GESTÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS DA PRÁTICA DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM
INTRODUÇÃO
O trabalho do enfermeiro na área da Saúde Mental tem por essência a característica intersubjetiva e de intervenção singular de um sujeito sobre outro, o que, por si, traz o caráter de complexidade no tocante aos saberes e práticas envolvidos. O presente estudo traz a compreensão de gestão do cuidado como correspondente ao processo de trabalho em saúde, no tocante a forma como esse cuidado se desenvolve e se organiza, na busca por uma atenção integral, percebendo as variações resultantes dos diferentes contextos histórico-sociais e em cada novo atendimento.
OBJETIVO
Analisar a gestão do cuidado em saúde mental a partir da perspectiva dos profissionais de Enfermagem.
METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa com abordagem qualitativa, realizada num Centro de Saúde da Família (CSF) e num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizados na Secretaria Executiva Regional IV (SER IV) no Município de Fortaleza, Ceará, Nordeste do Brasil. Os participantes do estudo foram constituídos por dois profissionais de Enfermagem do CAPS e três do CSF, que faziam parte da equipe de Apoio Matricial (AM) e da equipe de referência, respectivamente. Para coleta das informações, foi elaborado um roteiro com questões sobre a experiência com o AM em saúde mental, as dificuldades e possibilidades que visualizam com a prática, tendo como foco a assistência integral do usuário do serviço. A seguir, os profissionais foram abordados no próprio local em que prestavam o atendimento de saúde, respondendo a entrevistas semiestruturadas e participando das observações sistemáticas das práticas. Para organização das informações, seguiram-se três etapas, estabelecidas por Minayo (2008), retraduzidas por Assis e Jorge (2010): ordenação, classificação e análise final dos dados, que inclui classificação das falas dos entrevistados, componentes das categorias empíricas, sínteses horizontal e vertical, e confronto entre as informações, agrupando as ideias convergentes, divergentes e complementares. Esta análise faz parte de uma pesquisa mais ampla denominada "Gestão do Cuidado e Atenção Clínica em Saúde e Enfermagem no Cotidiano da Estratégia Saúde da Família e Centros de Atenção Psicossocial", com financiamento do CNPq/MS. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, com parecer: 122.324.
RESULTADOS
O trabalho em saúde mental é permeado por uma complexa gama de princípios e diretrizes que norteiam a atuação enfermeiro no âmbito da produção do cuidado, emergindo, nessa seara, a postura ativa que o individuo deve assumir nesse processo, seja como cuidador, ou como usuário do serviço de saúde; ambos necessitam assumir uma postura de sujeito no processo de cuidado que vise a uma ação integral e resolutiva. Para isso, os discursos dos enfermeiros assinalam o desafio de haver aproximação do profissional com os usuários em seu território, pois é lá onde as demandas surgem e os projetos terapêuticos se efetivam. Sobre os processos de trabalho, os profissionais de Enfermagem indicam que as dificuldades de comunicação entre os membros da equipe de saúde torna a atenção fragilizada, na medida em que fragmenta os saberes e enrijece as práticas. Aponta-se a valorização da autonomia do usuário e das ações pedagógicas como potencializadores importantes da promoção de práticas integrais de saúde mental, observando-se, ainda, que se não se efetivar um diálogo próximo entre os diferentes níveis de atenção, haverá um fazer em saúde multifacetado, com oferta de serviços de modo fragmentado e ações que não se interpenetram, comprometendo, assim, a resolubilidade do projeto terapêutico.
CONCLUSÃO
Trata-se, portanto, de expandir a visão do trabalho do enfermeiro na saúde mental, ampliando a compreensão das potencialidades da clínica ampliada, percebendo que ela pode ir além das reais necessidades apresentadas, desde que se fortaleça o diálogo entre diferentes categorias profissionais. Ganha relevo, nessa prática, a adoção de posturas de compromisso ético e de valorização de atividades realizadas no território do usuário, aproximando as práticas de cuidado ao seu cotidiano e tornando-o corresponsável pelo seu tratamento. É norteado por esses princípios, que o trabalhador de saúde pode estruturar uma prática de cuidado resolutiva.
REFERÊNCIAS
MINAYO, M. C. S. O. Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. (11ª Ed.). São Paulo: Hucitec, 2008.
ASSIS, M. A. A. e JORGE, M.S.B. Métodos de análise em pesquisa qualitativa. In: Santana, J.S.S.S., e Nascimento, M.A.A. Pesquisa: métodos e técnicas de conhecimento da realidade social. (1ª Ed.). (pp. 139-159). Feira de Santana: UEFS Editora, 2010.