CONHECIMENTO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UMA UNIDADE DE DIÁLISE SOBRE O TRATAMENTO HEMODIALÍTICO: SUBSÍDIOS PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE
Letícia Lima Aguiar[1], Maria Vilani Cavalcante Guedes[2], Ilse Maria Tigre de Arruda Leitão[3], Roberta Meneses Oliveira[4], Ariane Alves Barros[5].
RESUMO
O trabalho teve como objetivo verificar os conhecimentos da equipe de enfermagem de uma unidade de diálise quanto à segurança nos cuidados de enfermagem ao paciente em tratamento hemodialítico. Trouxe os seguintes resultados, os enfermeiros mostraram ter bom conhecimento sobre os procedimentos relacionados ao tratamento dialítico, enquanto os profissionais de nível médio mostraram conhecimento fragmentado sobre o funcionamento da máquina, especificamente, e o processo de filtração do sangue, uma das principais funções do tratamento hemodialítico. Demonstraram, por outro lado, que sabem conduzir a máquina, mas não entendem o porquê de cada ação. Já os enfermeiros, além de especificarem como se dá o processo de tratamento e utilização da máquina de diálise, destacaram aspectos da diálise que são relevantes para a garantia da segurança do paciente.
INTRODUÇÃO
No Brasil a Enfermagem como ciência recebeu forte incentivo de Wanda de Aguiar Horta, ao desenvolver estudos que contribuíram para a enfermagem como ciência e a arte de cuidar do ser humano, no atendimento de suas necessidades humanas básicas e de torná-lo independente desta assistência. Como autora da "Teoria das Necessidades Humanas Básicas" ela afirma que o ser-humano tem necessidades básicas que precisam ser atendidas para seu completo bem-estar (HORTA, 2011). A necessidade de segurança é a segunda na pirâmide, vem logo acima das necessidades fisiológicas, ou seja, a segurança só pode ser atendida após o atendimento das necessidades fisiológicas. No entanto, quando se trata de segurança do paciente em instituições de saúde esta necessidade deve ser atendida antes mesmo das necessidades fisiológicas. A Organização Mundial de Saúde define segurança do paciente como sendo a redução do risco de danos associados à assistência em saúde (WHO, 2010). Dessa forma, se não existir preocupação da enfermagem quanto à segurança do ser-humano e se não houver o equilíbrio de todas as necessidades, ocorre o adoecimento do ser. O cuidado clínico da enfermagem exige capacitação dos profissionais. As doenças crônicas não transmissíveis por sua longa duração causam nos pacientes prolongados períodos de internação em instituições hospitalares, isso pode ser um fator adicional para um maior risco na ocorrência de eventos adversos. Dessa forma, é função da enfermagem se capacitar para que esses pacientes debilitados ou que estão sujeitos a procedimentos invasivos, tenham segurança durante o seu tratamento. A Insuficiência Renal Crônica (IRC) é uma complicação decorrente das doenças crônicas não transmissíveis, como o Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica. Neste estudo estudamos a IRC em paciente com Diabetes. A doença renal crônica é um sério problema de saúde pública. Dados do Censo de 2012 da Sociedade Brasileira de Nefrologia apontam que no Brasil existiam 91.314 pacientes em tratamento dialítico, sendo 90% em hemodiálise (SBN, 2012). Os pacientes que realizam hemodiálise estão vulneráveis a inúmeros episódios que podem colocar sua saúde em risco, pois são pacientes dependentes da máquina de hemodiálise para o resto da vida. A alta especialidade do tratamento hemodialítico torna ainda mais importante a capacitação da equipe de enfermagem para cuidar desses pacientes. É comum que ocorram intercorrências durante as sessões, que podem ser simples, graves ou fatais. Dessa forma surge a pergunta que norteou o estudo: Quais os conhecimentos da equipe de enfermagem de uma unidade de diálise quanto à segurança nos cuidados de enfermagem ao paciente em tratamento hemodialítico. Esta pesquisa se justifica pelo fato de que o enfermeiro frente a este cenário deve intervir de maneira que minimize os riscos de insegurança do paciente, detectando precocemente intercorrências, para garantir a segurança do paciente em tratamento de hemodiálise. O processo de trabalho da Enfermagem em hemodiálise exige agilidade e conhecimento na execução das tarefas, ou seja, capacitação. A necessidade de realizar cuidados com rapidez de forma correta, somadas à complexidade técnica caracterizam a dinâmica da enfermagem no serviço de hemodiálise (PRESTES et al., 2011). O trabalho da equipe de enfermagem em hemodiálise requer fundamentação científica e boas técnicas, considerando toda a mecanização envolvida neste tratamento e os riscos para profissionais e pacientes. Desse modo, tem sido preocupação frequente nas unidades de hemodiálise a garantia da segurança do paciente, o que requerendo conhecimento dos profissionais envolvidos no cuidado sobre cuidados de enfermagem e tratamento hemodialítico. O estudo trará benefícios para a prática dos profissionais que trabalham com nefropatas em hemodiálise, pois despertará o olhar crítico tanto dos próprios profissionais no sentido de melhorar suas práticas e conhecimento, como para a gerência destas unidades, pois atentará para a necessidade de uma maior capacitação desta equipe, para que assim se tenha mais segurança durante as sessões.
