PERFIL SOCIOECONÔMICO DE MULHERES COM HIV EM TERAPIA ANTIRRETROVIRAL

ELYS OLIVEIRA BEZERRA

Co-autores: , INGRID DA SILVA MENDONÇA, RAYANNE DA SILVA COSTA, LIA GUEDES BRAVO, ADRIANA KELLY ALMEIDA FERREIRA, GIZELLY CASTELO BRANCO BRITO, PRISCILA VASCONCELOS MONTEIRO e MARIA LÚCIA DUARTE PEREIRA
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

INTRODUÇÃO - A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e a aids constituem importante problema de saúde pública mundial.  Em 2014, ocorreram cerca de 2 milhões de novas infecções, 1,2 milhões de óbitos por doenças relacionadas à aids, com estimativa de 36.9 milhões de infectados, sendo considerado significativo o impacto da epidemia (UNAIDS, 2015). Ter HIV produz impacto na vida da maioria das pessoas, pelas sobrecargas física, emocional e financeira relacionadas à manutenção do tratamento e às preocupações derivadas do alto grau de estigma ainda associado à aids. Para as mulheres este impacto é bastante evidente, devido a uma combinação de fatores biológicos, sociais, culturais, legais e econômicos, que as tornam mais vulneráveis ao comprometimento da qualidade de vida e de seus direitos em proteção, promoção e manutenção da saúde. O enfrentamento da infecção entre as mulheres exige políticas específicas, que garantam condições para o exercício seguro de sua sexualidade e para a qualidade de vida. Para tanto, conhecer o perfil destas mulheres é imprescindível para subsidiar ações de promoção da saúde no contexto do HIV/aids. Assim, objetivou-se descrever o perfil socioeconômico de mulheres em terapia antirretroviral. METODOLOGIA - Pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, desenvolvida entre os meses de agosto e dezembro de 2014, no Serviço Ambulatorial Especializado (SAE) de hospital de referência em doenças infecciosas do estado do Ceará, na cidade de Fortaleza. Trata-se de um recorte do projeto intitulado "Representações sociais sobre a terapia antirretroviral e suas repercussões na adesão terapêutica de pessoas com HIV/aids", o qual obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (parecer Nº 630.908). A população do projeto compreendeu adultos com diagnóstico de HIV/aids acompanhados no SAE do referido hospital, em uso de terapia antirretroviral, a partir da qual obteve-se uma amostra representativa de 231 participantes, 100 mulheres e 131 homens. Os critérios gerais para inclusão na amostra do estudo em questão foram: ser do sexo feminino, ter idade superior a 18 anos, estar em acompanhamento ambulatorial no referido hospital, e em uso de terapia antirretroviral há no mínimo seis meses, sendo assim incluídas as 100 mulheres. As usuárias do serviço foram abordadas na sala de espera do SAE, encaminhadas a um consultório reservado e convidadas a participar da investigação. Para coleta dos dados, foi aplicado um formulário contendo questões sobre dados socioeconômicos, história e situação atual de saúde relacionada à infecção. Consultou-se o prontuário para complementação das informações clínicas relacionadas aos resultados de exames de carga viral e linfócitos T CD4+ do último ano. Os dados foram analisados mediante estatística descritiva, com auxílio do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS). RESULTADOS/DISCUSSÃO - Observou-se maioria de mulheres convivendo com o diagnóstico de HIV há no mínimo 10 anos (55%); na faixa etária de 30 a 49 anos (85%), autodeclaradas pardas (63%), com escolaridade até o ensino fundamental completo (57%); procedentes da macrorregião de saúde de Fortaleza (75%). Constataram-se muitas mulheres infectadas pelo HIV na idade produtiva e reprodutiva, o que tende a causar um grande ônus para as nações, devido ao impacto que a epidemia gera nos setores da saúde e economia (GASPAR et al., 2011; SILVA; MOURA; PEREIRA, 2013). A maioria de autodeclaradas pardas reafirma os dados epidemiológicos referentes às pessoas que vivem com HIV no Brasil. A baixa escolaridade entre as participantes, marcadas por analfabetas e pessoas com até o ensino fundamental completo, foi achado de diversos