Introdução
A não adesão ao tratamento da hipertensão arterial é conceituada como o comportamento da pessoa que deixa de coincidir com um plano de promoção da saúde ou terapêutico acordado entre ela e o profissional de saúde. É um fenômeno complexo estruturado pelas dimensões pessoa, doença tratamento, serviço de saúde e ambiente sistemicamente organizado. Trata-se de um desafio à assistência de enfermagem que poderá enfrentado a partir da estruturação dessas dimensões em saberes práticos nos quais os profissionais possam vislumbrar focos para suas ações. Assim, situamos as definições operacionais como uma ferramenta teórica que poderá dar significado prático às definições conceituais a partir de uma taxonomia de enfermagem.
Objetivo
Validar o conteúdo das definições operacionais do construto "não adesão ao tratamento da hipertensão arterial".
Método
Estudo metodológico de validação de conteúdo. Foi realizada uma revisão integrativa que demonstrou quatro dimensões da não adesão: dimensão pessoa, doença/tratamento, serviço de saúde e ambiente. Foram elaboradas 36 definições operacionais sendo treze da dimensão pessoa, dez da dimensão doença/tratamento, sete da dimensão serviço de saúde e seis da dimensão ambiente. As definições foram avaliadas por um painel de 17 especialistas na temática. Foi calculado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) de cada definição operacional, e realizado o teste binomial. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UECE (nº 11517971-2).
Resultados
Foram elaboradas 36 definições operacionais elaboradas, 13 da dimensão pessoa, 10 da dimensão doença tratamento, sete da dimensão serviço de saúde e seis da dimensão ambiente. Baseado nos índices de validação obtidos para as definições operacionais da dimensão Pessoa, constatou-se que sete obtiveram escores excelentes ≥ 0,78; cinco tiveram IVC considerados bons (IVC entre 0.60 e 0,78) e necessitaram de revisão e de nova avaliação por especialista; uma foi eliminada. No que tange às definições operacionais da dimensão doença tratamento, houve sete validadas com IVC ≥ 0,78 (p>0,05); três necessitaram de revisão e de nova avaliação de conteúdo. Na dimensão Serviço de Saúde cinco definições operacionais obtiveram excelentes IVC (≥0,78; p<0,005) e duas foram reavaliadas. Já nas definições operacionais da dimensão ambiente, a maioria delas obteve IVC insatisfatórios, abaixo de 0,60, culminando com a exclusão de quatro definições. Nesta dimensão apenas duas definições foram validadas. A aquisição de um corpo de 19 definições operacionais validadas a partir de uma compreensão multidimensional da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial permitem novos horizontes no entendimento e na abordagem terapêutica. Considerando os estudos em terminologias e a prática de enfermagem, temos nestas definições operacionais importantes fontes de conhecimento para o embasamento das ações clínicas de enfermagem a partir de uma linguagem de especialidade que constitui a base para a organização dos saberes próprios da profissão. A fundamentação de uma linguagem cientifica na enfermagem, é um laborioso campo de enfrentamento de conceitos, entre o que é e o que não é enfermagem, em termos epistemológicos, que norteia os espaços para ações de cuidado nos seus aspectos individuais e comunitários.
Conclusão
Foram validadas 19 definições operacionais com excelente IVC, 12 sofreram adequações e cinco foram excluídas. Vislumbrar a formulação das definições operacionais e sua validação de conteúdo é contribuir com a construção de um sistema de taxonomias de enfermagem. Esse processo, enquanto um evento específico da enfermagem contribui para o fortalecimento de uma epistemologia da prática a partir da consolidação de atributos de conceitos que vislumbram em última instância a demarcação da ciência de Enfermagem.