ATIVIDADE DE PROMOÇÃO DE CULTURA DE PAZ COM ADOLESCENTES DE ESCOLA MUNICIPAL DE FORTALEZA/CE

INGRIDY DA SILVA MEDEIROS

Co-autores: , JULIANA CUNHA MAIA, ADRIELLE OLIVEIRA AZEVEDO, LUSIANA MOREIRA DE OLIVEIRA, LEONARDO ALEXANDRINO DA SILV e FABIANE DO AMARAL GUBERT
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

INTRODUÇÃO

A adolescência é classificada como uma etapa do ciclo de vida, a qual é influenciada por aspectos de âmbito cronológico, psicobiológico e sociocultural. Esses aspectos estão relacionados ao crescimento e desenvolvimento dos seres humanos, sendo os mesmos impactados também pelos contextos histórico, político e econômicos em que estão inseridos (MARQUES et al., 2012).

De acordo com o último Censo Demográfico, o Brasil possui aproximadamente 45 milhões de pessoas de 10 a 19 anos (IBGE, 2010). Por sua vez, a cidade de Fortaleza, conforme Censo Demográfico de 2010 possuía em torno de 718.613 indivíduos no grupo etário de 15 a 29 anos de idade, representando 29,3% da população da capital cearense e 28,8 do total do número de jovens do estado do Ceará (IBGE, 2011).

Em consonância, o Programa Saúde da Escola (PSE) propõe que ambiente escolar, compreendido como espaço de relações sociais, nessa fase da vida, torna-se crucial no desenvolvimento do pensamento crítico e político porque possui impacto na construção de valores pessoais, crenças, conceitos e formas de conhecer o mundo e interfere na produção social da saúde. Nessa perspectiva, as ações de educação em saúde voltadas para adolescentes, realizadas de forma articulada pelos diversos atores sociais e setores públicos, podem ser pensadas e implementadas na própria escola, inclusive pelo fato dos discentes passarem considerável parte de seu dia em suas instituições de ensino (BRASIL, 2011).

Antes de iniciar atividades de promoção da saúde com este público específico, a resposta de cada adolescente frente às situações de saúde/doença deve ser analisada com singularidade, visão de mundo e representações de autocuidado que sejam compreendidas e valorizadas por aqueles que traçam planos terapêuticos, ou seja, pelos profissionais de Enfermagem (RESSEL, 2011). Assim, o enfermeiro deve considerar a importância de conhecer o contexto social, histórico e cultural em que os indivíduos se encontram e lidar com a clientela jovem de modo a conhecer os fatores relacionados ao adolescer, ouvir as demandas e assim, traçar planos terapêuticos para cada indivíduo (MARQUES et al., 2012).

A definição sobre vulnerabilidade remete à ideia de fragilidade e de dependência, que se conecta a situação de crianças e adolescentes, principalmente os de menor nível socioeconômico. Devido à fragilidade e dependência dos mais velhos, esse público torna-se muito submisso ao ambiente físico e social em que se encontra. Em determinadas situações, o estado de vulnerabilidade pode afetar a saúde, mesmo na ausência de doença, mas com o abalo do estado psicológico, social ou mental das crianças e dos adolescentes (SIERRA, 2006). É considerada situação de vulnerabilidade um ambiente hostil e com incitação à violência, indo de encontro ao preconizado pela Organização Mundial da Saúde sobre definição de Saúde como o completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de enfermidade.

Este estudo objetiva relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem frente à educação em saúde através da promoção da cultura de paz com adolescentes estudantes da rede pública.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência. Este estudo foi realizado em maio de 2015 no município de Fortaleza/Ceará em uma Escola Municipal de tempo integral. Trata-se de um relato acerca de uma atividade de promoção da cultura de paz com duração de duas horas, com trinta e sete adolescentes do oitavo ano do ensino fundamental. Essa atividade ocorreu durante o período de estágios da disciplina Enfermagem No Processo De Cuidar Da Promoção Da Saúde Do Adolescente da faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Os aspectos éticos foram respeitados de acordo com a Resolução 466/12. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o encontro possibilitado pelo vínculo da universidade com a escola municipal, o grupo facilitador das atividades de educação em saúde composto por cinco acadêmicos iniciou se apresentando ao grupo de adolescentes e optou por trabalhar a temática de Cultura de Paz, uma vez que foi detectada falta de respeito mútuo na turma, demonstrada por comportamentos agressivos, verbalização de características de cunho preconceituoso quando se referiam aos colegas e queixas levantadas pela professora de Biologia da turma.

