo para troca de saberes e escuta, também se mostrou válido tendo em vista a necessidade de dispor-se de um tempo maior para o atendimento dessa população alvo, pois as alterações fisiológicas e emocionais da gestação, bem como vulnerabilidades sociais podem se fatores de interferência, causando prejuízos à saúde da mulher e do concepto.

Conclusão

Conclui-se que, tendo em vista a prevalência crescente de HIV e sífilis em gestantes, demonstrada nos estudos citados, fazem-se necessários esforços visando o enfrentamento da problemática, nas linhas de prevenção, diagnóstico e tratamento precoces. A organização de um espaço de educação e escuta para as gestantes da unidade básica de saúde, indo além da execução restrita dos testes, e o olhar integral oferecido pela equipe multiprofissional facilitaram o estreitamento do vínculo entre gestantes e equipe de saúde, necessário ao cuidado efetivo e promoção e prevenção da saúde dessa população.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. HIV: Estratégias para utilização de testes rápidos no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1459, de 24 de junho de 2011 modificada pela Portaria nº 2351, de 05 de outubro de 2011. Institui no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS a Rede Cegonha, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 77, de 12 de janeiro de 2012. Dispõe sobre a realização de testes rápidos, na Atenção Básica, para a detecção de HIV e sífilis, assim como testes rápidos para outros agravos, no âmbito da atenção pré-natal para gestantes e suas parcerias sexuais, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 29, de 17 de dezembro de 2013. Aprova o Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV em Adultos e Crianças e dá outras providências, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Aids - DST (Ano III, nº 1). Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 

SANTOS AR. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 7 ed. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2008.