OBJETIVO
Verificar os conhecimentos da equipe de enfermagem de uma unidade de diálise quanto à segurança nos cuidados de enfermagem ao paciente em tratamento hemodialítico.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo descritivo e transversal. Este tipo de pesquisa visa descrever as características de determinada população ou o estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 2008). O estudo foi realizado em uma unidade de referência para pacientes renais agudos, da rede pública da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará localizado em Fortaleza-CE. A pesquisa foi realizada nos meses de agosto a outubro de 2013. A pesquisa envolveu a equipe de enfermagem que presta cuidados a pacientes portadores de Insuficiência Renal em Terapia Hemodialítica. A população foi formada por todos profissionais de enfermagem que trabalham realizando ações e cuidados a pacientes no serviço de hemodiálise. Os requisitos para inclusão dos participantes no estudo foram: ser membro da equipe de enfermagem; trabalhar na unidade há pelo menos um ano; no horário de 7 as 19 horas. Foram excluídos profissionais que se encontravam de férias, ou afastados para quaisquer fins e aqueles que trabalhavam na unidade só no período da noite, por questões de segurança da pesquisadora. Aplicando-se os critérios de inclusão e exclusão, restaram 25 profissionais de enfermagem, sendo 18 técnicos de enfermagem e 7 enfermeiros especialistas em Nefrologia. Coletou-se dados por meio de entrevista semiestruturada e observação sistemática. Os dados provenientes das entrevistas foram transcritas e tratados por meio da Análise de Conteúdo Temática. Antes de iniciar a coleta dos dados foi feito o teste piloto dos instrumentos com profissionais de enfermagem que tem experiência em hemodiálise, mas não fazem parte da amostra do estudo, com vistas a avaliar clareza, adequação e fidedignidade. Inicialmente o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará para apreciação, no qual o parecer do CEP é 376.199 e após sua aprovação foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do hospital cenário da pesquisa e aguardou recomendação para iniciar a coleta dos dados. Durante a coleta de dados, foram observadas as diretrizes e os critérios éticos de pesquisa junto a seres humanos, de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que prioriza os seguintes princípios bioéticos: liberdade para participar ou não do estudo e até mesmo desistir durante a coleta de dados, garantia de sigilo de identidade do pesquisado e esclarecimentos sobre a pesquisa em qualquer etapa de sua realização.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi questionado o que as enfermeiras e as técnicas de enfermagem sabiam sobre os cuidados de enfermagem e o tratamento hemodialítico. Os enfermeiros mostraram conhecimento, especificando como se dá o processo de tratamento e utilização da máquina de diálise, destacaram aspectos da diálise que são relevantes como o processo de desinfecção da máquina de diálise, cuidado com a solução de bicarbonato e com outras soluções por meio de controle microbiológico, como fazer a troca do sistema, os critérios de reuso de dispositivos de hemodiálise, como o capilar, como reduzir riscos de erros e medida de controle e prevenção de infecção. Por outro lado os profissionais de nível médio mostraram conhecimento fragmentado sobre o funcionamento da máquina, descreveram o processo de filtração do sangue, como uma das principais funções do tratamento hemodialítico. Sabe-se que o tratamento da hemodiálise ocorre por um acesso venoso permanente ou temporário, que permite um fluxo sanguíneo elevado. O sangue é transportado por meio de linhas de circulação extracorpórea para o capilar, que é um filtro composto por membranas semipermeáveis. O sangue é depurado e depois devolvido para o corpo. (MARIOTTI, 2009). Além disso os técnicos