Inicialmente, como dinâmica "quebra-gelo" foi proposta da dinâmica de "desatar o nó humano" para que os alunos fossem sensibilizados sobre a ideia de interdependência social. Nessa atividade os alunos deveriam dar as mãos e formar um círculo. Em seguida, eles foram estimulados a memorizar quem estava segurando sua mão esquerda e direita. Após a memorização pediu-se para que os alunos soltassem as mãos e caminhassem de forma aleatória pela sala de aula até que fossem avisados a parar. Após o aviso, eles deveriam dar as mãos às mesmas pessoas do círculo inicial. Dessa forma, formou-se realmente um grande "nó de alunos" porque eles estavam em posições bem diferentes da inicial, além de distantes. O objetivo era que, sem soltar as mãos, eles desatassem o nó e voltassem a mesma formação inicial, o grande círculo. Os alunos se mostraram extremamente envolvidos com a atividade, demonstrando compreensão sobre o quanto um grupo funcional de pessoas pode superar grandes desafios desde que haja respeito, paciência e interação social.

Como segunda atividade foi realizada roda de conversa entre os acadêmicos de Enfermagem, a professora de Biologia da escola e os adolescentes. Durante a discussão, foi solicitado aos alunos que relatassem os riscos relacionados à prática de bullying, a importância de respeitar o próximo e os professores. A professora de biologia também fez participação durante a discussão focando no respeito discente/docente. Os alunos demonstraram interesse pela temática. Tiveram participação ativa, contribuindo com exemplos vivenciados por eles mesmos na escola, citando como se sentiam quando eram alvo de práticas agressivas e como alguns se sentiam ao praticá-las. Esse momento foi relevante, pois notamos formação de vínculo entre acadêmicos/alunos/professora e interesse sobre a temática.

A terceira atividade consistiu na elaboração de cartazes sobre as expressões "com licença, obrigado, por favor e desculpe". Para tal prática, os alunos foram dividimos em pequenos grupos para que num papel madeira escrevessem e decorassem as palavras com figuras, desenhos, imagens e situações cotidianas, as quais cada expressão se aplicaria. Percebemos interação positiva durante a confecção dos cartazes. Os alunos fizeram uso das revistas e pincéis oferecidos. Durante a atividade, os acadêmicos deram suporte a cada equipe no tocante à distribuição de tarefas e o que se esperava de cada grupo, bem como resolução de dúvidas. Em comparação com a resposta dos adolescentes na primeira dinâmica e neste terceira, foi possível perceber que estes estavam mais calmos, menos agitados e mais participativos, uma vez que foram incentivados a se empenharem em uma atividade e tiveram suporte para realização desta.

Como atividade final do dia, realizou-se discussão sobre a percepção dos alunos frente às ações realizadas. Os jovens afirmavam que a atividade tinha sido "produtiva, interessante, importante" e afirmaram que gostariam que esta temática fosse trabalhada com mais frequência, uma vez que tanto no ambiente escolar quanto domiciliar, práticas hostis eram evidenciadas. 

CONCLUSÃO

Considerando o que é determinado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e proposta do Programa Saúde da Escola, concerne como responsabilidade do profissional de enfermagem investigar sobre as demandas do público adolescente e fornecer a estes atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde. Partido do pressuposto da OMS, saúde inclui boas condições de desenvolvimento psicológico, com diminuição dos riscos e vulnerabilidade. Atividades de promoção da cultura de paz são fundamentais para garantir um ambiente com mais aceitação, menos bullying e menos violência, uma vez que a prática de condutas gentis melhoram a convivência de um grupo heterogêneo de adolescentes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instrutivo PSE. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília : Ministério da Saúde, 2011.

IBGE. Nosso povo: Características da População. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: < http://7a12.ibge.gov.br/pt/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/caracteristicas-da-populacao>. Acesso em: 14 jun. 2015.

MARQUES, J. F. et al. Saúde e cuidado na percepção de estudantes adolescentes: contribuições para a prática de enfermagem. Cogitare Enfermagem, v. 17, n.1, p. 37-43, jan./mar. 2012.

RESSEL, L. B. et al. A vivência de acadêmicos de enfermagem como oficineiros em grupos de adolescentes. Rev. min. enferm., v. 12, n. 2, p. 290-295. 2011.

SIERRA, V. M.; MESQUITA, W. A. Vulnerabilidades e fatores de risco na vida de crianças e adolescentes. São Paulo em Perspec., v.20. p. 148-55. 2006