RESUMO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é considerada um problema de saúde pública tanto por apresentar alta prevalência como também por ser um fator de risco para diversas outras doenças. Para minimizar essas complicações as pessoas hipertensas precisam seguir o tratamento recomendado incluindo mudanças no estilo de vida. Objetiva-se com o estudo verificar os cuidados praticados por pessoas hipertensas para a prevenção de complicações da doença. Estudo transversal e descritivo realizado nos Centros de Saúde da Família situados na área da Secretária Executiva Regional IV do Município de Fortaleza-CE. Coletou-se dados por meio de entrevista estruturada com 112 usuários inscritos no Programa de Controle da Hipertensão Arterial no período de agosto de 2012 a janeiro de 2013. Os dados foram organizados evidenciando que 60 (53,8%) das pessoas hipertensas acompanhadas nos postos de saúde seguem as orientações oferecidas pelos profissionais de saúde durante suas consultas, pois praticam atividade física, seguem a dieta e procuram manter uma vida saudável. Conclui-se identificando que as pessoas tem conhecimentos sobre a importância de mudanças no estilo de vida para o controle da doença, embora algumas dessas pessoas não mantenham sempre as recomendações dos profissionais.
INTRODUÇÃO
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é considerada um problema de saúde pública tanto por sua elevada prevalência e por ser também um fator de risco para diversas outras doenças, principalmente para as doenças cardiovasculares, que são as principais causas de mortalidade em todo o mundo, inclusive em grupos populacionais de condições socioeconômicas desfavoráveis. Em 2000, aproximadamente 26% da população adulta em todo o mundo já apresentava HAS e essa proporção deverá aumentar para 29% até o ano de 2025, se não forem realizadas medidas de intervenção. O aumento da prevalência é esperado principalmente nos países em desenvolvimento. (MARTINS, 2009)
A HAS é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais.
Tendo em vista esse cenário, questiona-se, se as pessoas hipertensas estão devidamente alertadas sobre a influência de hábitos e estilos de vida inadequados na gênese de complicações da doença e o que elas praticam das orientações recebidas nas consultas para evita-las. Evitar ou eliminar hábitos e estilos de vida inadequados são medidas imprescindíveis do tratamento não medicamentoso, e o primeiro passo é utilizar os conhecimentos que possuem sobre o assunto na realização práticas que possam mudar o seu estilo de vida, evitando assim as complicações que possam surgir devido a doença. Nesse contexto, o enfermeiro tem papel fundamental no sentido de caracterizar hábitos e estilos de vida dessas pessoas, para obtenção de dados reais e concretos para o planejamento de uma assistência de enfermagem individualizada visando o controle efetivo da doença. Com isso torna-se relevante esse estudo, pois o mesmo aborda exatamente os cuidados que os hipertensos realizam.
OBJETIVO
Verificar os cuidados praticados por pessoas hipertensas para a prevenção de complicações da doença.
METODOLOGIA
Estudo transversal de caráter exploratório e descritivo realizado nos Centros de Saúde da Família situados na área da Secretária Executiva Regional IV do Município de Fortaleza-CE. A população foi formada por todos pacientes adultos portadores de Hipertensão Arterial que fazem tratamento para a doença nos centros de saúde e que atendam aos seguintes critérios de inclusão: pessoas com diagnóstico de Hipertensão Arterial confirmado por médico há no mínimo seis meses, em tratamento, idade > 18 anos, ambos os sexos, consciente, em condições de participar da coleta de dados, verbalizando suas necessidades e não autorreferir outra doença crônica, ter comparecido a maioria das consultas de enfermagem marcadas. Foram excluídas pessoas que não apresentavam condições clínicas para participar da coleta de dados. Os dados foram coletados por meio de entrevista estruturada com 112 usuários inscritos no Programa de Controle da Hipertensão Arterial e do Diabetes Mellitus no período de agosto de 2012 a janeiro de 2013. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, Parecer Nº 12278. Os participantes foram informados sobre o estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados coletados com 112 pessoas hipertensas com idade variando de 21 a 87 anos. A maior parte dos pacientes referiram ter iniciado o tratamento da doença logo após ter recebido o diagnóstico médico e o tempo de tratamento variou de 6 meses a 32 anos, com a média de 8,4 anos. Encontrou-se que apenas 33 pacientes tiveram complicações em decorrência da Hipertensão arterial sendo 6 (5,4%) Acidente Vascular Encefálico, 7 (6,3%) Infarto Agudo do Miocárdio e 12 (10,7%) com pico hipertensivo. No que se refere a internação, 28 (25,0%) pessoas foram internados e encontrou-se casos de hospitalização por forte precordialgia sugestiva de infarto agudo do miocárdio 7 (25,0%), sintomatologia de acidente vascular encefálico 8 (28,6%), falta de ar 6 (21,0%) e por pico hipertensivo 7 (25,0%). A pressão arterial foi medida com os esfignomanômetros dos centros de saúde e por isso 11 (10%) das pessoas hipertensas não tiveram suas pressões mensuradas por falta de esfignomanômetro de tamanho adequado à circunferência de seus braços. Das pessoas hipertensas pesquisados 20 (17,9%) apresentaram pressão de 120 x 80 mmHg, ou seja, considerada ótima; 57 (50,9%) praticam alguma atividade física, 43 (38,4%) não praticam nenhuma atividade e 12 (10,7%) não responderam este item. Os hipertensos praticam como atividade física, principalmente a caminhada, os exercícios aeróbicos, o futebol, a hidroginástica e a ginástica promovida pelos bombeiros para os idosos, em média fazem esses exercícios de 2 vezes na semana a todos os dias, mas boa parte pratica somente o mínimo possível recomendado pelos profissionais que os acompanham, ou seja, 3 vezes na semana. Já os que não praticam atividades físicas se justificam alegando falta de tempo, problemas particulares, dores nos membros inferiores, osteoporose e cansaço. Quanto à alimentação, 90 (80,4%) pacientes disseram ter recebido orientações sobre a alimentação saudável. As orientações sobre a importância de uma alimentação saudável foram oferecidas por médicos 48 (42,9%), por enfermeiros 46 (41,0%)e por outros profissionais 6 (7,0%). Dentre os hipertensos, 66 (58,9%) seguem em parte o que é recomendado pelos profissionais da saúde, restringindo-se do excesso de sal, açúcar, gorduras e carne vermelha, 20 (17,9%) dizem seguir uma alimentação normal, tendo uma dieta balanceada, mas falam também que muitas vezes não conseguem se controlar diante de algumas situações, como aniversários, confraternizações de fim de ano e também porque trabalham fora e não têm controle do que comem nas refeições principais, pois comem o que o patrão fornece e 24 (21,4%) não conseguem seguir nenhum tipo de dieta, comendo todo tipo de alimentação. Hábitos saudáveis de vida devem ser adotados desde a infância e a adolescência, respeitando-se as características regionais, culturais, sociais e econômicas dos indivíduos. As principais recomendações não medicamentosas para prevenção primaria da HAS são: alimentação saudável, consumo controlado de sódio e de álcool, ingestão de potássio e combate ao sedentarismo e ao tabagismo (DBH, 2010). Boa parte dos pacientes afirmou que receberam orientações sobre mudança de estilo de vida. Buscar medidas para mudanças no estilo de vida e adoção de hábitos mais saudáveis devem ser sustentáveis a longos períodos, buscando sempre a inclusão de todos os grupos de alimentos, o profissional de saúde deve buscar dar a orientação de acordo com as condições socioeconômicas da clientela, voltando o tratamento para a realidade da referida população. Pelos discursos das pessoas foi possível identificar que a maioria delas realizam cuidados preventivos em casa orientados pelos enfermeiros, dentre eles destacam o cuidado com uma alimentação saudável, tomar a medicação no horário correto, a importância da prática do exercício físico e evitar situações de estresse e raiva. O enfermeiro tem papel importante em fazer com que a família participe ativamente no tratamento daquele familiar hipertenso, pois o tratamento não é somente medicamento, mas também necessita de mudança de hábitos e muitas vezes a família é responsável pela alimentação e cuidado daquela pessoa adoecida.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos percebe-se que um pouco mais da metade dos pacientes acompanhados nos postos de saúde seguem as orientações recebidas pelos profissionais de saúde durante suas consultas, realizando uma prática regular de atividade física e a adoção de um padrão alimentar adequado influenciando beneficamente no tratamento anti-hipertensivo e consequente controle dos níveis de pressão arterial. Foi possível identificar conhecimentos sobre a importância de mudanças no estilo de vida para o controle da doença, mas observou que alguns desses pacientes não realizam, em seus hábitos de vida, medidas suficientes para alcançar o controle da pressão arterial. Por isso conhecer o estilo de vida das pessoas hipertensas, saber suas rotinas e hábitos são de extrema importância para prestar uma assistência individualizada e propor uma intervenção em saúde, levando em consideração as necessidades e as peculiaridades desses hipertensos.
Por isso, é importante que o profissional enfermeiro oriente os pacientes hipertensos, para controle de suas doenças e possíveis complicações, pois assim ajuda na adesão do paciente no tratamento e na sua manutenção. Deve-se destacar que a precoce identificação, a assistência oferecida e o acompanhamento adequado aos portadores de hipertensão e o estabelecimento do vínculo com as unidades básicas de saúde, são essenciais para o sucesso do controle desses agravos, prevenindo as complicações, reduzindo o número de internações hospitalares e a mortalidade por doenças cardiovasculares. Acredita-se que ações educativas contribuam para mudanças de conduta de forma voluntária, favorecendo o estado de saúde.
REFERÊNCIAS
DIRETRIZES Brasileiras de Hipertensão VI. Rev. Bras. Hipertens. 2010; 17(1): 1-64.
MARTINS, S.A.S et al. Hipertensão Arterial e Estilo de Vida em Sinop, Município da Amazônia Legal. Martins e cols - hipertensão arterial e estilo de vida, São Paulo, out, 2009.
ROSARIO, T. M et al. Prevalência, controle e tratamento da hipertensão arterial sistêmica em Nobres - MT. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 93, n. 6, dez. 2009 .
SERAFIM, T.S; JESUS, E.S; PIERIN, A.M.G. Influência do conhecimento sobre o estilo de vida saudável no controle de pessoas hipertensas. Acta Paul Enferm, São Paulo, v.23, n.5, p. 658-64, jun, 2010