de enfermagem sabem bem conduzir a máquina quando necessita deslocá-la. Quanto às diversas ações realizadas durante uma sessão de hemodiálise eles apresentam déficit de conhecimento. O cuidado em hemodiálise requer de toda a equipe de saúde que dá suporte a esses pacientes um programa de educação permanente para acompanhar o conhecimento científico produzido e a tecnologia colocada à disposição dos profissionais envolvidos. Diante dessa realidade o enfermeiro deve propiciar formas de desenvolver a educação permanente para a equipe de enfermagem, incluindo a insuficiência renal, hemodiálise, medidas de biossegurança e o manuseio correto de materiais e equipamentos (SANTANA et al., 2012). O processo de hemodiálise é um conjunto de ações que prevê conhecimento específico, habilidade técnica, vigilância constante e intervenção imediata nas intercorrências (PRESTES et al., 2011). Logo, diante dessa necessidade de conhecimento específico da equipe de enfermagem, o treinamento nos serviços de diálise torna-se fundamental para otimizar uma assistência de enfermagem de qualidade, que de acordo com Santana et al. (2012) contribuirá para minimizar possíveis complicações e oferecer segurança para o paciente durante o tratamento.
CONCLUSÃO
Diante dos resultados nota-se que o enfermeiro deve capacitar a equipe de enfermagem, abordando temas como a insuficiência renal, hemodiálise, medidas de biossegurança e o manuseio correto de materiais e equipamentos. Tais medidas favorecem a redução de riscos relacionados a procedimentos inadequados com a máquina, pois entendendo todos os dispositivos de funcionamento e finalidades do tratamento hemodialítico, o cuidado prestado pelo técnico de enfermagem será mais seguro e de qualidade. Além do que a gerência de enfermagem frente a estes resultados deveria disponibilizar educação permanente como forma de manter capacitada toda a equipe, para que estes possam organizar seu cuidado e proporcionar melhorias no cuidado clínico ao paciente em hemodiálise, contribuindo para os enfermeiros ficarem mais atentos à segurança destes pacientes durante as sessões.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução 466/2012. Normas para pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
HORTA, W. A. Processo de enfermagem. São Paulo: Guanabara Koogan, 2011.
MARIOTTI, M. C. Qualidade de vida na hemodiálise: impacto de um Programa de Terapia Ocupacional. 2009. 80 f. (Tese de Doutorado) - Departamento de Setor de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.
PRESTES, F, C. et al. A. Percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre a dinâmica do trabalho e os pacientes em um serviço de hemodiálise. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 25-32, jan-mar., 2011.
SANTANA, J. C. B. et al. Assistência de enfermagem em um serviço de terapia renal substitutiva: implicações no processo do cuidar. Enf Rev. v. 15, n. 2, p. 161-178, 2012.
SBN. Sociedade Brasileira De Nefrologia (Org.). Censo de diálise SBN 2012. Disponível em: < http://www.sbn.org.br/pdf/publico2012.pdf >. Acesso em: 29 setembro. 2013.
WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Alliance for Patient Safety Forward Programme 2008-2009. World Health Organization: Geneva (Swi); 2010.
[1] Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) E-mail: leticiaaguiar1991@hotmail.com
[2] Enfermeira, Professora do Curso de Graduação em Enfermagem e do PPCCLIS da UECE E-mail: vilani.guedes@uece.br
[3] Enfermeira, Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UECE e Doutoranda do Programa em saúde coletiva associação ampla- UECE, UFC, UNIFOR. E-mail: ilsetigre@hotmail.com
[4] Enfermeira, Professora Substituta do Curso de Graduação em Enfermagem da UECE e Doutoranda do PPCCLIS da UECE E-mail: menesesroberta@yahoo.com.br
[5] Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) E-mail: arianealvesbarros@hotmail.com