ACESSO E CORRESPONSABILIZAÇÃO NO CUIDADO AOS USUÁRIOS DE CRACK: SABERES E PRÁTICAS DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM
INTRODUÇÃO
O uso abusivo da substância psicoativa Crack no Brasil, tem se configurado nos últimos anos como um grave problema social e de saúde. O aumento do consumo e do número de usuários tem levado a agravos decorrentes da dependência desta substância, havendo maior procura pelos serviços de tratamento. Os cuidados às pessoas com problemas relacionados às drogas, no entanto, ainda estão pautados em modelos tradicionais, punitivos e segregadores que dificultam o acesso humanizado aos serviços de saúde. Compreende-se a existência de um déficit no acesso universal ao SUS por parte desta população usuária de drogas, devido ao despreparo das equipes de saúde, especialmente no Centro de Saúde da Família (CSF) e no acolhimento das demandas destes usuários no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (CAPS-ad).
OBJETIVO
Analisar a corresponsabilização do cuidado e o acesso dos usuários de crack às redes de atenção em saúde na perspectiva do profissional de Enfermagem.
METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa com abordagem qualitativa, realizada num Centro de Saúde da Família (CSF) e num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizados na Secretaria Executiva Regional V no Município de Fortaleza, Ceará, Nordeste do Brasil. Os participantes do estudo foram constituídos por dois profissionais de Enfermagem do CAPS-ad e dois do CSF, que faziam parte da equipe de Apoio Matricial (AM) e da equipe de referência, respectivamente. Para coleta das informações, foi elaborado um roteiro com questões sobre a experiência com o atendimento a demandas de usuários de substancias psicoativas, especificamente o Crack, as dificuldades e possibilidades que visualizam com a prática, tendo como foco a assistência integral do usuário do serviço. A seguir, os profissionais foram abordados no próprio local em que prestavam o atendimento de saúde, respondendo a entrevistas semiestruturadas e participando das observações sistemáticas das práticas. Para organização das informações, seguiram-se três etapas, estabelecidas por Minayo (2008), retraduzidas por Assis e Jorge (2010): ordenação, classificação e análise final dos dados, que inclui classificação das falas dos entrevistados, componentes das categorias empíricas, sínteses horizontal e vertical, e confronto entre as informações, agrupando as ideias convergentes, divergentes e complementares. Esta análise faz parte de uma pesquisa mais ampla denominada "A atenção clínica na produção do cuidado aos usuários de crack - assistência à saúde e redes sociais de apoio", com financiamento do CNPq/MS. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), com parecer: 10724251-6.
RESULTADOS
Observa-se que os serviços do CAPS-ad oferecem aos usuários de crack acesso ao tratamento/acompanhamento por demanda espontânea, sendo o profissional de Enfermagem o principal responsável por esse processo. É fato que alguns usuários advêm de encaminhamentos do CSF, de hospitais psiquiátricos, hospitais gerais, por meio de ordem judicial, o que é um aspecto importante, já que mostra que os trabalhadores de outros serviços estão identificando usuários de substâncias psicoativas nos territórios e estão reconhecendo o CAPS-ad como uma possibilidade de cuidado a estes sujeitos. Tal achado não caracteriza, entretanto, que haja articulação entre as redes de cuidado, visto que não há trabalhos conjuntos entre as equipes. Identifica-se que os outros locais de cuidado realizam encaminhamentos para o CAPS-ad como tentativa de "desafogamento" de seus serviços, ou como resultado de sentimento de incapacidade de seus trabalhadores em relação ao cuidado com o usuário de droga, quando o que deveria existir era um coresponsabilização pelo cuidado em saúde. A precária formação dos profissionais de Enfermagem na área de álcool, crack e outras drogas é outro aspecto que dificulta intervenções mais eficazes.
CONCLUSÃO
Diante disso, emerge a necessidade da existência de cursos que capacitem os profissionais de Enfermagem (e demais trabalhadores de saúde) para prática de saúde mental e para atenção aos usuários de substâncias psicoativas, promovendo resolubilidade da atenção aos usuários de crack, ampliando o acesso e desconstruindo o modelo de clínica tradicional.
REFERÊNCIAS
MINAYO, M. C. S. O. Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. (11ª Ed.). São Paulo: Hucitec, 2008. ASSIS, M. A. A. e JORGE, M.S.B. Métodos de análise em pesquisa qualitativa. In: Santana, J.S.S.S., e Nascimento, M.A.A. Pesquisa: métodos e técnicas de conhecimento da realidade social. (1ª Ed.). (pp. 139-159). Feira de Santana: UEFS Editora, 2010.