A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida do recém-nato, após esse período é necessário suprir as carências nutricionais por meio de outras fontes, como alimentos ricos em ferro e vitaminas, que podem estar associadas ao leite materno ou não, embora este ainda seja a principal fonte de nutrientes (OMS, 2007). A preocupação com os efeitos deletérios do desmame precoce tanto para a criança como para a figura materna tem obtido atenção especial nas agendas de saúde coletiva brasileiras. Vários são os modelos explicativos para a relação amamentação/desmame, e o que se observa é que condicionantes sociodemográficos, reprodutivos e culturais podem estar relacionados ao abandono do aleitamento de forma precoce (OLIVEIRA, 2011). Assim, esta pesquisa torna-se de indubitável relevância devido o desmame precoce ser um grave problema que, indiretamente, acarreta outros de maior magnitude como problemas na saúde e no desenvolvimento infantil, bem como o aumento do risco da reincidência da gravidez, tendo em vista que o método contraceptivo natural da lactação com amenorreia não está ativo nas mães que desmamam prematuramente (BRASIL, 2013). Em face disso, o presente estudo tem por objetivo identificar os fatores limitantes e facilitadores do aleitamento materno entre puérperas do município de Parnaíba- PI. Trata-se de estudo de abordagem qualitativa realizado com nove puérperas localizadas por meio de informações contidas nos prontuários de duas maternidades de Parnaíba-PI. Os critérios de inclusão para participação da pesquisa foram: mulheres admitidas para resolução de uma gravidez nas maternidades participantes nos últimos seis meses, sendo que esta deveria obrigatoriamente ter resultado em feto vivo. Após identificação das puérperas nos prontuários, procedeu-se ao contato telefônico para posterior agendamento da entrevista em local reservado da residência das participantes. Foram aplicadas entrevistas individuais por intermédio de um questionário, as quais foram gravadas por um aparelho digital. Os dados foram analisados à luz da obra de Bardin (2009) e separados em duas categorias temáticas.Todas as participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e para as menores de 18 anos foi solicitada a assinatura do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). O projeto do qual este estudo faz parte foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e aprovado sob CAAE de número 30618214.6.0000.5209. A amostra total foi de nove mulheres, com faixa etária de 17 a 31 anos. Houve predominância de puérperas solteiras, com renda que variou de um a quatro salários mínimos, ensino médio completo e autodenominadas "do lar". Quanto ao aleitamento materno exclusivo (AMEX), apenas duas mulheres estavam em AMEX, uma vez que as crianças tinham menos de um mês. Verificou-se que a maior duração do aleitamento exclusivo foi de uma mãe que amamentou até quatro meses e 15 dias, e a menor duração foi de apenas um dia. Na categoria "Fatores que facilitam o Aleitamento Materno" verificou-se que o envolvimento familiar, especialmente do pai da criança, a compreensão da mulher acerca da temática, as orientações dadas pelos profissionais de saúde durante as consultas de puericultura e até mesmo a licença maternidade facilitam significativamente a manutenção do aleitamento. A participação dos pais deve ser fortalecida para que o AMEX seja bem sucedido, conforme evidenciado na seguinte fala: "Ele (marido) ficou mais carinhoso comigo e a bebê, e ele acha muito importante eu dar de mamar para o neném, por ele eu dava o peito toda hora". A presença do pai pode gerar influências positivas ou negativas, sendo necessário a sua inserção nas atividades educativas e de orientação dos programas de incentivo à amamentação (SILVA; SURITA, 2012). A compreensão das mulheres sobre amamentação influencia de forma direta a atitude das mesmas. Assim, pôde-se verificar que as mulheres compreendem a amamentação como uma forma de evitar doenças, conforme se observa no seguinte depoimento: "O leite da mãe mantém mais a saúde né, ele (bebê) fica mais saudável devido o leite, porque se fosse só o mingau ele não estaria tão saudável". A maioria das mães entrevistadas apontou que uma dieta especial para a nutriz é de fundamental importância para a produção do leite, como evidencia o relato a seguir: "Eu me alimentar direito é bom né, porque eu comendo coisa boa, faz bem também para o neném". Os resultados da presente pesquisa corroboram com estudo realizado com mães portuguesas, uma vez que há similaridade nos discursos verificados em ambos os estudos (BAIÃO; DESLANDES, 2006). Na categoria "Fatores limitantes do Aleitamento Materno" evidenciou-se que a falta de informação no pré-natal, o uso de mamadeira/chupeta, alterações patológicas na mama, a necessidade de realização de serviços domésticos, relacionamentos familiares comprometidos, o estado emocional da mãe e a introdução de outros alimentos à dieta do bebê foram referidos pelas mães como fatores que interferiram negativamente no AMEX. O uso de mamadeira foi observado no seguinte depoimento: "A mamadeira me ajuda muito, porque assim ele não fica chorando, porque o neném tem muito fome e ai tem que ter uma coisa que dê 'sustância'". A mamadeira está relacionada diretamente ao oferecimento de líquidos à criança, como chá, leite artificial e água. Enquanto esta é utilizada para a oferta de líquidos, a chupeta é introduzida para acalmar o bebê, função que também está atribuída ao chá (BUCCINI; BENÍCIO; VENANCIO, 2014). Constatou-se que fatores de ordem emocional como motivação, autoconfiança e tranquilidade são fundamentais para uma amamentação bem-sucedida. Tal pressuposto corrobora com a fala de uma das puérperas: "Quando eu tô com raiva, zangada diminui um pouco o leite". Tal fato se deve à estimulação adrenérgica que pode inibir a secreção de ocitocina e impedir a ejeção do leite (FERNANDES, 2012). Constatou-se que, embora a totalidade de mães pesquisadas reconheça a importância do aleitamento, isso não impediu o desmame antes dos seis meses. Isso se deve aos fatores limitantes da amamentação que, na maioria das vezes, superou os facilitadores e influenciou a inserção da alimentação complementar antes do período preconizado. Além disso, ficou evidente a necessidade de se ter uma equipe multiprofissional atuando na orientação às mães, visto que várias questões imprescindíveis ao sucesso da amamentação não foram absorvidas adequadamente durante o pré-natal e parto.BAIÃO, M.R; DESLANDES, S.F. Alimentação na gestação e puerpério. Ver. Nutr, V. 19 , n. 2, 2006.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.
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