outros estudos (SILVA; MOURA; PEREIRA, 2013; FELIX; CEOLIM, 2012; GASPAR et al., 2011). A baixa escolaridade pode interferir na compreensão do tratamento devido às dificuldades na interpretação das informações prestadas pelos profissionais, assim como na conscientização sobre a enfermidade, dificultando o reconhecimento da importância de seguir corretamente as orientações terapêuticas (COSTA; ZAGO; MEDEIROS, 2009; PIERI; LAURENTI, 2012). No que se refere à crença religiosa, 75% das participantes declararam ter e praticar uma religião, havendo predomínio do catolicismo (60%). A prática religiosa apresenta importância no viver diário, enquanto suporte emocional e motivacional para pessoas com HIV prosseguirem seu tratamento, além de possibilitar ferramentas para lidarem com as adversidades de se viver com a doença (FELIX; CEOLIM, 2012; NEVES et al., 2010; COSTA; ZAGO; MEDEIROS, 2009). Com relação ao estado civil, apenas 36% possuíam companheiro, estando casadas ou em união estável, porém, 91% relataram residir com alguém, sendo 3,4 (±1,6) a média do número de pessoas na residência. Apenas 27% apontaram morar com outro portador do HIV, sendo este, na maioria das vezes, o companheiro (25%). No que se refere ao número de filhos, 81% afirmaram ser mãe, sendo a média de 2,1 filhos por mulher (±1,9). O suporte familiar apresenta-se como aspecto importante para a adaptação de mulheres à infecção. É na família que elas encontram afeto e o desejo para tratar-se, existindo uma cumplicidade na luta contra o mal que os afeta (COSTA; ZAGO; MEDEIROS, 2009). DURGANTE, BUDÓ E GUIDO (2015) encontraram que a maior fonte de apoio às mulheres pesquisadas foi o companheiro, o que nos faz refletir acerca da necessidade de estratégias para envolvimento do companheiro durante a assistência em saúde. Estudos trazem que a adesão aos antirretrovirais é estimulado pela vontade das mães de cuidarem dos filhos, os verem crescer e serem amparados (NEVES et al., 2010; COSTA; ZAGO; MEDEIROS, 2009; FELIX; CEOLIM, 2012). Outro fator fundamental para um melhor convívio com o HIV é o trabalho, onde são desenvolvidas e descobertas habilidades, e onde se adquire formação. Muitas participantes declararam não trabalhar (63%), no entanto, 81% afirmaram ter tido renda individual e 63% ter tido renda familiar no mês anterior à entrevista. As principais fontes de renda individual foram o trabalho autônomo ou contratado (35%), auxílio doença (20%) e bolsa família (13%). Observou-se renda individual de 1 salário mínimo (SM) para 59% das mulheres entrevistadas, e renda familiar de até 1 SM para 37% delas. Ao serem questionadas sobre dificuldades para comparecimento às consultas de acompanhamento clínico no hospital, 39% destacaram a dificuldade financeira e a dependência de transportes municipais disponibilizados pelas prefeituras ou do transporte coletivo (39%). Pessoas que vivem sem renda ou com renda menor que um salário mínimo, bem como desigualdade de inserção no mercado de trabalho entre homens e mulheres são fatores que contribuem para uma menor qualidade de vida feminina, visto que as mulheres são submetidas a empregos precários, mal remunerados, contribuindo com o aumento do número de mão de obra no mercado informal (GASPAR et al., 2011).  CONCLUSÃO - A atenção à saúde das mulheres deve considerar o perfil socioeconômico e comportamental das mesmas diante do tratamento, contemplando a individualidade para garantia da integralidade da assistência e da promoção da adesão terapêutica. Além disso, faz-se necessário buscar ações que envolvam a família neste processo para além do momento do diagnóstico, pois a família se mostra como apoio para adesão, estimulando a mulher a lutar pela vida ao acolher suas dificuldades. Percebe-se a necessidade de realização de atividades de educação em saúde que trabalhem as questões de gênero, percepções de risco, oportunidades de trabalho e criação de fonte de renda, tanto no serviço especializado, como na atenção básica, de modo a mostrar para as mulheres com HIV/aids suas potencialidades na sociedade.